Jornal Estado de Minas

Virada Cultural traz geladeira de livros a BH. Programação completa será lançada hoje


Geladeiras velhas ganham um novo traje e se tornam bibliotecas ao ar livre na cidade. O projeto, que consiste em transformar o eletrodoméstico em desuso em dispositivo de leitura, já está por todas as partes do Brasil e chega também à capital mineira. A ideia é encher a geladeira de livros e deixar à disposição para a troca e o incentivo à leitura. Nove 'gelotecas' serão grafitadas para compor a programação da Virada Cultural de Belo Horizonte, que ocorrerá durante 24 horas em 20 e 21 de julho, com uma ocupação artística e cultural no Hipercentro. E, por falar nisso, acabou a ansiedade: hoje a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) apresentará a programação completa do esperado evento. Uma intervenção gráfica de 86 metros quadrados nos tapumes das obras em prédio na Praça Sete marcará a data de divulgação das 400 atrações gratuitas.

Não se sabe muito bem de onde surgiu a ideia de usar geladeiras como suporte para livros. Mas alguns dizem que a poetisa Cora Coralina – considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras – guardou seus livros na geladeira para salvá-los de uma forte chuva. Sem confirmação de tal fato, a constatação é que a moda pegou.
Em várias cidades do Brasil é possível encontrar uma geloteca. Entretanto, essa modalidade até então é pouco vista na capital mineira. A ideia de a trazê-la para cá foi da produtora cultural Patrícia Faria, de 49 anos, e a médica-veterinária Nara Moura, de 35. “Conheci o conceito por meio de um projeto em São Paulo. Um grafiteiro, conhecido como Todyone, teve a ideia de grafitar e colocar uma geladeira dentro de uma favela como um dispositivo de leitura. O projeto foi crescendo e o conheci no Instagram. Achei incrível.
Entramos em contato e resolvemos fazer aqui em BH”, contou Patrícia, que, então, decidiu reproduzir a ideia.

Para começar, as buscas pelos eletrodomésticos que não eram mais utilizados para armazenar os alimentos. “Na procura por geladeiras, entramos em contato com a empresa MG Recicla (que atua na área da logística reversa, através da reciclagem de componentes eletroeletrônicos) que logo nos apoiou e doou 11 geladeiras. Duas delas foram feitas na semana passada”, explicou. Elas foram colocadas na Escola Balão Vermelho, que fica no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul da capital, e na sede da Casa de Referência da Mulher Tina Martins, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste.

“Levei a ideia para a escola dos meus filhos e todos adoraram e se prontificaram a decorar e trazer livros, revistas, gibis e almanaques para preenchê-la. O artista de São Paulo veio para BH para pintar junto com as crianças. Logo vamos doá-la para a Associação da Vila Acaba Mundo”, explicou. E, como o objetivo é aproximar o objeto da realidade do lugar onde está inserida, um garoto negro, segurando um balão, foi estampado. A outra geladeira branca deu espaço a Margarida Maria Alves, sindicalista e defensora dos direitos humanos brasileiros, para homenagear as mulheres em um local que acolhe vítimas de violência.

E o número de gelotecas nas ruas vai aumentar.
No domingo da Virada Cultural, a partir das 11h, nove geladeiras estarão no Viaduto Santa Tereza, no Centro de BH, para ganhar cor e muitos livros. “Para a Virada, vamos ter grafiteiros e grafiteiras para enfeitar as geladeiras. Já estão confirmadas as presenças de Todyone e Maria Raquel, responsável por enfeitar muros por todas as partes da cidade com bolinhos. “Depois de prontas, elas serão doadas. Mas ainda estamos decidindo os destinos. Queremos levar uma para cada regional”, acrescentou.

A intervenção precisará contar com a ajuda do belo-horizontino com doações, já que em cada geladeira podem caber cerca de 100 livros. “Leve o seu livro para doar ou trocar. E é legal levar um exemplar em bom estado. Doe uma obra que você leu e de que gostou muito. Leve livro de poesia, conto, infantil, didático, revistas, gibis, autoajuda...Tudo.
Queremos uma diversidade de gêneros literários para todas as idades”, completou.

ATRAÇÕES Acaba a ansiedade. A programação completa será revelada em evento no Centro de Belo Horizonte, hoje, por meio de uma intervenção artística na Praça Sete. Algumas já são conhecidas. O rapper belo-horizontino Djonga foi uma atração confirmada na Virada Cultural. Ele começou sua carreira na rua, participando de saraus de poesia e se tornou autor de suas próprias letras. A apresentação será no dia 21. Ladrão é o atual trabalho do artista, com temas que o acompanham desde o primeiro disco, como a posição antirracista, a forte crítica social, a religiosidade e a paternidade. Também está confirmada a presença de Daniela Mercury, que desembarca na Virada no dia 20, comandando o palco da Praça da Estação, no Centro.

Além das atrações musicais, está confirmado o “Viradão”: feijão-tropeiro, mexidão, carpaccio de jiló, acarajé ou nuggets de cogumelos. Trata-se de um circuito gastronômico no coração de Belo Horizonte com a participação de 30 estabelecimentos e sugestão de pratos com valor máximo de R$ 20. A curadoria fica por conta de Daniel Neto, mais conhecido como o Nenel do Baixa Gastronomia, que há 10 anos divulga a culinária popular.
 

Serviço


MG Recicla
» Para doações de geladeiras em desuso
» Telefone: (31) 97104-7254

» Pontos de doações de livro
» Escola Balão Vermelho (R.
Prof. Djalma Guimarães, 140, Mangabeiras)
» Lavanderia 5 a Sec Unidade Lourdes (Rua Espírito Santo, 2.488)
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