Em 2016, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo. Mas um recuo nas taxas de imunização da população reabriu as portas para a enfermidade e país perdeu o título no início deste ano. A doença está de volta ao país desde 2018 e, pior, atinge centros populosos e de grande movimentação de pessoas. Tendo como vizinhos os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, que passam por surtos da doença, Minas Gerais está em alerta. E não é para menos. Já foram confirmados quatro casos no território mineiro este ano e as chances de mais pessoas serem contaminadas crescem com o vaivém do período de férias, combinado com baixa cobertura vacinal.
Leia Mais
Adultos precisam se vacinar contra o sarampo se não estiverem imunizadosConfirmação de sarampo em criança de BH reforça alerta para déficit na vacinaçãoSarampo: Minas Gerais registra 1º caso contraído dentro do estado em 20 anosAtendimento na UPA Centro-Sul é suspenso por suspeita de sarampo Crianças abaixo de um ano deverão ser vacinadas contra o sarampo em todo BrasilCaso suspeito de sarampo em bebê é investigado em cidade mineira Campo magnético espanta pombos da rodoviária de VarginhaBHTrans faz operação de volta às aulas nesta terça: veja dicasOs surtos nos estados vizinhos assombram Minas. Em São Paulo, segundo a Secretaria de Saúde daquele estado, são 484 casos confirmados, sendo 75% na capital. Em 12 dias, o aumento foi de 850% no número de infectados. No Rio de Janeiro, foram confirmados 13 casos. Doze deles ocorreram em Paraty, cidade turística muito frequentada por mineiros. O estado ainda investiga 14 notificações.
Como a doença é altamente contagiosa, as férias escolares aprofundam o perigo de rápida movimentação do vírus. Muitos moradores aproveitam o período para viajar, o que propicia a circulação de várias enfermidades, inclusive o sarampo. Diante do risco, a SES emitiu uma nota técnica com alerta para profissionais de saúde sobre a necessidade de voltar a atenção para os sintomas da virose. “O risco existe principalmente devido à baixa cobertura da vacina. Então, novos casos podem surgir. Ainda mais com a proximidade entre Minas e São Paulo, que está com aumento de casos de sarampo, e as férias escolares”, confirmou a referência técnica de sarampo da SES, Luciene Rocha.
Em maio, o governo do estado já tinha elaborado um plano de contingência para evitar a transmissão do vírus no território mineiro. “O objetivo foi planejar, executar e avaliar medidas de prevenção e de controle em tempo oportuno, a partir da notificação de possíveis casos de sarampo. O Plano de Contingência do Sarampo se justificou diante da necessidade da prevenção e sustentabilidade da eliminação do sarampo no território, já que o cenário no estado reforçou a importância da antecipação das esferas de governo ao enfrentamento de eventuais epidemias de sarampo”, afirmou a SES.
As pessoas que estiverem em locais onde o vírus está circulando devem ficar atentas no retorno das viagens. Febre e manchas avermelhadas pelo corpo, acompanhadas de tosse ou coriza ou conjuntivite, até 30 dias após o regresso podem ser sintomas do sarampo. A ordem é procurar o serviço de saúde imediatamente.
Vacina
A forma mais eficaz de evitar o sarampo é por meio da vacinação. A Tríplice Viral, que protege ainda contra a rubéola e a caxumba, é oferecida de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). São necessárias duas doses para pessoas de 1 até 29 anos. Quem passou dessa idade precisa ter tomado uma única dose do imunizante. Em todo o estado, a cobertura vacinal acumulada da vacina Tríplice Viral está em 82,80% para a primeira dose, de pessoas de 1 a 49 anos, e 42,13% para a segunda dose, de 1 a 29 anos. Segundo a SES, 2.612.404 de pessoas não receberam a primeira dose da tríplice viral e outras 5.457.551 não tomaram a segunda dose. A meta estabelecida pelas autoridades de saúde é de 95% de cobertura vacinal.
A baixa cobertura vacinal, que propicia a circulação do vírus, coloca em risco, principalmente, os bebês com menos de um ano. As crianças só tomam a vacina a partir dos 12 meses de vida. “O sarampo, normalmente, não tem sintomas de gravidade, mas as crianças de até um ano estão mais sujeitas a complicações. Principalmente se esses pacientes estiverem abaixo do peso ou desnutridos. Entre as complicações estão infecções no ouvido, convulsões, pneumonia e encefalite. Em alguns casos, o sarampo pode até levar a morte”, comentou Luciene Rocha.
Certificado perdido
A confirmação de um caso endêmico – ou seja, transmitido dentro da região – de sarampo no Pará, em 23 de fevereiro, levou o Brasil a perder o certificado de país livre de circulação do vírus que provoca a doença. O registro foi comunicado pelo Ministério da Saúde à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que havia concedido o título ao Brasil em 2016. O critério estabelecido para a retirada do certificado é a incidência de casos confirmados do mesmo vírus durante 12 meses. O primeiro caso ocorreu em 19 de fevereiro de 2018, logo depois da chegada de imigrantes venezuelanos em Roraima, no Norte. A Venezuela enfrentava surto da enfermidade. Nos 12 meses até a perda do título, foram confirmados pelo Ministério da Saúde 10.326 casos no Brasil. O pico foi em julho do ano passado, com 3.950 casos. No início deste ano a doença voltou a assustar. Depois da perda, o governo federal iniciou um plano para retomar o certificado dentro de um ano, o que inclui a vacinação já que o recuo dos índices de imunização é porta aberta para o vírus.
.