A chegada do frio com força total depois de um início de inverno ameno surpreendeu habitantes de várias regiões do país e disparou o alarme sobre a situação daquela parcela mais vulnerável da população: as pessoas que vivem nas ruas. Em São Paulo, a onda de baixas temperaturas provocou a morte de um andarilho, cujo corpo foi encontrado após a madrugada gelada do fim de semana na região de Itaquera, na Zona Leste da capital. Foi o terceiro caso fatal entre desabrigados em 24 horas na capital paulista desde a sexta-feira. Em Belo Horizonte, onde há mais de 8 mil inscritos no cadastro único do governo federal na condição de moradores de rua, o frio castiga pessoas de todas as idades, que enfrentaram ontem mínima de 7,2°C na cidade. Apesar do tempo gelado, a marca ficou acima do recorde de domingo, com 5,7°C, a menor desde 1979 na capital mineira, com sensação térmica de -8°C.
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Pesquisa da Prefeitura de BH mostra que o maior motivo para pessoas passarem a viver nas ruas são problemas com familiares (56%), passando pelo desemprego (38%), perda de moradia (22%) e alcoolismo (19%). Segundo os últimos dados disponíveis, 82% dessa população vulnerável estava desempregada e apenas 18% tinha ocupação formal ou informal.
A partir dessa constatação, ela e mais 14 pessoas passaram a sair em noites de inverno para presentar pessoas necessitadas com roupas e cobertores. “Este ano vamos conseguir atender de 80 a 100 pessoas. No ano passado foram 250 cobertas distribuídas. Mas, tenho percebido que mais gente tem entrado nesse tipo de campanha”, contou Kênia. Porém, ela chama a atenção para a grande quantidade de doações que mais parecem descarte, constituídas por peças que são impossíveis de ser reutilizadas. “Chegam roupas que não estão mais em estado de uso. Estão completamente rasgadas, puídas, sem a mínima condição”, conta ela, que contabiliza em cerca de 25% o total de doações descartadas por essa razão.
Em uma das maiores inciativas de arrecadação de agasalhos do estado, feita pelo Serviço Social Autônomo Servas, o descarte de doações gira em torno de 30%, por falta de condições de uso. A campanha #CalorHumano está em sua quinta edição, com a meta de recolher roupas, cobertores e acessórios de inverno, em bom estado, para agasalhar pessoas em situação de vulnerabilidade social e que têm menos condições de se aquecer no frio. Com o total de 29 pontos de coleta espalhados por Belo Horizonte, o material recolhido passa por uma triagem, que organiza a quantidade e tipos de peças, que serão distribuídas posteriormente. Após 39 dias de campanha, já foram triadas cerca de 4,5 mil peças em bom estado.
Frio persiste pelo menos até amanhã
Pelo menos até a quarta-feira está mantida a previsão de geada no Sul de Minas. Na capital, as temperaturas continuam baixas no mesmo período, mas sem previsão de cair abaixo do recorde dos últimos 40 anos, de 5,7°C registrados na madrugada de domingo. Em Belo Horizonte considerando apenas os meses de julho, não fazia tanto frio desde 1975, quando os termômetros marcaram mínima de 5,4°C na cidade, de acordo com o Inmet.