Jornal Estado de Minas

Ipês-roxos e rosas dão o tom do inverno em BH, que já espera a chegada dos amarelos


A chegada do inverno costuma anunciar horizontes mais belos na capital mineira. Os meses de baixa temperatura (junho a setembro) coincidem com o período de floração dos ipês, que embelezam a cidade e se transformam em atração. Já no final da florada da primeira leva da espécie, nas cores roxa e rosa, há o temor de que a exuberância seja menor nas próximas etapas devido ao fato de a previsão de temperatura – apesar dos últimos dias de frio intenso – ser acima da média para o período, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). “Espera-se que a temperatura varie de normal a acima da média”, disse Anete Fernandes, lembrando que a média histórica de mínima é 15°C graus para Belo Horizonte.





As espécies do gênero Tabebuia e Handroanthus florescem no auge das baixas temperaturas. Na capital, estão plantadas nove espécies, que totalizam 27 mil árvores nas ruas e avenidas conforme apontou o inventário  elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). Quanto mais frio, mais flores. “Depende do clima. A florada aparece com mais vigor em tempos mais frios”, afirma o diretor de gestão ambiental da (SMMA), Afonso Fraga. A mesma percepção tem o engenheiro e fotógrafo Júlio Toledo, que faz registro das árvores há 14 anos. “Acredito que este ano a floração seja meio tímida. Vai ser menos expressiva do que o ano passado. Mas na natureza ninguém manda”, afirma.

Mesmo para quem vive na capital mineira, a beleza das flores costuma surpreender. Quem vem visitar a cidade se encanta com a profusão das cores. A floração ocorre a partir de junho, no final do outono, e segue até o final do inverno em setembro, quando começa a primavera. Primeiro, aparecem as flores dos ipês rosa e roxo, que já colorem a capital. Em agosto, será a vez do ipê-amarelo. A cor que prevalece é o rosa, com quase 10 mil árvores. O mais raro e difícil de encontrar é o ipê verde, com apenas 20 em toda a cidade. Como são bem parecidos, o ipê-roxo e o rosa podem confundir os observadores.

Júlio Toledo começou a fotografar os ipês em 2005, apaixonou-se pela espécie e criou o projeto BH Cidade Jardim, que faz um inventário dos ipês. O fotógrafo notou que, em muitos pontos da cidade, as árvores compõem com o patrimônio histórico, formando o que a Unesco define como paisagem cultural. “Reparei que, ao lado dos ipês, havia prédios importantes”, diz. Um exemplo dessa junção entre arquitetura e paisagismo pode ser observada no Circuito Liberdade. Um belo contraste se forma com os ipês e o prédio projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012). “Com o passar dos anos, os ipês ganharam mais visibilidade. Quem antes não percebia, agora se encanta. A floração faz parte da espera do inverno”, afirma Júlio.





Além da floração, que deixa a cidade mais bonita, a queda de folhas e flores também muda a paisagem. As calçadas ficam cobertas pelas flores, que formam tapete colorido nas vias públicas. O professor de botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Pires de Lemos Filho lembra que a maior parte das espécies tem floração precedida da queda das folhas.

A sequência é a queda das folhas, floração e a brotação de novas folhas. “Todo mundo pode observar essa sequência fenológica”, diz o professor, que defende que os ipês foram boa opção para arborização de centros urbanos. “Os ipês são bonitos e as sementes não são pesadas. Não causam dano caso venham a cair nas pessoas e em automóveis. Não vão causar nem dano físico nem de patrimônio”, diz.

O professor lembra que o que pode compensar a floração é o fato de, este ano, o volume de chuva ter sido grande na capital mineira. “Este ano choveu bem. Com mais disponibilidade de água, podemos ter quantidade maior de flores”, pondera lembrando que não há estudos científicos que comprovem essa correlação.