Jornal Estado de Minas

Serra da Piedade comemora 60 anos da proclamação da padroeira de Minas

Os nortistas e nordestinos se protegem como podem, os do Sul ficam em mangas de camisa, na maior tranquilidade, e os mineiros conhecem os cantinhos onde um raio de sol aparece entre nuvens para esquentar o corpo e a alma. Com baixas temperaturas – de manhã, entre 7 e 9 graus; à tarde, com a máxima de 12 graus –, a Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), recebe muitos turistas nesta época e “aquece” todos com um clima festivo, incluindo romarias, missas ao ar livre, bênçãos e outros ritos, além da paisagem deslumbrante. Amanhã será aberta a programação comemorativa (veja o quadro), com duração de um ano, de seis décadas da proclamação de Nossa Senhora da Piedade como padroeira de Minas.

“A cada mês, até 31 de julho de 2020, quando vamos festejar os 60 anos da proclamação, queremos contar com a presença de todas as dioceses e arquidioceses de Minas, além de caravanas de moradores de vilas e favelas do estado, pois estamos no Ano Missionário da Arquidiocese”, disse o reitor do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, padre Fernando César do Nascimento.

Com estimativa de 6 mil pessoas amanhã, convida o reitor, ocorrerá a 48ª Peregrinação dos Vicentinos (Sociedade São Vicente de Paulo), com muita gente entusiasmada para subir a serra e curtir o patrimônio espiritual, histórico, paisagístico e ambiental, dono de uma visão 360 graus da RMBH e com área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No dia 31, às 15h, haverá a cerimônia de 59 anos de proclamação presidida pelo arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo. “Elaboramos uma programação do jubileu com os pés no chão, e sempre contando com a devoção popular”, enfatizou o reitor. “São também 253 anos de peregrinação ao topo da montanha e, entre os dias 15 e 30 de cada mês, vamos ter a presença de mineiros de todas as cidades.” De acordo com a Arquidiocese de Belo Horizonte, a Serra da Piedade, com duas basílicas, sendo a ermida do século 18 considerada a menor do mundo, recebe cerca de 500 mil pessoas por ano.

CALOR DA FÉ Na tarde de quinta-feira, pessoas de todas as gerações, muitas delas com bebês bem encapotados e de gorro, participaram da missa das 15h, desta vez celebrada pelo vice-reitor do santuário, padre Carlos Antônio da Silva. Na porta da singela Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, templo que guarda a imagem da padroeira esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), o religioso aspergiu água benta sobre os fiéis e abençoou dois jovens ciclistas que, movidos pela força da juventude, enfrentaram os quase seis quilômetros de subida. Morador de Caeté, Rogério Gonçalves, de 20 anos, e Samuel Xavier, de 17, curtiram o visual sem pressa e se sentiram “nas nuvens”.

Tendo como cicerone Mercês Dias Abreu, de Contagem, na Grande BH, um grupo de seminaristas do Norte e Nordeste do país e o missionário Jardel Vale, da Comunidade Sementes do Verbo, residente no Rio de Janeiro (RJ), aproveitaram o passeio para rezar, refletir e tirar muitas fotos – a tradicional selfie ficou a cargo do paraense de Belém Antônio Carlos Ribeiro de Souza, que gostou muito do local, embora surpreso com o frio nas alturas. “A gente fica com as energias renovadas”, garantiu.
Para o conterrâneo Clodoaldo Almeida, a Serra da Piedade fortalece a espiritualidade dos visitantes, enquanto o maranhense Tássio Mariano resumiu: “Temos aqui um encontro com a fé, a manifestação do Deus vivo”. Já o cearense de Fortaleza Janildo Lungas considerou o topo da montanha “um lugar de encontro com Deus”.

Vindo de Vila Velha (ES), o casal José Carlos Ferreira e Rosane Ferreira, acompanhado do filho Matheus, de 12, participou da missa e recebeu as bênçãos na porta da ermida do século 18, a qual, junto com a Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, ex-Igreja Nova das Romarias, construída em 1970, foi chamada de “magnífica arquitetura divina” pelo segundo arcebispo de BH, dom João de Resende Costa (1910-2007). A irmã de José Carlos, Maria das Graças Ferreira, servidora pública e moradora do Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste da capital, falou da força que emana da Serra da Piedade, citou a beleza da região e o bem que a visita faz aos peregrinos. “Alcancei muitas graças rezando para Nossa Senhora da Piedade”, contou.

Mais adiante, um contraste: enquanto a estudante residente em Belém (PA) Ana Gabriela Diniz e Sousa tremia de frio, com os braços cruzados, a amiga Rojirlene Medeiros, de Curitiba (PR), com os três filhos, circulava sem casaco no topo da serra. “Estou aqui pela primeira vez. É frio demais”, afirmou. Rojirlene não se incomodou com a temperatura e comparou o local a um “pedacinho do céu”.

SÉCULOS DE HISTÓRIA A proclamação de Nossa Senhora da Piedade como padroeira de Minas Gerais ocorreu em 31 de julho de 1960, fato que motivou uma grande festa na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul da capital.
A oficialização foi feita pelo papa João XXIII (1881-1963), atendendo ao pedido dos bispos mineiros, entre eles o então arcebispo metropolitano de Belo Horizonte dom Antônio dos Santos Cabral (1884-1967), e do arcebispo coadjutor e administrador apostólico, dom João Resende Costa, bem como do governador do estado, José Francisco Bias Fortes (1891-1971). Nesse processo, destacou-se também o trabalho de dom Carlos Carmello de Vasconcelos Motta (1880-1982), mais conhecido como Cardeal Motta e que hoje batiza a praça em frente da ermida.

Com altitude de 1.740 metros, a Serra da Piedade abriga histórias de fé e até política. Foi no alto, por exemplo, que o ex-presidente Tancredo Neves (1910-1985) deu início à campanha de redemocratização do país, em 1984. Em dias muito claros, é possível vislumbrar a Serra do Caraça, o espelho d’água de Lagoa Santa, toda a cidade de Caeté, com o pontilhão ferroviário, e outros municípios da RMBH. O ponto principal, sem dúvida, é a ermida que dá exatamente o clima de “pedacinho do céu” de manhã bem cedo, quando nuvens baixas tomam conta do topo da serra.

A fama do lugar teria começado entre 1765 e 1767, conforme a tradição oral, com a aparição de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, a uma menina, muda de nascimento, cuja família vivia na comunidade de Penha, a seis quilômetros da serra. Nesse momento, a menina teria conquistado a fala. Mais tarde, em 1773, o templo seria construído pelo ermitão português Antônio da Silva, o Bracarena.  

Programação

    Julho

» Domingo – 48ª Peregrinação dos Vicentinos
» De 28 a 30 – Tríduo preparatório para o aniversário de proclamação de Nossa Senhora da Piedade
» 31– Aniversário da proclamação

    Agosto

» 15 – 24ª Peregrinação da Juventude
» 31 – 6ª Peregrinação Mineira do Terço dos Homens

    Setembro

» De 6 a 14 – Novena preparatória para a festa da Mãe Padroeira de Minas
» 14 – Peregrinação do Apostolado da Oração
» 15 – Solenidade da Mãe e Senhora da Piedade
» 21 – Peregrinação da Legião de Maria
» 29 – Peregrinação da Irmandade do Santíssimo
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