Um dos símbolos da grande campanha de resgate dos bens culturais de Minas, ação que completa 16 anos este mês, está de volta à “terra natal”, 25 anos depois de furtada. Na tarde de ontem, o bispo da diocese de Oliveira, dom Miguel Ângelo Freitas Ribeiro, esteve em Belo Horizonte e levou de volta para a cidade da Região Centro-Oeste do estado a imagem de Santo Onofre, de madeira, do século 18, com 15,5 centímetros de altura. A entrega foi feita pela superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Célia Corsino, que manteve a peça em poder da autarquia federal desde outubro.
Satisfeito com a devolução da imagem e o retorno ao município distante 162 quilômetros da capital, dom Miguel Ângelo disse que a primeira providência será levar a joia do patrimônio – relativamente pequena no tamanho, mas enorme na importância – a uma capela dedicada ao santo que nasceu no século 3, em terras da atual Etiópia, na África. Na sequência, a imagem será apresentada a toda a comunidade na Matriz de Nossa Senhora de Oliveira e, futuramente, deverá ficar, ao lado de outros bens religiosos, no Memorial da Diocese.
O bispo tem esperança de que outras peças sejam devolvidas – no total, foram furtadas 35, metade do acervo do museu, o que levou à desativação do equipamento cultural. “É preciso entender que uma peça sacra não pertence a uma pessoa, mas ao patrimônio de Minas. Há uma identidade nacional e, muitas delas estão nas mãos de colecionadores”, afirmou. Ele lembrou ainda que, na época do furto, os ladrões foram presos, embora as peças nunca tenham sido devolvidas. “Devemos apelar para a consciência de quem está com as peças. Onde a polícia não chega, a consciência deve chegar”, resumiu.
Para Célia Corsino, a entrega da peça foi um encontro muito singelo, que deixou dom Miguel Ângelo emocionado. “O momento é oportuno para reacendermos e revigorarmos a campanha de resgate dos bens culturais de Minas. Nosso trabalho leva à conscientização e à devolução, como ocorreu com o Santo Onofre”, disse a superintendente do Iphan no estado, ao lado da coordenadora do Memorial da Arquidiocese de BH, Maria Goretti Gabrich Fonseca, integrante da Comissão de Bens Culturais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)/Leste, da qual dom Miguel Ângelo também faz parte.
Rastreamento
A identificação da imagem de Santo Onofre se tornou possível graças ao blog patrimoniocultural.blog.br, da Coordenadoria das Promotorias de Justiça do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC/MPMG), que mantém um banco de dados atualizado constantemente e disponível para consulta da população. Na busca no endereço eletrônico, a equipe do Iphan na capital paulista encontrou informações necessárias para fazer sua parte. A imagem foi entregue enrolada em plástico bolha, dentro de uma sacola de papel.
Na época de devolução, Célia Corsino ressaltou a importância dos inventários, com fotos e descrição detalhada, para identificação dos bens culturais desaparecidos, e da fiscalização constante. “Desde a década de 1980, a equipe do Iphan elaboraos inventários dos acervos. Atualmente, está sendo feita a revisão dos inventários na Região Norte de Minas. Por ser uma instituição nacional, o Iphan atua na fiscalização de leilões de peças sacras e obras de arte, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde eles ocorrem com mais frequência”.
A devolução ganhou contornos mais amplos, já que Minas lembra os 16 anos da grande campanha para resgate das peças sacras desaparecidas de igrejas, capelas e museus, ficando como marco os “Anjos de Santa Luzia”, retirados por ordem judicial de um leilão no Rio de Janeiro (RJ) após denúncia do EM. As autoridades mineiras ainda procuram centenas de peças desaparecidas, incluindo imagens sacras, como o Santo Onofre já encontrado, castiçais, sinos, pedaços de altares e outras. Na lista, com objetos desaparecidos desde 1848, há muitas obras atribuídas a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho 1738-1814), o “mestre do barroco”.
A vida do santo
Com o dia comemorado em 12 de junho, Santo Onofre nasceu no século 3, em terras da atual Etiópia, na África. É “forte” para quem quer abandonar o alcoolismo e, segundo a tradição, o pai dele, príncipe egípcio, jogou-o nas chamas, quando era criança, para comprovar se se tratava de um filho bastardo. O Livro dos Santos, de Noemí Marcos Alba, conta que “Deus não quis que sofresse dano algum e as chamas não lhe causaram nada”. Criado num mosteiro, Onofre, ao atingir a idade adulta, renunciou a seus direitos de príncipe: “Na Capadócia, atual Turquia, encontrou uma cova e nela viveu por 60 anos”. Durante as meditações, o ermitão se alimentava de tâmaras e água.
Onofre teve um discípulo chamado Pafúncio que, em sua última visita, encontrou o ermitão muito enfermo e agonizante. “Chegou a tempo de lhe dar a eucaristia e permaneceu a seu lado até o momento da morte”. Anos mais tarde, Pafúncio teria escrito a biografia de Onofre, que é representado como um “ancião com barba e longos cabelos, corpo muito delgado, sem roupa e afastado do mundo”.
Faça contato
Qualquer informação sobre as peças desaparecidas deve ser comunicada aos órgãos competentes. Veja quais os canais de informação:
Ministério Público de Minas Gerais, via Coordenadora das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC) – pelo telefone (31) 3250-4620, por e-mail
» seccultural@pmmg.mp.br ou carta para Rua Timbiras, 2.941, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte, CEP 30140-062
Iphan – (31) 3222-2440 /
(61) 2024-6342 / (61) 2024-6355 / (61) 2024-6370
» depam@iphan.gov.br, cgbm@iphan.gov.br e faleconosco@iphan.gov.br
Iepha – (31) 3235-2812 e (31) 3235-2813