Jornal Estado de Minas

'LA CASA DE PAPEL'

Quadrilha do 'Novo Cangaço', alvo de operação em Uberlândia, era comandada por detentos



Quinze dias depois que o ataque de uma quadrilha altamente organizada terminou com enfrentamento, perseguições e tiroteios nas ruas e a prisão de 10, de pelo menos 25 assaltantes que invadiram a cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, nova investida das forças de segurança na região provocou outra baixa em grupos especializados em ataque a bancos. Como resposta a ações desses bandos, que receberam a denominação de Novo Cangaço, foram reforçadas as investigações e os treinamentos específicos para enfrentar essa modalidade criminosa. Uma das estratégias foi colocada em prática ontem, quando integrantes do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), com atuação da Polícia Militar, desencadearam a operação “La Casa de Papel”, com o objetivo de chegar a criminosos que atuavam em explosões de caixas eletrônicos, venda ilegal de armas de fogo e tráfico de drogas em Uberlândia, também no Triângulo. O alvo da investida foram 16 pessoas, três das quais já estavam em presídio.





A organização criminosa era comandada de dentro de uma unidade prisional, por criminosos encarcerados. As investigações apontaram que o grupo ainda agia em conjunto com outras quadrilhas, promovendo negociação de armas. As apurações começaram em fevereiro do ano passado, depois que um dos líderes do bando foi preso.  De lá para cá, ocorreram sete prisões em flagrante por crimes diversos, entre eles porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, posse de explosivos e tráfico de drogas.

Na operação de ontem foram cumpridos mandados de prisão preventiva, sendo que três investigados já se encontravam no Presídio Jacy de Assis. Também foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em Uberlândia. A Polícia Militar informou que nem todas as 16 prisões ocorreram em virtude dos mandados, já que algumas pessoas não eram alvos iniciais da operação, mas foram detidas em flagrante por outros crimes.

Com integrantes da quadrilha presa foram apreendidos armamento pesado, munição e drogas (foto: Polícia Militar/Divulgação)


O promotor Daniel Marotta Martinez, um dos responsáveis pela ação, afirmou que os alvos da ação de ontem são responsáveis por ataques a bancos da região. “A organização criminosa foi a responsável pela explosão dos caixas eletrônicos da Caixa Econômica Federal, situados em um posto de combustíveis na cidade de Unaí (Noroeste do estado), em fevereiro de 2018”, disse o promotor. “A tentativa de explosão de caixas eletrônicos ocorrida em Santa Vitória (Triângulo Mineiro) em abril de 2019 também foi praticada por integrantes da organização investigada. Naquela oportunidade, a Polícia Militar evitou a consumação do crime, apreendendo um fuzil, coletes balísticos e explosivos”, destacou o integrante do MP. Nos 18 meses de investigações foram apreendidos dois fuzis, uma escopeta calibre 12, uma pistola semiautomática 9 milímetros com “kit rajada”, explosivos, 200 projéteis de fuzil, maconha, crack e dinheiro roubado no ataque a Unaí.






(foto: Arte EM)


O desafio das quadrilhas


Operações como a de ontem conseguiram reduzir o número de ocorrências do tipo no estado, embora ataques sigam aterrorizando moradores do interior de Minas, provocando prejuízos e até mortes. Na última terça-feira, por exemplo criminosos sequestraram o funcionário de um banco e a mulher dele em Muzambinho, no Sul de Minas. A quadrilha que roubou dinheiro de uma agência do Banco do Brasil ainda fez mais duas pessoas reféns na fuga. Mas a ação mais violenta ocorreu há 15 dias, quando criminosos sitiaram Uberaba usando até um caminhão para bloquear o tráfego, além de objetos para furar pneus de viaturas. Vários tiros foram disparados e houve confronto com a Polícia Militar. Moradores foram feitos reféns e uma mulher que foi baleada na cabeça morreu dias depois. Foram presos 10 criminosos, mas os integrantes do grupo que fugiram ainda não foram capturados e o dinheiro levado da agência não foi encontrado.

O coronel Cláudio Vítor Rodrigues, comandante da 9ª Região da PM, destacou o trabalho conjunto para combater o desafio representado por esse tipo de quadrilha. “O resultado dessas ações, das prisões desses marginais, da desarticulação dessas quadrilhas, bem como a atuação preventiva da PM fazem com que há um ano e meio não tenhamos estouro de caixas eletrônicos na 9ª região”, disse. “Esse resultado é graças à atuação integrada da PM, Gaeco e Ministério Público”, completou.

EXPLOSÃO O comandante ressalta que as organizações criminosas estão cada vez mais preparadas para esse tipo de ataque. Ele lembrou que, no dia da investida em Uberaba, integrantes do bando promoveram uma explosão em Uberlândia, para atrair a atenção de policiais da cidade que poderiam reforçar o policiamento no município vizinho – o verdadeiro alvo de ataque. “Fizeram isso para não darmos suporte. No mesmo sentido, no deslocamento, também colocaram indivíduos armados com fuzil, aguardando a passagem de agentes que estavam em Uberlândia. Tivemos que usar ônibus e carretas para seguir à frente das viaturas, que estavam completamente apagadas”, disse. “Então, observa-se que cada vez mais são ações sofisticadas e planejadas”, destacou.





De acordo com Rodrigues,  já foram realizados aproximadamente 1,5 mil treinamentos com as tropas que atuam na Triângulo Mineiro. Em sua edição de 29 de junho, o Estado de Minas mostrou que a região se tornou alvo preferencial de criminosos, por uma soma de fatores econômicos e geográficos (veja quadro). Somente Uberaba e Uberlândia, as duas cidades-polo do Triângulo, foram alvo de 11 ataques de assaltantes de banco nesta década.

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