Jornal Estado de Minas

'Decidi fazer a minha parte', diz doador de prótese a garoto vítima de linha chilena

Em qualquer esporte, a derrota é superada com a união da equipe e a entrega dos profissionais. E foi assim, como um time, que a solidariedade entrou em campo para não apagar a chama da esperança e de um sonho. O fisioterapeuta Fabrício Daniel de Lima, diretor do Instituto de Prótese e Órtese (IPO) Brasil, foi tocado emocionalmente pela história do adolescente Gabriel Nascimento, de 15 anos, que teve que amputar a perna depois de sofrer um corte profundo provocado por uma linha chilena.

Pacientes e amigos, como a modelo Paola Antonini, e Patric, lateral- direito do Atlético, como um passe para gol, sugeriram a ele que ajudasse o garoto. E conseguiram. O experiente profissional não desperdiçou a oportunidade e resolveu doar uma prótese e o processo de reabilitação durante um ano ao menino, que tem o sonho de virar atleta.

A assistência dos amigos e pacientes foi apenas o pontapé inicial. A motivação de Fabrício já era latente,  misturando o trabalho que faz há seis anos como especialista em próteses de alta tecnologia e a tristeza. O fisioterapeuta perdeu, recentemente, um primo que teve o pescoço cortado por uma linha com material cortante.
“Qualquer caso é especial e tem uma história. O que mais me tocou no caso do Gabriel é que perdi um primo, há uns cinco anos, vítima de cerol. A linha cortou o pescoço dele. Os casos foram se ligando. Além disso, já trabalho na área. Então, decidi fazer a minha parte”, contou. A prótese custa R$ 80 mil.

Uma das responsáveis pela vitória na criação da rede de solidariedade, a modelo Paola Antonini, que utiliza prótese após perder a perna esquerda em um acidente na capital mineira, visitou, ontem, o garoto Gabriel, junto com Fabrício.
Como prometido, Paola foi até o Hospital Regional de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para dar força ao menino. Em rede social, a modelo contou sobre a visita: "Quero te ver logo pra todo lado com essa perna do Galo, hein", escreveu.  "Recebi tanta mensagem me contando da história dele e foi muito lindo ver todo o carinho e comoção das pessoas," completou.

Gabriel teve que amputar a perna esquerda por causa da irresponsabilidade de pessoas que ainda insistem em soltar pipas e papagaios utilizando cerol ou linha chilena. O menino caminhava na direção do estabelecimento comercial dos pais quando se deparou com uma linha chilena esticada na rua. Um ônibus passou pela rua e a linha enroscou na perna dele. O menino foi socorrido por uma enfermeira e dois motociclistas que passavam pelo local e chamaram o Samu. Ele chegou ao hospital em choque e sangrando muito, em risco iminente de morte.

O ferimento ocorreu na parte traseira do joelho. Gabriel passou por uma cirurgia e foi para o Centro de Terapia Intensiva (CTI), mas no dia seguinte teve complicações e precisou entrar novamente no bloco cirúrgico. Devido à gravidade dos ferimentos, a equipe médica optou pela amputação.
Quando soube que perderia a perna, Gabriel, cujo sonho era ser jogador de futebol, não desanimou. Ele disse aos pais vai ser atleta paralímpico.

Paola Antonini passou por uma situação semelhante. Ela estava na porta de uma casa na Avenida Raja Gabáglia, nas proximidades do Hospital Madre Teresa, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, quando foi atropelada. A motorista de um carro perdeu o controle da direção e bateu na traseira de um Fiat Bravo, que estava estacionado. Paola colocava malas no bagageiro para começar uma viagem de férias quando o Fiat 500 bateu e ela foi prensada. De acordo com o boletim de ocorrência da Polícia Militar feito à época, o carro estaria em alta velocidade.


Apreensão

Uma denúncia anônima levou policiais militares a deter dois irmãos na tarde de ontem, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por vender linha chilena e cerol em uma loja no Bairro Palmital. No comércio, estavam vários materiais que são usados na fabricação dos produtos cortantes. Os homens estão sujeitos a multa e podem ser presos. O crime foi flagrado por equipes do tático móvel do 35º Batalhão da Polícia Militar. “Eles poderão sofrer medidas administrativas e sanções criminais.
A multa vai variar entre R$ 100 e R$ 1,5 mil. Além disso, podem ser presos pelo crime”, explicou o tenente Charles de Paiva Reis. Guardas de diversos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte passam um pente-fino nas cidades atrás de quem usa ou vende materiais proibidos para soltar pipa. 
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