Uma nova promessa para o saneamento básico de Belo Horizonte e a resolução de um velho problema para a Região Nordeste da cidade. A Prefeitura de BH assinará, nos próximos dias, contrato que garante repasse de R$ 159,3 milhões para intervenções no Córrego Cachoeirinha. O manancial corre pela Avenida Bernardo de Vasconcelos e atormenta, pelas constantes inundações durante o período de chuvas, os estabelecimentos às margens da via que cruza os bairros Ipiranga, Cachoeirinha, Palmares e Renascença. Dentro do Programa Saneamento para Todos, financiado pela Caixa Econômica Federal, serão R$ 146,8 milhões para a duplicação do canal de drenagem do curso d'água (que terá 1,1 quilômetro de extensão) e R$ 12,5 milhões para a gestão de resíduos da construção civil em toda a cidade.
As intervenções no Córrego Cachoeirinha estão diretamente ligadas a outros dois mananciais da Região Nordeste: os ribeirões do Onça e Pampulha. As águas do Cachoeirinha se somam às do Pampulha que levam um grande volume até o curso d'água principal – o Onça. O encontro ocorre na altura da Estação São Gabriel do metrô da capital mineira e traz o caos à Avenida Cristiano Machado, uma das principais da cidade.
Para resolver a questão por completo, os dois ribeirões próximos ao Cachoeirinha também estão no cronograma da prefeitura. No Onça, licitação aberta já permite a operários trabalharem no local. Com investimento de R$ 35,9 milhões, o Executivo municipal está construindo outro canal (exatamente a mesma obra do córrego da Bernardo de Vasconcelos, conhecida como parede de diafragma) para aumentar a capacidade de vazão. O equipamento terá 286 metros de extensão, entre a Avenida Risoleta Neves e a Estação São Gabriel, e será instalado em paralelo à calha atual do manancial.
Além disso, a prefeitura prevê a ampliação do canal do Ribeirão Pampulha, que vai das imediações da Estação São Gabriel até o cruzamento da Cristiano Machado com a Avenida Sebastião de Brito, no Bairro Dona Clara (Região da Pampulha). O trajeto atinge cerca de 1,3 quilômetro.
As soluções para o saneamento básico da Região Nordeste ainda incluem intervenções no Córrego Suzana, que também é contribuinte da bacia do Onça, e a construção do Parque Linear do Onça. Esta última estrutura vai remover residências de uma mancha de inundação entre a cachoeira no Ribeirão do Onça e a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Copasa. O parque poderá ser um dos maiores de BH, com extensão aproximada de 5,5 quilômetros, passando por diversos bairros da cidade.
Enquanto as soluções não chegam, quem garante o ganha-pão na Avenida Bernardo de Vasconcelos já se acostumou a contabilizar prejuízos em época de tempestade. Há quase 20 anos com um brechó na região, Tânia Maria da Penha, de 54 anos, enfrenta problema em dobro: na loja e em casa, também na via que liga as avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado. “Já houve várias enchentes em que a água chegou a 80 centímetros dentro da minha casa. Teve uma em que perdi tudo: colchão, geladeira e outras coisas. As perdas materiais foram muitas, tanto na loja quanto na minha residência”, relata.
Os danos diminuíram depois que a população adotou contenções improvisadas para se proteger das inundações. São placas de ferro vedadas de fora a fora com borracha. Quando a chuva aperta, os comerciantes correm para parafusar os equipamentos, que impedem a invasão das águas do Córrego Cachoeirinha. “Nos últimos anos, teve as enchentes, mas os prejuízos foram amenizados pela precaução que a gente tomou”, conta Tânia. Ela também instalou uma chapa de metal em sua casa para reforçar o portão, que não aguenta a força da inundação. Sacos de areia seca despejados nos ralos e nas pias são outra alternativa, já que essas improvisações servem como canais do Cachoeirinha quando a precipitação aumenta.
