Bolo, balões e guaraná. Mais parecia uma festa de aniversário a casa do garoto Gabriel Nascimento, de 15 anos, que teve a perna amputada após sofrer um corte provocado por linha chilena em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Isso porque ele recebeu alta e deixou o hospital na manhã de ontem, depois de uma semana internado. Já na saída da unidade de saúde, Gabriel recebeu o carinho de amigos e familiares que lotaram a porta do hospital aos gritos de “feijãozinho guerreiro”, em alusão ao apelido de “Feijão” do jovem. Ao chegar em casa, mais emoção: uma festa surpresa temática com o time de coração, o Clube Atlético Mineiro. Rodeado dos familiares, colegas de escola e amigos do futebol, o adolescente circulava pelo pequeno quintal em uma cadeira de rodas. O sorriso estava estampado no rosto para comemorar a vida. “O que aconteceu foi muito triste, por pouco meu filho não morreu. Não é fácil não, mas hoje é um dia feliz. Preferimos estar aqui, mesmo que sem uma das pernas, a fazer um velório. Estamos celebrando a vida”, disse o pai de Gabriel, Amilton do Nascimento, de 46 anos.
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O sonho não acabou
O adolescente contou que começou a jogar futebol aos cinco anos de idade. Toda família é atleticana fervorosa. Desde muito pequeno, Gabriel é apaixonado pelo preto e branco da bandeira do Atlético Mineiro. E nos planos do jovem está voltar a jogar futebol quando estiver com a prótese, que será dada pelo fisioterapeuta Fabrício Daniel de Lima, diretor do Instituto de Prótese e Órtese (IPO). O fisioterapeuta se comoveu com a história depois de ter perdido um primo há cinco anos, vítima de corte por cerol. A prótese, de R$ 80 mil, ajudará muito na recuperação do jovem e a realizar seu sonho. “Quero poder voltar a jogar bola. Agora, jogar nos esportes paralímpicos”, disse animado. E também conhecer pessoalmente os jogadores Patric, do Atlético, e Fred, do Cruzeiro. “Fiquei muito motivado ao ver as mensagens deles”, contou. Ele deve tirar os pontos em 20 dias e começar a reabilitação.
O garoto também aproveitou para dar um recado para quem insiste em soltar pipas com linha chilena. “Recomendo que não usem, porque da mesma forma que (a linha cortante) me prejudicou, pode prejudicar qualquer um”, contou. Depois do episódio, ninguém foi preso. A família conta que, mesmo sem saber quem era o responsável pela pipa, perdoa o autor. “Nosso coração não tem mágoa. Nós perdoamos. Mas estamos aqui para conscientizar. Ocorreu com o Gabriel e pode acontecer com outras pessoas. Soltar papagaio é muito legal, mas sem cerol, sem linha chilena e em um lugar apropriado. A lei precisa ser mais rígida”, completou o pai.