A Polícia Civil de Minas Gerais deu detalhes sobre o golpe aplicado por Mateus Henrique Leroy Alves, de 37 anos, preso nesta segunda-feira (22) em Salvador. Ele é acusado de gastar cerca de R$ 600 mil arrecadados para ajudar seu próprio filho, diagnosticado com Atrofia Muscular Espinhal (AME), doença degenerativa que requer a compra de um medicamento cuja dose custa R$ 365 mil. O caso chocou a população de Conselheiro Lafaiete, na Região Central do estado.
Segundo a polícia, Mateus vivia uma verdadeira vida de luxo em Salvador. Ele morava em um apart hotel de frente para a praia e gastava a quantia da vaquinha com festas, roupas, correntes de ouro e até maconha.
As investigações começaram no início de julho, quando a mãe da criança procurou a delegacia de Conselheiro Lafaiete. Os trabalhos foram conduzidos pelo delegado Daniel Gomes.
“Há 15 dias, fomos procurados pela mãe, que disse que o marido dela vinha apresentando um comportamento estranho desde maio. Ele começou a se afastar da família e a não participar com empenho das campanhas que eram feitas em prol do filho”, contou Gomes. Ainda segundo o delegado, a mãe apresentou extratos bancários que comprovavam redução no saldo das contas que guardavam o dinheiro das vaquinhas.
No total, eram quatro contas-correntes, sendo duas administradas pela progenitora e duas pelo suspeito. Mateus Henrique tinha as senhas da mulher e, por meio delas, fazia transferências para suas contas a partir dos sistemas de internet banking.
Durante as investigações, a polícia obteve a quebra do sigilo bancário do acusado e pôde avançar ainda mais nas investigações.
Mateus deixou Conselheiro Lafaiete em 8 de maio. Ele contou à família que iria para Belo Horizonte com objetivo de fazer um curso de vigilante.
Contudo, nunca dava explicações sobre o curso. Ele visitou a cidade do interior por duas oportunidades durante o período, ambas passagens rápidas.
Segundo a polícia, há possibilidade de Mateus ter cometido o crime de lavagem de dinheiro, já que a quantia gasta é alta para um período tão curto.
O suspeito está casado com sua mulher há 13 anos. O casal teve dois filhos, um de 10 e o mais novo que sofre com a doença degenerativa. Mateus estava desempregado quando a vaquinha era feita, segundo a polícia.
Em conversa com a imprensa, ele disse estar arrependido, mas ressaltou que era vítima de extorsão. “Deixa a polícia investigar e vocês (jornalistas) vão saber o que era. Ostentação não existiu. Eu peço desculpa, mas queria deixar minha família intacta, em segurança”, disse. No entanto, ele também afirmou que pede perdão à esposa e a quem ajudou na campanha.
O acusado vai responder pelos crimes de estelionato e abandono material. Sobre a versão dada pelo suspeito sobre uma possível extorsão, o delegado Daniel Gomes disse que as datas apresentadas por ele não batem e que Mateus não apresenta informações concretas sobre o fato.
Paróquia se posiciona
Em nota, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição e a Rádio Queluz FM, ambas de Conselheiro Lafaiete, lamentou as "frustrações, decepções e transtorno emocionais" do pai da criança, mas ressaltaram que vão continuar colaborando para a campanha.
As duas instituições, contudo, afirmaram a necessidade de melhorias na "administração caritativa", com objetivo de se resguardarem "de eventuais e graves dolos que possam decorrer de atitudes abusivas".
Tais melhorias, segundo a nota, se voltam a meios jurídicos para precaver "de quaisquer problemas ou atitudes suspeitas de quem quer que seja".