Vanderlei Pereira, de 52, trabalha e mora em um ferro-velho na Bernardo Vasconcelos. Assim como Tânia, o catador adota medidas emergenciais para diminuir os danos causados pelas águas. “É um prejuízo violento para mim e para a patroa. A prefeitura não faz nada. Quando começa a chover, já pego minhas coisas e coloco em locais mais altos. A roupa, por exemplo, não adianta lavar ou colocar de molho em sabão em pó: o barro simplesmente não sai”, lamenta.
De acordo com Vanderlei, que mora há quatro anos no endereço, o último período chuvoso arrancou o portão do ferro-velho e parte do passeio. Vistoria da Defesa Civil esteve no local, mas o prejuízo ficou para a proprietária. “Todo ano é a mesma coisa. O tempo fecha, a gente já fica com medo. A nossa balança, que é nosso principal meio de trabalho, sempre estraga. A água entra e temos que mandar consertar. O prejuízo fica por volta de R$ 800”, afirma.
Morador da região há mais de 60 anos, Walter Lourenço de Jesus, de 76, trabalha com carreto de caminhão. “Há um erro de projeto no encontro do canal da avenida (Bernardo de Vasconcelos) com a Cristiano Machado. Virou um gargalo, porque o volume que desce de água dos dois lados afunila e não encontra passagem. Então, a água vem represando e causa esses transtornos”, comenta. O idoso também duvida que as intervenções da prefeitura resolverão o problema: “Não resolve porque vai coletar ainda mais água (com a duplicação do canal) e o gargalo lá em baixo vai continuar. Se não resolver na Cristiano Machado primeiro (Ribeirão do Onça, que já tem obras em andamento), não adianta”.
A situação crítica enfrentada pelos moradores ao redor da Avenida Bernardo de Vasconcelos se espalha por Belo Horizonte. Atualmente, a prefeitura trabalha para executar obras nos córregos dos Pintos (Avenida Francisco Sá), Leitão (Avenida Prudente de Morais), Nado (Venda Nova) e São Francisco/Assis das Chagas (Pampulha). A Região do Barreiro é a que mais reúne esforços, que se voltam aos mananciais do Bairro das Indústrias, Bonsucesso, Túnel/Camarões, Olaria e Jatobá.
As intervenções no Córrego Cachoeirinha estão diretamente ligadas a outros dois mananciais da Região Nordeste: os ribeirões do Onça e Pampulha. As águas do Cachoeirinha se somam às do Pampulha que levam um grande volume até o curso d'água principal – o Onça. O encontro ocorre na altura da Estação São Gabriel do metrô da capital mineira e traz o caos à Avenida Cristiano Machado, uma das principais da cidade.
Para resolver a questão por completo, os dois ribeirões próximos ao Cachoeirinha também estão no cronograma da prefeitura. No Onça, licitação aberta já permite a operários trabalharem no local. Com investimento de R$ 35,9 milhões, o Executivo municipal está construindo outro canal (exatamente a mesma obra do córrego da Bernardo de Vasconcelos, conhecida como parede de diafragma) para aumentar a capacidade de vazão. O equipamento terá 286 metros de extensão, entre a Avenida Risoleta Neves e a Estação São Gabriel, e será instalado em paralelo à calha atual do manancial.
Além disso, a prefeitura prevê a ampliação do canal do Ribeirão Pampulha, que vai das imediações da Estação São Gabriel até o cruzamento da Cristiano Machado com a Avenida Sebastião de Brito, no Bairro Dona Clara (Região da Pampulha). O trajeto atinge cerca de 1,3 quilômetro.
As soluções para o saneamento básico da Região Nordeste ainda incluem intervenções no Córrego Suzana, que também é contribuinte da bacia do Onça, e a construção do Parque Linear do Onça. Esta última estrutura vai remover residências de uma mancha de inundação entre a cachoeira no Ribeirão do Onça e a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Copasa. O parque poderá ser um dos maiores de BH, com extensão aproximada de 5,5 quilômetros, passando por diversos bairros da cidade.
