A arquiteta Susana Meinberg se orgulha de ter a mesma idade da Igreja São Francisco de Assis, mais conhecida como Igrejinha da Pampulha, em Belo Horizonte. “Temos 76 anos”, revela a moradora do Bairro São Luiz, onde vive com a família desde 1981, embora o terreno da casa tenha sido adquirido há 50 anos. Ansiosa para rever o interior da construção projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), ainda fechada por tapumes, Susana está satisfeita com a empreitada na reta final. “O restauro marca os três anos da Pampulha como patrimônio da humanidade”, afirma a arquiteta em referência ao título conquistado em 17 de julho de 2016, durante a 40ª reunião do Comitê de Patrimônio Mundial da Unesco, em Istambul, na Turquia.
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Trabalho artesanal no forro da igreja
Mesmo com a igrejinha fechada há um ano, muitos visitantes chegam de ônibus, carro ou bicicleta para conhecer a obra projetada por Niemeyer, no início da década de 1940, emoldurada pelos jardins de Burle Marx (1909-1994) e com os trabalhos de outros artistas, a exemplo de Portinari, Paulo Werneck (1903-1962) e Alfredo Ceschiatti (1918-1989). À frente de um grupo de 16 sergipanos, o dono de agência de turismo Cleomar Macedo contou que vem três vezes por ano a Minas, sendo fundamental uma visita à Pampulha, que tem o Conjunto Moderno reconhecido mundialmente e muitas belezas naturais.
No grupo de “passageiros de primeira viagem a BH, o casal de noivos Fabiano Santos Lima, estudante de psicologia, e Brizza Reis, administradora, moradores de Nossa Senhora da Glória (SE), gostaram do que viram, mas prometeram voltar, especialmente para ver a igrejinha restaurada. “Esta é a primeira viagem de outras”, brincou Brizza. Os dois gostaram muito da capital dos mineiros e elogiaram a educação e boa acolhida.
Não muito distante, uma turma de estudantes batia papo à sombra de uma árvore, na Praça Dino Barbieri, que também faz parte do acervo reconhecido pela Unesco. Para a estudante Marianna Vasconcelos Pinto, de 19, aluna de psicologia na UFMG, é fundamental, cada vez mais, o envolvimento da comunidade e conscientização da população sobre a importância da Pampulha e do título mundial. “Meu pai conta que as pessoas velejavam na lagoa, há muitos anos.”
Importância de preservar o patrimônio
Já Lucas Alves Rodrigues Gonçalves, também de 19, futuro fisioterapeuta e com grande interesse em biologia, destaca a boa arborização da Pampulha, a importância da conservação do meio ambiente e elogia a floração dos ipês que começa a tingir de amarelo, roxo e outras cores o inverno de BH. Estudante de arquitetura na Faculdade Pitágoras, Paloma Guieiro Nunes, de 19, ressalta o valor de Niemeyer e demais profissionais que trabalharam na igrejinha e, ao lado de Lívia Caroline Sena Araújo, de 18, estudante de engenharia aeroespacial, e Amanda Balbino Moreira e Rafaela dos Santos Araújo, ambas de 19 e alunas de letras, concorda que a lagoa precisa de limpeza. “A Pampulha é bem localizada, um lugar de convivência, bom para prática de esportes”, afirma.
A proximidade de reabertura da Igrejinha da Pampulha traz à tona uma operação que durou quatro horas, em 18 de outubro de 2017, e envolveu segurança, técnica e muito cuidado. Os 14 quadros recriando as cenas da via-sacra pintados por Cândido Portinari e destaque do templo construído entre 1943 e 1945 seguiram para o Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor), da Escola de Belas Artes, no câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Na época, ela informou que havia “descolamento da policromia, manchas generalizadas devido à umidade, sujeira e outros problemas nas obras”. Acompanhado a operação, o padre Otávio Juliano de Almeida e a coordenadora-geral do Memorial da Arquidiocese, Maria Goretti Gabrich Freire Ramos, explicando que a medida faz parte do termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado em 2016 com o Ministério Público de Minas Gerais, representado pela promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Histórico e Cultural de BH, Lilian Marotta Moreira.
Flagrante de ameaças de degradação
Em de dezembro de 2016, o Estado de Minas mostrou a situação de perigo à qual estavam expostos os quadros da igreja da Pampulha, que pertence à Arquidiocese de Belo Horizonte. Na época, a superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino, sugeriu a remoção de pelo menos três deles, que estavam danificados. A equipe de reportagem flagrou o risco de a chuva danificar os quadros de Portinari na igreja, onde até mesmo baldes foram usados no interior da construção para tentar evitar danos, enquanto funcionários colocavam capas nas telas e secavam o chão com panos. As infiltrações também apodrecem as placas curvas de madeira do forro original da nave..