O patrimônio cultural de Minas não para de surpreender – e sempre brilha em arte, beleza e história para encantar moradores e visitantes. Em Mariana, primeira vila, cidade, capital e diocese do estado, restauradores descobriram, sob camadas de tinta e do tempo, uma pintura datada do século 18, na Matriz Nossa Senhora da Conceição, no distrito de Cachoeira do Brumado, a 27 quilômetros da sede do município da Região Central. “Até o fim do mês, o serviço no interior da igreja, contemplando os elementos artísticos, deve estar pronto. Então, vamos fazer uma festa. Já conversei sobre isso com o pároco José Geraldo Coura”, disse o secretário municipal de Cultura, Turismo e Patrimônio Histórico, Efraim Leopoldo Rocha.
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Para conduzir o projeto, não foi preciso fechar a igreja. “Mesmo com os andaimes, todas as cerimônias religiosas vêm sendo realizadas. Cachoeira do Brumado tem uma cultura muito rica. É a terra das panelas de pedra e dos tapetes de sisal. A população zela muito pelo seu acervo, o que é muito importante para conservar.” Ressaltando a descoberta, Efraim conta que os fiéis e visitantes não terão muita dificuldade para ver a novidade, que está perto do arco-cruzeiro, entre o altar-mor e a nave. “Pelo tempo, estamos certos de que ninguém na comunidade viu essa obra antes da repintura”, acrescentou.
Entusiasmo
De acordo com a Prefeitura de Mariana, a pintura foi descoberta pelas restauradoras Sandra Godoy e Adenice Souza. Sandra explica que “o trabalho estava em procedimento de desmonte e restauro do arco- cruzeiro, raspagem e recuperação dos primeiros revestimentos feitos nos púlpitos e retábulos laterais” quando houve o achado, inesperado, dos primeiros vestígios do desenho. “Ao iniciarmos o procedimento do lado esquerdo, descobrimos que, antes da repintura, havia sido feita toda a remoção de uma pintura original, e já esperávamos que acontecesse o mesmo do outro lado. Quando passamos para o lado direito, no início da remoção, já fomos notando resquícios da original, que provavelmente era a mesma que havia no lado esquerdo. À medida em que íamos removendo, ela ia aparecendo.”
Para Adenice, não há prazer maior do que o da descoberta. “Buscamos, sempre, encontrar e recuperar algo, mas, quando não é possível, tudo bem. E a emoção da revelação de uma policromia concreta é muito gratificante, ainda mais que estávamos em procedimento final. Era a última etapa, então não esperávamos mesmo encontrar algo ali.” A restauradora reforça, ainda, o entusiasmo em entregar um templo restaurado à comunidade, ainda mais com tantas descobertas. “É uma das melhores partes do processo. As pessoas passaram a vida toda vendo uma composição e, quando é restaurada, elas não acreditam que havia tanta beleza escondida”, ressalta.
O restaurador Rafael Cruz, também integrante da equipe, dá detalhes da pintura: “Trata-se de uma obra de 1750, período marcado pela transição do barroco para o rococó. Ela é composta por desenhos de romãs, símbolo da imaginária sacra daquela época, rocalhas, folhas de acanto e uma voluta envolta por elementos florais. Sua policromia foi afetada pelo tempo e a estrutura conta com galerias de cupins. A partir de agora, passará por um processo de recuperação e preservação de seus elementos artísticos”.
Resgate
Para o prefeito Duarte Júnior, ações que resgatam a história e a preservação motivam o poder público a continuar destinando 100% dos recursos provenientes do ICMS Cultural para o Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural. “Nossa cidade, além de ser o berço da cultura mineira, é referência da arte barroca. O patrimônio histórico é prioridade em nossa administração. Buscaremos sempre o primeiro lugar no ICMS Cultural.”