Vivências do drama
Enquanto as soluções não chegam, quem garante o ganha-pão na Avenida Bernardo de Vasconcelos já se acostumou a contabilizar prejuízos em época de tempestade. Há quase 20 anos com um brechó na região, Tânia Maria da Penha, de 54 anos, enfrenta problema em dobro: na loja e em casa, também na via que liga as avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado. “Já houve várias enchentes em que a água chegou a 80 centímetros dentro da minha casa. Teve uma em que perdi tudo: colchão, geladeira e outras coisas. As perdas materiais foram muitas, tanto na loja quanto na minha residência”, relata.
Os danos diminuíram depois que a população adotou contenções improvisadas para se proteger das inundações. São placas de ferro vedadas de fora a fora com borracha. Quando a chuva aperta, os comerciantes correm para parafusar os equipamentos, que impedem a invasão das águas do Córrego Cachoeirinha. “Nos últimos anos, teve as enchentes, mas os prejuízos foram amenizados pela precaução que a gente tomou”, conta Tânia. Ela também instalou uma chapa de metal em sua casa para reforçar o portão, que não aguenta a força da inundação. Sacos de areia seca despejados nos ralos e nas pias são outra alternativa, já que essas improvisações servem como canais do Cachoeirinha quando a precipitação aumenta.
Vanderlei Pereira, de 52, trabalha e mora em um ferro-velho na Bernardo Vasconcelos. Assim como Tânia, o catador adota medidas emergenciais para diminuir os danos causados pelas águas. “É um prejuízo violento para mim e para a patroa. A prefeitura não faz nada. Quando começa a chover, já pego minhas coisas e coloco em locais mais altos. A roupa, por exemplo, não adianta lavar ou colocar de molho em sabão em pó: o barro simplesmente não sai”, lamenta.
De acordo com Vanderlei, que mora há quatro anos no endereço, o último período chuvoso arrancou o portão do ferro-velho e parte do passeio. Vistoria da Defesa Civil esteve no local, mas o prejuízo ficou para a proprietária. “Todo ano é a mesma coisa. O tempo fecha, a gente já fica com medo. A nossa balança, que é nosso principal meio de trabalho, sempre estraga. A água entra e temos que mandar consertar. O prejuízo fica por volta de R$ 800”, afirma.
Morador da região há mais de 60 anos, Walter Lourenço de Jesus, de 76, trabalha com carreto de caminhão. “Há um erro de projeto no encontro do canal da avenida (Bernardo de Vasconcelos) com a Cristiano Machado. Virou um gargalo, porque o volume que desce de água dos dois lados afunila e não encontra passagem. Então, a água vem represando e causa esses transtornos”, comenta. O idoso também duvida que as intervenções da prefeitura resolverão o problema: “Não resolve porque vai coletar ainda mais água (com a duplicação do canal) e o gargalo lá em baixo vai continuar. Se não resolver na Cristiano Machado primeiro (Ribeirão do Onça, que já tem obras em andamento), não adianta”.
Outras obras
A situação crítica enfrentada pelos moradores ao redor da Avenida Bernardo de Vasconcelos se espalha por Belo Horizonte. Atualmente, a prefeitura trabalha para executar obras nos córregos dos Pintos (Avenida Francisco Sá), Leitão (Avenida Prudente de Morais), Nado (Venda Nova) e São Francisco/Assis das Chagas (Pampulha). A Região do Barreiro é a que mais reúne esforços, que se voltam aos mananciais do Bairro das Indústrias, Bonsucesso, Túnel/Camarões, Olaria e Jatobá.
Em Venda Nova, os estudos para tirar as obras na Avenida Vilarinho do papel continuam. Segundo a prefeitura, os levantamentos hidrológicos estão concluídos e, agora, a equipe técnica se concentra no desenvolvimento de pesquisas hidráulicas. O investimento previsto chega a R$ 300 milhões e o dinheiro pretende zerar as vidas perdidas nas enchentes – em 15 de novembro do ano passado, quatro pessoas morreram em uma inundação da principal avenida da região.