Trafegar de carro pela Avenida Veneza, no Bairro Altinópolis, em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, nunca mais teve o mesmo significado para o eletrotécnico Rubens Carlos de Souza, de 62 anos. Ele nem sequer recorda o ano, mas calcula que foi por volta de 2006 que caiu com o seu carro no curso d'água que separa os dois lados da avenida.
Era por volta das 8h quando Rubens foi fechado por outro motorista. Na tentativa de desviar, perdeu o controle do carro e acabou caindo dentro do canal. O acidente poderia ter sido grave, não fosse pelo fato de o veículo ter ido na direção de uma das vigas de ferro que cortam a caixa do canal em quase toda a sua extensão. A estrutura metálica não resistiu ao peso, e acabou tombando com o veículo.
Ele havia acabado de retornar de uma viagem curta até o município de Pedra Corrida, para onde levou um grupo de pastores. Rubens acredita que esse foi um dos motivos para não ter sofrido um único arranhão. “Foi um milagre, foi a mão de Deus. Estava fazendo a obra de Deus, aí Deus cuida. Para não falar que não tive nada, precisei tirar o sapato, que estava todo molhado”, brinca. Isso, é claro, além do reparo do veículo – à época, cerca de R$ 3 mil.
Mas o que para Rubens foi só um susto, para as estatísticas mais recentes de acidentes na extensão do canal foi uma exceção. De 2014 para cá, foram pelo menos seis acidentes envolvendo carros, motos e até mesmo pedestres, resultando em quatro mortes e seis pessoas feridas.
Os acidentes chamaram a atenção da vereadora Iracy de Matos (Solidariedade), que chegou a apresentar um projeto de lei no ano passado obrigando o município a instalar as defensas metálicas, também conhecidas como guard rails, em todo o percurso de córregos e canais de Valadares. Mas o projeto não foi aprovado. Mesmo assim, o prefeito André Merlo (PSDB) se comprometeu a fazer as instalações a partir deste ano.
Início e paralisação
A prefeitura iniciou as obras de instalação das estruturas em 30 de maio. A etapa inicial consistia na colocação de 1.500 metros de proteção, de um total de 6,4 quilômetros. O trecho inicial vai da rotatória da Rua Sete de Setembro – próximo ao local onde Rubens sofreu o acidente em 2006 – até o cruzamento com a Avenida Itália.
Segundo a vereadora, porém, as obras foram paralisadas sem a conclusão total dessa etapa, que teria sido concluída somente em um dos lados da via. Há um mês, ela apresentou requerimento cobrando do Executivo informações sobre os motivos da interrupção.
Após contato com a Assessoria de Comunicação da prefeitura, a reportagem recebeu uma nota na qual a administração dá por concluída a primeira fase. “A segunda etapa da obra está em fase de compra de material, prevista para começar nos próximos 30 dias. Mesmo diante das dificuldades financeiras, a prefeitura tem se esforçado para realizar obras que melhorem a qualidade de vida da população e está executando intervenções do Plano de Mobilidade Urbana que incluem melhorias no trânsito por toda a cidade”, informa a assessoria.
(Bárbara Brandão, estagiária sob supervisão de André Manteufel, especial para o EM)