Um casamento parou a Av. Olegário Maciel, em BH, nesta quinta. Selma, 42, e João, 38, %u201Cpais%u201D da cachorrinha Lilica, são moradores de rua. Eles celebraram a união ao som de %u201CÉ o Amor%u201D, de Zezé di Camargo e Luciano, entoada por pedestres e convidados. Vídeo: Márcia Maria Cruz/EM pic.twitter.com/1S8XyseoDV
%u2014 Estado de Minas (@em_com) 11 de julho de 2019
O casal de moradores de rua Selma Zenilda Maria de Jesus, de 42 anos, e João Ramalho de Souza, de 38, que disse 'sim' em cerimônia que parou a Avenida Olegário Maciel na manhã de ontem, foi presenteado com festa e lua de mel. No entanto, os dois agradeceram a gentileza da oferta das núpcias, mas não puderam aceitar. A recusa tem motivo nobre. Não querem deixar sozinha a cachorrinha de estimação. “Eles ganharam a lua de mel de um hotel, mas não quiseram, porque não teriam onde deixar a Lilica”, informou Fátima Gomes Pereira, supervisora de serviço especializado em abordagem social. Com vestidinho branco, Lilica foi a dama de honra do casamento.
Com a mudança do status de relacionamento de Selma e João, os assistentes sociais esperam que o casal possa também encontrar um teto. O coordenador do Creas, Sérgio Riani, explica que o objetivo da ação é promover a saída deles das ruas de forma não compulsória. A equipe que faz a abordagem a moradores de rua já ofereceu a possibilidade de irem para um abrigo, mas, até então, a opção de Selma e João era seguir vivendo nas ruas. “Agora que terão uma vida a dois, quem sabe não aceitam a oferta de ir para um abrigo de família”, diz Fátima.
A cerimônia foi realizada embaixo de frondosa árvore na Avenida Olegário Maciel, às 12h. Dezenas de pessoas pararam para assistir ao tão esperado momento do “sim”. Ao som do clássico É o amor, Selma e João disseram que querem ficar juntos seja na riqueza ou na pobreza. Sem-teto, eles se conheceram em Itaúna, na Região Centro-Oeste de Minas, apaixonaram-se e resolveram se mudar para Belo Horizonte há dois anos. Apesar da dureza de viver ao relento, o afeto entre eles cresceu como a flor de lótus desabrocha em terreno pantanoso. Veio o gostar, o querer bem e, então, Selma avaliou que era o momento de darem um passo adiante na relação.
Os comerciantes da região se juntaram para fazer a cerimônia, que parou a Avenida Olegário Maciel, na Região Centro-Sul da capital, na manhã de ontem. João estava ansioso à espera da amada, que, como manda a tradição, se atrasou alguns minutos. A avenida se transformou na nave da igreja por onde a noiva seguiu acompanhada até encontrar o companheiro. De branco, com véu, maquiagem impecável e buquê nas mãos, Selma se emocionou com o momento. "Ele gosta de mim e eu gosto muito dele", afirmou.
João repetiu diversas vezes que a amava e, com ela, quer viver por toda a vida. Não faltaram padrinhos para dar fé do momento de amor entre o casal, que de posses tem o aconchego um do outro. Para a festa não faltou nada. Bolo de noiva, salgados e até espumante. Também teve chuva de arroz e Selma jogou o buquê. Os convidados presentearam os noivos e deixaram os votos em caderno que registrou a presença de todos.
O casamento não tem valor legal, mas para os noivos nem é preciso ir ao cartório. A celebração, que representou a realização de um sonho de ambos, foi conduzida por arte-educadores, que cuidaram do rito e também da música. “A arte transforma nosso meio. Deixa leve a realidade dura. Muita gente poderia nem dar a devida atenção a Selma e João, que, como qualquer outra pessoa, têm sonhos. Tanto para eles quanto para nós foi momento único e especial”, afirmou o arte-educador Felipe Marçal Anunciação.