O judô se tornou os olhos pelos quais Deanne Silva de Almeida, de 37 anos, vê o mundo. A prática do esporte olímpico permitiu a ela voltar a enxergar, depois de ter perdido parcialmente a visão aos 8 anos de idade e de a deficiência ter, por uma década, gerado a sensação de que a vida se restringiria ao percurso entre a casa e a escola. Aos 19 anos, tudo mudou quando ela foi apresentada ao tatame.
A prática virou a vida dela de ponta a cabeça e ela deu um golpe definitivo na limitação. Como ocorreu com Deanne, outras 936 pessoas com algum tipo deficiência também têm a chance de buscar a superação por meio da prática esportiva: o programa Superar, da Prefeitura de Belo Horizonte, atende alunos com restrições físicas, visuais, intelectuais, auditivas, múltiplas e com autismo em 16 modalidades esportivas. Agora, o projeto fica também ao alcance de estudantes da Universidade federal de Minas Gerais (UFMG).
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Uma chance para que outros sigam o exemplo de Deanne. Ela foi apresentada em 2001 ao judô como prática esportiva em que poderia expandir suas limitações.
Em 2003 foi inaugurado o primeiro Centro de Referência Esportiva para a Pessoa Portadora de Deficiência, no Bairro Carlos Prates, na Região Noroeste da capital. Com o espaço disponível para treinamentos, a equipe, composta por 10 deficientes visuais, passou a ter local e horário para treinar com regularidade. “Adquiri a deficiência com 8 anos. Até os 19 anos, minha vida era escola e casa. Não tinha vida social ativa.
O esporte encantou Deanne a ponto de ela se dedicar de tal forma aos treinos que a fez alcançar performances de alto rendimento. Foi convocada para a Seleção Brasileira de Judô. E o caminho da escola para casa, de casa para a escola ficou para trás. Ela ganhou asas e viajou o mundo para disputar competições nacionais e internacionais. Competiu nas paraolimpíadas de Pequim, em 2008, e Londres, em 2012. Nos jogos pan-americanos do Canadá, em 2015, e México, em 2011.
A deficiência pede algumas adaptações para a prática dos esportes, mas, os atletas mais que qualquer outro busca superar as limitações. “O atleta com deficiência tem o mesmo compromisso do atleta de visão normal”, diz Deanne. O programa Superar, como destaca, foi fundamental em todas as etapas da carreira da jovem: “Desde quando comecei, ao integrar a seleção e em toda etapa em que fui atleta de alto rendimento”.
Com trajetória exemplar, Deanne defende que o programa pode revelar atletas, mas a importância vai além, pois se torna espaço de socialização de pessoas com deficiência, que muitas vezes, estavam excluídas de alguma maneira. “Ali é nosso lugar. O programa contribui para melhorarmos nossas habilidades. É fundamental para deficientes que estão vindo aí. Além de ter a possibilidade de serem atletas de alto rendimento. Mas o objetivo principal do programa é a qualidade de vida para essas pessoas”, pontua.
Para se inscrever no Superar, o participante tem que ter idade superior a 6 anos e apresentar laudo de deficiência. “O programa tem objetivo de demonstrar a potencialidade da pessoa com deficiência, trabalhar a autoestima e a relação social. Como política pública, tem o propósito, de para além do atendimento, promover a formação e capacitação”, diz o gerente de Paradesporto Marcelo Mendes.
O programa tem duas unidades de referência (Centro de Referência Esportiva para a Pessoa Portadora de Deficiência e Escola Municipal de Ensino Especial Frei Leopoldo) e sete núcleos regionalizados: Colégio Marconi, Clube Palmeiras, escolas estaduais de ensino especial Amaro Neves e João Moreira Salles, Associação de Deficientes Visuais de Belo Horizonte e Associação de Surdos.
O programa em números
- 2 centros de referência
- 7 núcleos personalizados
- 16 modalidades esportivas
- 936 alunos inscritos
- 10 profissionais de educação física
- 29 estagiários
- 1 médico
Para participar
- Ter acima de 6 anos de idade
- Apresentar laudo de deficiência.
- Informações:
- superar@pbh.gov.br e pelos
- telefones 3277-4546 e 3277-7681
Fonte: Secretaria Municipal de Esporte e Lazer
Enquanto isso... UFMG fora do Future-se
O Conselho Universitário da UFMG decidiu recomendar a não adesão da universidade ao Programa Future-se, lançado pelo governo federal no mês passado. Foram apresentados como argumentos para a posição a complexidade do tema, o pouco tempo para esclarecimentos, a falta de clareza, a insegurança jurídica e a ameaça à autonomia universitária.
“Os eixos centrais da proposta, cujas ações seriam delegadas a uma organização social, não levam em consideração os princípios que caracterizam as universidades públicas brasileiras: a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, que busca a formação acadêmico-científica de excelência aliada a uma formação cidadã”, pontuou, em nota, o órgão máximo de deliberação da federal, presidido pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida.
O texto lembra que o governo federal não anunciou ainda medidas para reverter o bloqueio de cerca de 30% imposto aos orçamentos das federais – no caso da UFMG, os cortes em custeio chegam a R$ 64,5 milhões.
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