Jornal Estado de Minas

AÇÃO NA LAGOINHA

Pintura, música e mobilidade: rua da Lagoinha vira galeria a céu aberto a partir de hoje


Olhar para cima. A capital mineira já se consolidou como uma galeria a céu aberto quando acolheu as cores do Circuito Urbano de Arte (Cura), que continua “desacinzentando” empenas e transformando-as em grandes telas de arte. E começou hoje a programação da nova edição do programa, agora no berço da boemia: o Bairro da Lagoinha, na Região Nordeste de Belo Horizonte. A intervenção, que ocorrerá entre o hoje e o dia 15, contará com pinturas em muros de prédios e bares e ainda promete roda de samba na rua e show de pagode, retomando as tradições do bairro. Além do mais, o festival receberá AmBHulantes, um encontro cultural que convida o público a pedalar por ruas de BH. E quem passar pela via vai notar a diferença: a Rua Diamantina, recebeu uma intervenção com mudança do desenho viário para um modelo de Zona 30 – projeto que limita a velocidade para veículos em vias locais a 30km/h. A intervenção, feita pela prefeitura, inclui nova pintura, plantas, guarda-sóis e bancos que vão redistribuir o espaço da rua com o objetivo de tornar a convivência entre os pedestres, ciclistas e motoristas mais pacífica.





“O belo-horizontino pode esperar 11 dias de festa, de calor, que combina com samba, cerveja, pagode, encontros e muita felicidade”, disse a Juliana Flores, uma das idealizadoras do festival. O Cura é o primeiro festival de pintura em empenas da capital mineira. Em sua primeira edição em 2017, quatro prédios e dois muros foram pintados. Na edição especial em homenagem aos 120 anos de BH, o festival pintou dois prédios. Em 2018, mais quatro empenas e um muro receberam os grafites. Todos podem ser vistos da Rua Sapucaí, transformando a via no primeiro mirante de arte urbana do mundo.

Agora, o circuito realiza uma edição especial na Lagoinha, uma das regiões mais tradicionais da cidade, que também transborda arte e cultura. Para entender melhor a escolha do local é preciso voltar no tempo: os imigrantes italianos foram os primeiros a chegar. Enquanto trabalhavam na construção da nova capital, e mesmo depois de vê-la inaugurada em 12 de dezembro de 1897, foram se estabelecendo no Bairro Lagoinha, Região Noroeste. No início da ocupação, dois rios, hoje canalizados, se encontravam nessa área e formavam uma lagoa, vindo daí o nome que se tornou lenda na cidade, principalmente entre as décadas de 1930 e 1960.

Em intervenção da BHTrans, via é pintada para forçar a redução de velocidade no local (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


Cintura Fina, malandro que ficou conhecido na zona boêmia, a Loura do Bonfim, uma das lendas da cidade, ou o bloco carnavalesco Leão da Lagoinha (criado em 1947 e retomado em 2016, depois do renascimento do carnaval de rua em BH) são alguns dos nomes que ficaram no imaginário do belo-horizontino. Interessados em recontar toda essa história, as idealizadoras levarão o público a (re)conhecer o berço da boemia. “A nossa expectativa de público é de mil pessoas por dia passando pelo mirante. No primeiro fim de semana, estamos com a expectativa de 2 mil no sábado e outros 2 mil no domingo. No fim de semana de encerramento, a previsão é de 10 mil pessoas por dia passando pelo evento”, disse Juliana.



Uma das novidades é a edição do AmBHulantes durante a edição do festival. Trata-se de um cortejo de bicicletas que pedalará até a Lagoinha no sábado. Todas têm formato semelhante: começam com um cortejo musical guiado por ciclistas, que segue até uma praça, rua ou parque da cidade. No fim, o evento termina com mais um pedal musical, que faz o caminho de volta ao ponto de encontro, o galpão da Fósforo Cenografia, no Bairro Pompeia. “Somos, literalmente, ambulantes. Vamos para qualquer canto sem depender de uma grande estrutura”, contou o idealizador e produtor cultural Luiz Valente. Os vendedores ambulantes que fazem uso de bicicletas ou carrinhos de rua e têm a atividade como principal fonte de renda estão mais que convidados. Desde a sua concepção, o projeto tem a intenção de reunir esses trabalhadores e chamar a atenção para a importância do da atividade no contexto urbano.

Os percursos são sempre pensados para incluir todos: pessoas que não estão acostumadas a circular de bicicletas pela cidade, famílias com crianças e os cadeirantes, que terão acesso a uma bike-cadeirante, oferecida pela organização. “Também é uma ótima oportunidade para os iniciantes. Isso porque uma 'massa' de ciclistas pedalando juntos torna o trajeto muito mais seguro”, explicou. Na edição em parceria com o Cura o percurso será 8,6 quilômetros. O AmBHulantes vai contar com a parceria da Yellow. Pessoas que não têm bicicletas e queiram participar do cortejo musical podem usar as bikes da Yellow sem custo algum. O uso está liberado tanto na ida quanto na volta, ao final do evento. “Teremos de 15 a 20 bicicletas disponibilizadas para o percurso. Por isso, recomendados a quem pretende usá-las que chegue cedo”, disse Luiz.
 

Preparativos


Por falar em mobilidade, a via ganhou cores. Essa intervenção faz parte do que a BHTrans chama de Zona 30, uma reorganização do espaço urbano para forçar uma redução de velocidade de carros, motos, ônibus e caminhões, a um patamar de 30km/h, e, assim, garantir uma convivência entre diferentes atores do trânsito mais segura e harmônica. Esse tipo de intervenção já está em andamento na Savassi e na área hospitalar e a entrada da iniciativa fora da Região Centro-Sul começou pelo Cachoeirinha, atraindo a curiosidade dos organizadores do Cura.



