As noivas adoram posar para as fotos do álbum de casamento nos jardins projetados por Burle Marx (1909-1994), desde que o espelho d'água fique bem enquadrado ao fundo, como se fosse moldura da felicidade. Já as grávidas deixam o “barrigão” bem à vista, de forma a eternizar o momento ao ar livre, enquanto adolescentes sobem a rampa, de bicicleta, com todo o vigor da juventude e sempre de olho na paisagem da Pampulha, em Belo Horizonte, cujo conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012) completa, amanhã, três anos de reconhecimento como patrimônio da humanidade, título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Entre os bens edificados na década de 1940 está o Museu de Arte da Pampulha (MAP), antigo cassino, palco de história com um legado precioso dos anos dourados.
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GERAÇÕES Quem visita o Museu de Arte da Pampulha, nestas férias de julho (veja o serviço), pode ver pessoas de todas as gerações curtindo o visual, posando para fotos, admirando as plantas do jardim ou simplesmente sentadas na grama em clima de contemplação. Mas tem também as obras expostas no interior ou ao ar livre. Nas suas velozes bikes, os amigos Marlon Francisco da Silva, Gabriel Inácio Lopes da Silva e Cauã Gabriel Nieman da Costa, estudantes do ensino médio e moradores da Região de Venda Nova, visitaram a instalação Mais dia, menos noite, de Tatiana Blass, com curadoria de Douglas de Freitas.
A exemplo dos demais visitantes, o trio foi recebido por um longo tapete vermelho, que se estende até um tear manual, e as linhas na mesma cor sobem para o segundo piso, num belo efeito. O folheto informativo diz que “a simbologia do tapete está intimamente ligada ao poder a ao luxo, ao glamour das noites de cassino”. Os jovens gostaram da instalação (termina em 31 de agosto), elogiaram os traços da arquitetura de Niemeyer e prometeram terminar o passeio na Igreja São Francisco de Assis, a ser reaberta, restaurada, em 4 de outubro, data consagrada ao santo protetor do templo. No jardim do museu, Marlon, Gabriel e Cauã puderam contemplar as formas e cores das plantas da flora brasileira e das esculturas O abraço, em mármore, de Alfredo Ceschiatti (1918-1989), Pampulha, de José Pedrosa (1915-2002), e Nu, do polonês August Zamoyski (1893-1970).
Desde o título conquistado em 17 de julho de 2016, o colecionador de carros antigos Jefferson Rios Domingues mantém um serviço turístico de jardineiras, estilo 1950, para percorrer os pontos de destaque do conjunto moderno e contar “causos” sobre os monumentos e seus personagens. Em três anos, informa, embarcaram mais de 5 mil pessoas, sendo 2,5 mil de escola públicas. “Noventa por cento dos turistas são de fora”, afirma Jefferson, que tem um encanto especial pelo antigo cassino. “JK chegava de smoking, numa lancha de madeira, e, mais tarde, trocava de roupa e seguia para a Casa do Baile, do outro lago da lagoa. Era um ambiente muito chique. As mulheres usavam chapéus, vestido longo e luvas e tinham um lugar especial no banheiro para retocar a maquiagem”, conta o colecionador. Ele diz ainda que Joaquim Rolla, dono do cassino, era proprietário de outros estabelecimentos Brasil afora. “Mas o da Pampulha era o único do mundo com janelas”, revela com bom humor. A jardineira funciona sempre nos fins de semana e feriados, das 10h às 17h, com ingresso a R$ 20.
Segundo os especialistas, a estrutura em concreto e a opção pelos planos envidraçados proporcionam a alta integração visual entre interior e exterior, um dos mais importantes pilares da arquitetura moderna, presente em todas as edificações do conjunto. O volume prismático regular – explorando a liberdade de ordenação dos espaços internos permitidos pelos pilotis – apresenta-se como uma caixa de vidro, com rampas ligando o térreo ao salão de jogos e à boate.
O prédio tem paredes revestidas de ônix e colunas cobertas de aço inoxidável, uma inovação para a época, além de espelhos de cristal belga. A esse volume se associa o corpo curvilíneo que abriga a pista de jogos e a boate. A solução invoca um efeito cênico comum à arquitetura barroca mineira. O cassino propiciou noites de grande esplendor até 1946, quando foi desativado pela proibição dos jogos de azar no Brasil.
ACERVO Com acervo de 1,4 mil obras em reserva técnica e abrigando exposições e diversas ações artísticas, educativas e culturais, o MAP tem um auditório com capacidade para 170 pessoas. No ano passado, o museu recebeu 79,4 mil pessoas, e, neste ano, janeiro teve o maior movimento, com 6 mil. Fazem parte da construção os setores de Artes Visuais, Conservação e Restauro, Centro de Documentação e Pesquisa, Biblioteca e Educativo. Desde 2001, o museu adotou um modelo de curadoria voltado para a produção em arte contemporânea, com ênfase nos trabalhos que dialogam com o patrimônio arquitetônico e paisagístico da Pampulha.
Serviço
Serviço
Museu de Arte da Pampulha (MAP)
- Aberto de terça a domingo, das 9h às 18h, com entrada franca
- Avenida Otacílio Negrão de Lima, 16.585, na Pampulha