Um estudo científico publicado na última quinta-feira, dia 29 de agosto, pela revista técnica ScienceDirect, da editora anglo-holandesa Elsevier, mostrou que a lama da barragem de Mariana, em Minas Gerais - estrutura da mineradora Samarco que se rompeu em 5 de novembro de 2015 -, atingiu os corais do Parque Nacional de Abrolhos.
A tragédia lançou mais de 50 milhões de metros cúbicos de lama no Rio Doce. Os pesquisadores lembram que os rejeitos de minérios de ferro ainda invadiam o oceano 17 dias depois do rompimento. Afirmam ainda que os impactos do estrago ambiental ainda são desconhecidos.
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"Apesar de não haver pistas de impacto negativo nas comunidades de corais, a análise isotópica confirmou a presença da pluma na área de recifes." O estudo servirá como base para futuras avaliações de impacto em longo prazo nos recifes de coral no banco de Abrolhos. O trabalho é assinado por um total de 15 pesquisadores.
No início deste ano, uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) apontou que lama de rejeitos da barragem tinha chegado ao Parque de Abrolhos. O levantamento detectou a presença de metais na região, como zinco e cobre.
O banco compreende uma área de 32 mil quilômetros quadrados de água rasa, com recifes de coral e manguezais, entre a Bahia e o Espírito Santo. Vazamentos no local atingiriam ainda e, em poucas horas, manguezais e recifes de corais, comprometendo a fauna e pesqueiros relevantes da região para pesca artesanal.
Na região está o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, onde ocorrem espécies endêmicas.
Em nota, "a Fundação Renova informa que realiza o monitoramento da pluma de rejeitos no Atlântico de forma integrada e utilizando metodologias diversas para avaliar a qualidade da água e do sedimento decorrentes do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). A análise compreende organismos marinhos de diferentes grupos para verificar a presença e concentração de elementos associados aos rejeitos.
Em relação aos bancos de corais dos Abrolhos, o monitoramento foi iniciado em setembro de 2018 e deve durar cinco anos. Os dados estão sendo recolhidos pela rede Rio Doce Mar, consórcio de 25 universidades do país, na porção capixaba do rio Doce e também nos ambientes costeiros e marinhos adjacentes. Estes dados serão analisados e, posteriormente, vão compor um relatório anual, que deve ser concluído até o final deste ano, com as primeiras interpretações das informações coletadas. Até o momento, os dados não indicam a ocorrência de danos aos recifes.
A ideia é que os dados coletados estejam disponíveis para consulta depois de validados pela Câmara Técnica de Conservação e Biodiversidade, que assessora o Comitê Interfederativo na fiscalização e avaliação dos estudos realizados pela Fundação Renova.
Vale salientar que o Banco dos Abrolhos compreende uma região que se estende desde as proximidades da foz do rio Doce até o parque dos Abrolhos.
Atualmente, são dez pontos de monitoramento localizados nos recifes do sul da Plataforma de Abrolhos, ao largo de São Mateus, e nos recifes do sul da Bahia, ao largo de Caravelas, compreendendo também o Parque Nacional Marinho. Cada um destes pontos monitora dez parcelas do topo do recife e dez das paredes. Na região do entorno dos recifes é realizado ainda o monitoramento da qualidade de água e sedimento, bem como estudos sobre a população dos peixes".
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