Segundo a coordenadora de Sustentabilidade e Mobilidade da BHTrans, Eveline Trevisan, o Cura quer começar a movimentar a Rua Diamantina, fazendo com que as pessoas fiquem mais na via e por isso os organizadores se interessaram pelo formato que viram na Rua Simão Tamm, na Cachoeirinha.Com pintura, a BHTrans refez o traçado da via, criando curvas que obrigam os motoristas a reduzir a velocidade em um local onde o tráfego costuma fluir muito com velocidades maiores.

“A gente já fez a pintura da via como definitiva. A ideia é que esse já passe a ser o desenho da circulação dos carros. É um desenho muito mais sinuoso para forçar a redução de velocidade mesmo”, diz Eveline. Ela destaca que enquanto a prefeitura está estudando e também já implementando ações desse tipo na Savassi, na região hospitalar e no Cachoeirinha, surgiu um movimento natural solicitando a mesma mudança na Rua Diamantina. “Isso aqui é uma das maiores vitórias que a gente tem. Quando a cidade começa a pedir uma intervenção dessa, a gente enfrenta muito menos resistência”, afirma Eveline.

A expectativa é que a nova pintura esteja concluída hoje para permitir o início do festival. O produtor cultural Luiz Valente comemorou a iniciativa. “Sensacional. Depois das intervenções nos viadutos, os pedestres e os ciclistas perderam espaço no Bairro Lagoinha. É uma iniciativa que tenta recuperar, mesmo que um pouquinho. (…) Quando construíram os viadutos, esqueceram das pessoas. Então, que venham mais ciclovias, mais formas de passagem”, disse.




Confira a programação


HOJE

Mirante Lagoinha
» 16h20 às 22h – Auto Sound System convida DJ Alex de Sena

Casa Cura
» 16h às 22h – Exposição 10 anos do Bolinho
» 16h às 22h – Exposição da maquete Favela e Predim, de Diego de Paiva
» 19h às 21h – Aulão: A Lagoinha passada a limpo, com Daniel Queiroga/Casas da Lagoinha

Universidade Popular do Som
» 20h – Abertura dos trabalhos: Moisés Pescador canta a Lagoinha

Casa Rosa do Bonfim
» 18h – Quinta Xeque-Mate

AMANHÃ

Mirante Lagoinha
» 16h20 às 22h – Auto Sound System convida DJ Rafa Jazz (SP)

Casa Cura
» 16h às 22h – Exposição 10 anos do Bolinho
» 16h às 22h – Exposição da maquete Favela e Predim, de Diego de Paiva
» 19h às 20h40 – Cine Cura: Lagoinha, de Melquiades Lima (60') %2b Moradores (23'), Nitro
» 21h às 22h – Roda de conversa com os diretores e a moradora Cida Barcelos

Órbi Conecta
» 14h – (Pomme) Oficina Criative-se

Universidade Popular do Som
» 20h – Show Felipe Valderrama, o príncipe do reggae

SÁBADO (7/9)

Na Lagoinha
» 9h às 13h – Rolezinho Lagoinha, com Filipe Thales/Viva Lagoinha

Mirante Lagoinha
AmBHulantes no Cura
» 12h às 16h – DJs Vinil é Arte (Ngs Tuta Pedro Paiva Luiz Valente)
» 16h às 18h – DJ Luiz Valente
» 18h às 19h – Show Hot e Oreia
» 19h às 22h – Auto Sound System convida dj Luísa Loes

Casa Cura
» 16h às 22h – Exposição 10 anos do Bolinho
» 16h às 22h – Exposição da maquete Favela e Predim, de Diego de Paiva
» 15h às 16h30 – Apresentação de pesquisas sobre a Lagoinha: revista Marimbondo, Quanto tempo dura um bairro e Casas da Lagoinha

Universidade Popular do Som
» 16h20 – O hip-hop antes dos anos 90: workshop com Célio Soró e Doctor Bhu

Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira
» 8h às 18h – Sopros de Ayó

Ocupação Pátria Livre
» 13h às 19h – Aniversário de 2 anos da Ocupação Pátria Livre

DOMINGO (8/9)

Mirante Lagoinha
» 12h às 22h – Auto Sound System convida DJ Guto Borges
» 17h30 às 20h – Cortejo Bloco Babadan

Casa Cura
» 14h às 15h – Cine Cura: Encontro com Iemanjá para além do olhos, dir. Ricardo de Moura (Pai Ricardo). 60'
» 15h30 às 17h30 – Roda de conversa: Quem é a Lagoinha? Subjetividade dos Saberes Populares do Território 
» Rainha Bela (Guarda de Congo e Moçambique 13 de Maio), Mãe Ieda (benzedeira), Mãe Naná (Centro Umbandista Caboclo Naruê), Aline Tavares (jornalista e produtora cultural), Pai Joviano (Centro Espírita Pai Manoel de Aruanda), Pai Orestes (Tenda de Umbanda Caboclo Pena Branca), Thirey (Afoxé Ilê Odara) – Mediador: Pai Ricardo (Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente)
» 16h às 22h – Exposição 10 anos do Bolinho
» 16h às 22h – Exposição da maquete Favela e Predim, de Diego de Paiva

Universidade Popular do Som
» 14h – O Jequitinhonha no Cura. Show com Roberto Alcântara workshop Gastronomia do sertão

AmBHulantes:
» Data: 7 de setembro
» Horário do encontro: 9h
» Local de encontro: Rua Belém, 220, Bairro Pompeia
» Local de destino: Rua Diamantina, 720, Bairro Lagoinha
» Evento gratuito

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