Depois de enfrentar mais de 100 mil casos de dengue e registrar cerca de 1.300 notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a doenças respiratórias, a saúde publica em Belo Horizonte enfrenta agora o terceiro pesadelo do ano: a ameaça do sarampo. A cidade entrou em alerta ontem, depois que um morador do interior de São Paulo, de 30 anos, com suspeita de contágio e de passagem pela capital, deu entrada na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Centro-Sul, no Bairro Santa Efigênia, na Região Hospitalar. O atendimento ao público chegou a ser interrompido e a unidade ficou isolada por quase cinco horas, para pôr em prática o protocolo de imunização de todos os que lá estavam e de desinfecção do local. A Secretaria Municipal de Saúde rastreia os passos do paciente paulista na tentativa de localizar pessoas que estiveram nos mesmos lugares por onde ele passou, para garantir a todas a prevenção. A partir de hoje, crianças entre 6 e 11 meses de idade também deverão ser vacinadas contra a virose em todo o país.
Ontem, agentes da Saúde municipal atuaram no hotel em que o homem se hospedou. “As pessoas têm um pouco de resistência. O hotel fica melindrado pelo fato de ter tido paciente com suspeita de sarampo, mas é preciso falar com os hóspedes que estavam lá e verificar a situação dos funcionários, para as pessoas se protegerem e protegerem suas famílias”, avisa a diretora de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, Lúcia Paixão.
O bloqueio vacinal foi feito também na UPA, assim que o homem deu entrada. A unidade de saúde foi fechada por volta das 10h e só reabriu às 14h50, depois do cumprimento de uma série de procedimentos. Pacientes, acompanhantes e funcionários foram vacinados e superfícies foram desinfectadas – providência necessária diante da alta transmissibilidade da doença. A cuidadora Elaine do Santos, de 44, acompanhava a mãe, que estava internada na unidade. Ela contou que não houve pânico nem tumulto. “Fecharam tudo, imunizaram as pessoas e nos deram máscaras. Os funcionários deixaram todo mundo muito tranquilo”, relatou.
O paciente com suspeita da doença foi transferido à tarde para o Hospital Eduardo de Menezes, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), no Barreiro, onde está isolado. De acordo com a Fhemig, o estado de saúde dele é estável. “O protocolo de bloqueio do local de atendimento do paciente com suspeita de sarampo é do Ministério da Saúde. O objetivo é impedir a circulação de pessoas enquanto se tomam essas medidas, porque a doença é extremamente contagiosa. A transmissão ocorre por via aérea e o vírus fica no ambiente por duas horas”, explica Lúcia.
Nesses casos, segundo ela, é fundamental ações imediatas para evitar a transmissão e não deixar que BH chegue a enfrentar o drama de São Paulo, onde mais de 1,6 mil casos já foram confirmados. “Um grande número de casos traz impacto para a assistência e há risco de óbito em crianças, principalmente as pequenas”, diz. A partir de hoje, será aplicada a chamada dose zero nos bebês. Pelo calendário de imunização, a vacina contra o sarampo é aplicada aos 12 e aos 15 meses de idade. “Como a situação epidemiológica estava tranquila, desde 2012 se vacinavam as crianças com 1 ano. Agora, voltaremos a imunizá-las mais cedo.”
Crianças
Em BH, a expectativa é proteger as 29 mil crianças que nascem por ano, moradoras da capital. O Ministério da Saúde anunciou o envio de 1,6 milhão de doses a mais para os estados. Na capital, a secretaria garante que há estoque. As doses estão disponíveis nos 152 centros de saúde, que funcionam de segunda a sexta-feira. Em Minas, o público-alvo é de cerca de 130 mil crianças, segundo a Secretaria de Estado de Saúde. As autoridades de saúde alertam que a dose zero não substitui as restantes, devendo as crianças serem vacinadas normalmente aos 12 e aos 15 meses.
A pediatra Andréa Chaimowicz, da Unimed-BH, diz que a decisão de vacinar os bebês mais novos é acertada. “É um público mais sensível, e para quem a doença é mais grave. O sarampo não tem tratamento e pode ser mais grave em menores de 3 anos. A doença, que é viral, pode ter complicação bacteriana causando pneumonia, encefalites e otite”, afirma. A médica lembra que, de maneira geral, houve relaxamento em relação à vacina. Assim, casos que vieram dos Estados Unidos, Europa e Venezuela encontraram terreno fértil no país, cuja cobertura vacinal está aquém do desejado. “A vacina é muito importante e não apenas a de sarampo, mas de todo o calendário de imunização”, alerta a médica.
O vírus na capital
Em Belo Horizonte, os últimos casos de sarampo autóctones (transmitidos no próprio território) foram registrados em 1997. Porém, a capital já tem neste ano a confirmação de pelo menos um contágio pelo vírus, de uma criança de 1 ano, que pode ter se contaminado em outra cidade do estado. Minas já confirmou quatro casos de sarampo em 2019, incluindo o de BH. Mas há o risco de a doença ter infectado mais pessoas. A Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG) já notificou 190 casos suspeitos em 73 municípios mineiros. Do total, 51 ainda estão sendo investigados.