Jornal Estado de Minas

REPORTAGEM DE CAPA

Terceira idade com apoio familiar: saiba o que fazer para garantir a segurança do idoso

Frederico da Silva Araújo Tavares, de 58 anos, e o sobrinho João Pedro Tavares, de 19, foram passar o dia com David Tavares, de 92 - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press

As casas de repouso podem ser aliadas das famílias que buscam melhor tratamento para idosos. Algumas se assemelham a hotéis de luxo, mas nem todas as famílias podem arcar com os valores cobrados, que variam de R$ 4 mil a R$ 15 mil na capital mineira. As instituições contam com equipe multidisciplinar para tomar conta do idoso 24 horas por dia. “A institucionalização deve ser feita em último caso. Às vezes, ela é a única solução, mas a família não pode transferir a responsabilidade, que é dela”, afirma o procurador Bertoldo Mateus Oliveira Filho, coordenador estadual de defesa do idoso. As famílias que colocam seus parentes em instituição e não prestam mais nenhum auxílio incorrem no crime de abandono, como prevê o artigo 98 do Estatuto do Idoso, com pena de seis meses a três anos e multa.

A escolha entre manter o idoso dependente em casa ou institucionalizá-lo não costuma ser fácil nem para a família nem para quem está necessitando de cuidados especiais. E se torna mais difícil diante de notícias como a dos maus-tratos aos moradores da Casa dos Idosos Acolhendo Vidas, em Santa Luzia. Redobrar a atenção é essencial.
“Existe certo preconceito sobre a institucionalização do idoso. Sensação de abandono ou de que os lugares são muito ruins, têm baixa qualidade de atendimento. Mas há várias instituições sérias, que investem em treinamento e infraestrutura física e conseguem proporcionar ao idoso uma qualidade de vida melhor até do que ele tinha em casa”, afirma o médico Guilherme Lemos Faria Tavares, responsável Casa de Repouso Pampulha Village. O Estado de Minas fez levantamento sobre a violência contra o idoso no estado.
 
 O envelhecimento da população brasileira exige mais atenção e cuidados com os idosos. “Esse fim de vida é cercado por suas dificuldades. As pessoas não desejariam naturalmente sair de suas casas. Mas o fato é que, quando se tornam mais dependentes para fazer as coisas básicas do dia a dia, nem sempre a família tem condições de cuidar e montar equipe, que acaba sendo staff grande para atender esse idoso, com profissionais se revezando”, disse. Guilherme defende que as instituições podem ser boa saída para as famílias que querem o melhor para o idoso, mas não têm condição de fornecer essa qualidade de vida por falta de tempo, por questões financeiras ou falta de espaço físico nos locais onde moram.

Aos 86 anos, Elíssia Rossi Dolabela participa de todas as atividades da casa de repouso e garante que a saúde está em dia - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press

A Casa de Repouso Pampulha Village foi construída especificamente para ser instituição para idosos.
Com isso, todo o projeto arquitetônico foi pensado para proporcionar melhor condição de vida e locomoção a pessoas da terceira idade, quando o risco de quedas é grande. Na casa, idosos seguem rotina com horários fixos de tomada de medicamentos, de banho e refeições. “Manter uma rotina é bom para o idoso que tem perda de memória, a rotina o faz se enquadrar melhor no dia a dia”, diz. No local, os idosos fazem seis refeições diárias. Entre elas, são realizadas várias atividades, tanto terapêuticas quanto lúdicas. “Acaba que o idoso ocupa seu tempo com atividades saudáveis. Mas ele não é obrigado a participar de tudo, a gente respeita o tempo de cada um”, diz o médico.

Elíssia Rossi Dolabela, de 86 anos, não rejeita nenhuma atividade. Ela brinca que está com o corpo de 30 anos e a mente superativa.
“Estou velha de idade, mas a cabeça é jovem”, diz. Todas as manhãs, ela faz alongamentos e a flexibilidade continua grande. Com facilidade, Elíssia coloca as mãos nos pés. “De manhã, rezo com 'Deus me deito, com Deus me levanto'”, conta.

O médico reforça que a casa contribui com a logística do tratamento, mas que o afeto da família não deve ser terceirizado. Ele lembra que em muitos casos a família se sente perdida diante das novas demandas do idoso. “A gente terceiriza os cuidados do dia a dia. Nunca terceiriza o afeto, o cuidado da família. O idoso quer pegar na mão do filho, ver se o neto cresceu.”

É o caso do assistente social Frederico da Silva Araújo Tavares, de 58 anos, e o sobrinho João Pedro Tavares, de 19, que foram passar o dia com David Tavares, de 92, hospedado na Casa de Repouso Pampulha Village. “Vir para cá foi uma decisão do meu pai”, diz Frederico. Os cinco filhos e netos se revezam nas visitas ao pai.
Eles levaram seis meses para escolher a instituição onde o pai moraria. Antes de David se decidir por uma, eles visitaram 10 instituições. David destaca a tranquilidade da casa.

AFASTE O RISCO

Ponto a ponto da segurança Do idoso que vive sozinho, auxiliado por cuidador ou institucionalizado

SOZINHO

  • Tenha sempre um número de emergência de alguém em quem confie para acionar quando se sentir em perigo
  • Tenha em mãos os telefones da Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros
  • Reforce as medidas de segurança da casa, assegure-se de que as trancas estão acionadas
  • Dê preferência para residir em locais iluminados
  • Os familiares devem fazer visitas constantes, sempre que possível
  • Não repasse a senha do cartão de banco para as pessoas nem assine nenhum documento dando acesso à sua conta
  • Procure o auxílio da família antes de fornecer dados ou assinaturas a pessoas alheias ao ambiente familiar

COM CUIDADOR

  • A família deve observar a rotina de trabalho do cuidador para saber como tem desempenhado as funções
  • Busque referência do cuidador em trabalhos anteriores. Descubra se fez curso para exercer essa função
  • Instale câmeras para acompanhar o dia a dia do idoso
  • Não repasse a senha do cartão de banco para cuidadores e não assine nenhum documento que dê acesso à conta
  • Não permita que o cuidador receba benefícios em lugar do titular

INSTITUCIONALIZADO

  • Busque informações sobre a instituição. Descubra se está regular junto à prefeitura, órgãos de fiscalização como a Vigilância Sanitária e o Ministério Público.
  • Converse com outros idosos que vivem no local para saber como se sentem e como é o tratamento
  • Visite o local para saber como é o ambiente, a estrutura e clima da instituição
  • Não permita que a casa retenha o cartão de benefícios do idoso
  • Denuncie se a unidade exigir assinatura de procurações para recebimento do benefício pelo idoso

Fonte: Coordenadoria Estadual de Defesa do Idoso

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