Jornal Estado de Minas

VIADUTOS DE BH

'Pedras de Kalil' atacam os direitos humanos, dizem movimentos de população de rua

Colocação de pedras em baixio de viaduto do Complexo da Lagoinha. Prefeitura diz que objetivo é evitar fogueiras que possam prejudicar as estruturas - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Representantes dos movimentos da população em situação de rua participam de audiência pública na Câmara Municipal, nesta quinta (5), para discutir a colocação de pedras pontiagudas nos baixios dos viadutos em Belo Horizonte.  



A audiência foi convocada pelo vereador Pedro Patrus (PT), que lamentou a ausência de representantes da Prefeitura de Belo Horizonte. "Mais uma vez a prefeitura se faz ausente à audiência pública que é fundamental para Belo Horizonte", afirmou. Pedro Patrus desaprovou a ação da prefeitura, caracterizando-a como "política desumana e higienista". "Serão pedras e mais espinhos? Essa vai ser a política de BH?", disse reforçando que a implantação tem objetivo de inibir a permanência da população de rua naqueles locais.

Pedro Patrus questionou à alegação de Henrique Castilho, da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), que se trata de uma medida de segurança. O superintendente tem alegado que as pedras têm objetivo de evitar danos às estruturas causadas pela queima de materiais,  como fios de borracha para extração de cobre.



A vereadora Bela Gonçalves (PSOL) relembrou protesto realizado na quarta (4) em frente à prefeitura. "Ao colocar as pedras,  a arquitetura da cidade passa a mensagem de violência e exclusão. Quais as marcas que essas pedras passam? Pedra não é a solução", afirmou a vereadora. Ela defendeu que uma possível resolução  do problema de situação de rua é a implementação de políticas públicas de moradia.
Segundo ela, as pedras colocam em risco cerca de 10 mil pessoas, que estão em situação de rua.

Samuel Rodrigues, representante do Movimento Nacional de População em Situação de Rua, afirmou que a colocação das pedras fere a dignidade dessa população. "Colocar as pedras é uma forma de violência, uma agressão. As pedras de Kalil são a retirada dos pertences da    população de rua". Ele ressaltou que o baixio dos viadutos não são locais de moradia, mas para resolver o problema é preciso criar políticas de moradia, como o aluguel social.
 

Outro lado 

OUTRO LADO

Em nota, a prefeitura não respondeu diretamente sobre as alegações de que as pedras colocadas nos baixios representam uma ação higienista. A nota informou que: "a Prefeitura informa, por meio da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), que está executando obras no Boulevard Arrudas, no trecho que compreende a avenida do Contorno entre as ruas Vinte e Um de Abril e Rio de Janeiro e também o complexo viário formado pelas alças Leste (parte nova concluída em julho de 2018) e Oeste (parte antiga, também chamada de Nansen Araújo) do Complexo da Lagoinha. Estão sendo feitos serviços de urbanização, paisagismo, irrigação e iluminação. Os trabalhos iniciaram em abril de 2019, com previsão de término para o final do ano.

O investimento total é de aproximadamente R$ 5,7 milhões." 

 

 

A nota ainda detalhou o tratamento urbanístico na área de abrangência do canal do ribeirão Arrudas tamponado: realocação e/ou substituição de postes de iluminação pública em virtude de ajustes de algumas calçadas; implantação de canteiros permeáveis; readequação do mobiliário urbano; criação de percursos ajardinados e passeios confortáveis e acessíveis para circulação de pedestres, fornecendo estrutura para instalações de bancos; colocação lixeiras e equipamentos de ginástica; plantio de árvores; implantação de sistema de irrigação; execução de pista de skate (área sob o viaduto da nova alça do viaduto); execução de quadras, arquibancadas e vestiário de apoio (área sob o viaduto Leste).        

 

 

Por fim, a nota afirma que, no momento, não há programação de início de obras de tratamento urbanístico e paisagismo nos baixios de outros viadutos. 

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