A Prefeitura de Pouso Alegre, no Sul de Minas, espalhou ao menos 25 placas pela cidade em que pede à população que não dê esmolas nas ruas da cidade. O pedido é seguido de números de telefones de locais para onde os moradores de rua devem ser encaminhados.
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Políticas Sociais, de janeiro a julho deste ano, 829 passagens foram emitidas para pessoas em situação de rua que estavam em Pouso Alegre e quiseram voltar para as cidades de origem. O secretário da pasta, João Batista de Lima, afirma que o número de pessoas permanentes nas ruas da cidade gira em torno de 50.
"Basta uma volta pelo Centro para ver pessoas em situação de rua pedindo esmolas em semáforos ou na porta de supermercados. E muita gente é generosa e dá uns trocados para quem pede. Isso não é correto", afirma o secretário.
"Você não tem nenhuma certeza de que aquele dinheiro que você doou naquele momento vai ser aplicado em alimento. Normalmente, esse dinheiro é desviado para bebida, drogas e outras coisas mais", diz Lima, que ainda lembra que comida e roupas eles recebem por meio de ações sociais de instituições e da própria secretaria.
Quem chega no Centro POP da cidade, local para atendimento de pessoas em situação de rua, recebe café, banho, roupa limpa e refeição. Também é verificado se precisa tirar novos documentos pessoais e é perguntado se a pessoa quer voltar para a cidade de origem ou buscar um emprego em Pouso Alegre. De acordo com a resposta, a assistência social faz o encaminhamento.
João Batista também diz que é grande número de pessoas em situação de rua que transita pelo município atraídas pelas notícias de que Pouso Alegre é uma cidade polo e com forte crescimento. Para o secretário, essas pessoas não vêm à procura de emprego. "Eles procuram uma oportunidade de receber alguma ajuda de esmola ou ajuda social."
Casal de Campinas está em situação de rua
Regiane Pereira, de 40 anos, e o marido Alexandre do Nascimento, também de 40, chegaram em Pouso Alegre há cerca de dois meses. Alexandre conta que moravam de aluguel em Campinas, interior de São Paulo, mas estavam desempregados e não tinham mais condições de ficar por lá. O casal decidiu seguir para Pouso Alegre, a 200 quilômetros de distância, para tentar um emprego de caseiro ou eletricista, ajudante de pedreiro.
"Até agora não conseguimos nada e estamos nesta situação. Mas espero que consiga. Já mandei currículo para um monte de empresa aí. Mas até agora não aconteceu nada", lamenta Alexandre.
O casal chegou a dormir nas ruas de Pouso Alegre e pedir esmolas para se alimentar. Hoje, os dois estão utilizando o apoio do Centro POP e o Albergue Municipal. Mas dizem que foram comunicados que após o frio deverão deixar o albergue. Se não conseguirem emprego até lá, voltarão para as ruas da cidade, já que não pretendem retornar a Campinas. "Acabou o frio, acabou. Aí nós temos que ficar na rua."
Sandro é um outro morador de rua. Ele não quis gravar entrevista. Não lembra ao certo quanto tempo está em Pouso Alegre, mas garante que faz mais de um ano. Sandro tem 37 anos e veio de Capivari (SP). Ela conta que prefere ficar na rua, não receber o apoio dos equipamentos da prefeitura. Ele recebe alimentação de voluntários e dorme debaixo de marquises.
Mulher queimada em discussão na rua
Há cerca de 10 dias, Vanessa Araújo, de 37, que pedia esmolas em um cruzamento em Ouro Fino, vizinha a Pouso Alegre, sofreu queimaduras graves no corpo. Um homem que estava no mesmo local fazendo malabarismo, na companhia de outra mulher, foi apontado como autor do ataque.
Segundo a Polícia Civil, eles se desentenderam por causa das moedas que os motoristas estavam dando a Vanessa. A mulher queimada foi transferida do Sul de Minas para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. O casal de malabaristas, que vivia em situação de rua, foi preso em flagrante.
(Magson Gomes, especial para o EM)