Seis meses já se passaram e o verde começa a tomar forma em meio ao rastro de destruição deixada pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mesmo depois de tanto tempo, homens e máquinas dividem o espaço em pontos estratégicos, à procura de vítimas de uma das maiores tragédia do país. A megaoperação, hoje, se resume aos 136 homens e mulheres do Corpo de Bombeiros, que não poupam esforços para encontrar as 22 vítimas ainda desaparecidas. Os bombeiros lutam contra o tempo e, cada vez mais, a tecnologia se mostra uma importante aliada.
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'Algo muito grave ocorreu. Brumadinho não passará em branco', diz diretor da ValeSeis meses após tragédia de Brumadinho, fiscalização continua a desafiar o paísEstrada será construída para ligar o Inhotim até a MG-040 em Brumadinho Tragédia de Brumadinho: homenagens às vítimas marcam seis meses de rompimentoMulher anuncia faxina em troca de refeição em BH e se surpreende com respostasEssa é a maior operação de buscas em desastres no Brasil, com mais de 1,6 mil horas de voo – fluxo de pouso e decolagem maior do que o do Aeroporto de Confins – e empenho de efetivo recorde. Em Minas Gerais, os trabalhos em novembro de 2015 em Mariana, na Região Central, eram os considerados os mais extensos até então. No Brasil, a maior operação havia ocorrido no deslizamento da Região Serrana no Rio de Janeiro, em janeiro de 2011. Hoje, ao chegar a 182 dias, a operação conta com 136 militares, sendo que 130 de Minas Gerais e cinco do Mato Grosso e de Pernambuco, quatro cães e 160 maquinários divididos em 22 frentes de trabalho. Mais de 2 mil militares passaram por Brumadinho, assim como 40 cães. Só assim para localizar 92% das pessoas vítimas do rompimento da barragem.
Tecnologia
A aliada à estratégia e inteligência, a tecnologia é imprescindível para o sucesso da operação. Até porque a barragem do Córrego do Feijão tinha 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos.
Segundo ele, a corporação busca por uma caminhonete que estaria com quatro funcionários terceirizados que trabalhavam em cima da barragem antes de ela se romper. “Primeiro, vamos fazer o refino de estruturas maiores em toda a área. E, depois, conseguiremos ampliar as imagens e identificar objetos menores como, por exemplo, um celular.
Para a maior busca de resgate do Corpo de Bombeiros feita em solo brasileiro também foi desenvolvido um aplicativo para facilitar o trabalho em campo, distribuído logo nos primeiros dias após a tragédia. Cada militar em campo dispõe desse aplicativo para facilitar o lançamento de coordenadas de corpos e de objetos que encontramos na missão. Com esse aplicativo no celular, os bombeiros batem a foto no ambiente do aplicativo e a imagem com suas informações de coordenadas é lançada automaticamente no mapa. “Não é possível dizer quantas imagens e fotos já fazem parte do nosso acervo. Mas, são milhares. E o app se mostra extremamente eficiente”, explicou.
MP projeta denúncia à Justiça em até 3 meses
O Ministério Público de Minas Gerais pretende concluir os procedimentos necessários para apresentar denúncia na Justiça pela tragédia de Brumadinho em até três meses. De acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec/MG), 248 pessoas morreram no rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão e outras 22 ainda estão desaparecidas. Segundo a promotora Andressa de Oliveira Lanchotti, coordenadora da força-tarefa montada pelo MP para apurar crimes no episódio, a equipe se concentra em finalizar análises de provas antes de apresentar a denúncia para desencadear um processo criminal para punição dos responsáveis. “Nossa expectativa é de que em um prazo de 60 a 90 dias essas análises, sobretudo as provas periciais, análises de laudo de causa das mortes, lesões corporais e análises de equipamentos eletrônicos sejam concluídas, permitindo o oferecimento da denúncia e o desencadeamento da ação penal”, disse.
Sobre os crimes para os quais o MP pretende oferecer denúncia, a promotora preferiu não adiantar informações. Segundo ela, a equipe está avaliando todas as provas existentes nos autos, “que são bem contundentes no sentido de demonstrar que a companhia sabia que havia riscos inaceitáveis e conhecia esses riscos”, nas palavras da coordenadora da força-tarefa. “O que posso dizer é que as investigações apontaram a existência de um risco inaceitável, uma relação inadequada entre a empresa auditora certificadora, a Tüv Süd, e a Vale. Na verdade, a Tüv Süd atuava como auditora independente, mas mantinha outros contratos com a Vale, contratos vultosos, e isso, na nossa visão, maculava totalmente a independência”, acrescenta.
A promotora também destacou que Minas Gerais ainda convive com ameaças em outras 35 barragens que não têm atestado de estabilidade, das quais quatro em nível 3 de segurança, o mais alto antes de eventual rompimento. “O MP vem fazendo um trabalho consistente de gestão de risco. Propusemos outras 21 ações civis públicas em Minas em face da Vale, buscando obter auditorias verdadeiramente independentes para certificar a situação dessas estruturas. São mais de 25 minas que são objetos de ações propostas pelo MP e mais de 100 estruturas”, completa.
Água
Outro assunto abordado ontem, durante balanço de seis meses de atuação da força-tarefa criada pelo MP pós-desastre, foi o risco de falta de água em Belo Horizonte e cidades da região metropolitana. Andressa Lanchotti garantiu que já existem projetos e obras em andamento para garantir duas frentes de ação relacionadas à segurança hídrica na Grande BH. O MP firmou acordo com a Vale para garantir ambas.
A primeira é a construção de nova captação no Rio Paraopeba, acima do ponto em que a lama atingiu o curso d'água. A captação de Brumadinho, que funcionava no manancial desde dezembro de 2015 e foi construída justamente para resolver o problema da falta de água na região, teve que ser fechada em janeiro, devido à passagem da lama. A segunda é a proteção da captação do Rio das Velhas, em Nova Lima, que está abaixo de três barragens no mais alto nível de risco: Forquilha I e III, em Ouro Preto, e B3/B4 em Macacos, comunidade que pertence a Nova Lima. (Guilherme Paranaíba)
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