Sem acordo entre a Prefeitura de Belo Horizonte e os movimentos de defesa da população em situação de rua sobre a colocação de pedras nos baixios dos viadutos, a pendenga pode ser decidida na Justiça. A possibilidade de judicializar a questão foi levantada em audiência pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte, depois de a prefeitura não ter indicado representantes para participar da discussão feita na casa legislativa ontem. A defensora Júnia Carvalho, da Defensoria Especializada em Direitos Humanos Coletivos e Socioambientais, indicou que acionar a prefeitura na Justiça pode ser um caminho a seguir. “Nos caminhos do diálogo a gente não tem tido resultado. A Defensoria Pública busca o diálogo em primeiro lugar, mas a gente não tem tido resultado”, afirmou.
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'Pedras de Kalil' atacam os direitos humanos, dizem movimentos de população de ruaMovimentos ligados à população em situação de rua protestam contra instalação de pedras sob viadutosMais um 'tapete de pedras' sob viaduto de BH deve tirar 29 moradores de ruaPrefeitura retira moradores de rua de mais um viaduto na Lagoinha para iniciar obrasMinas vai do clima de deserto a chuva de granizo em um mesmo dia; saiba comoOs movimentos pontuaram que a colocação das pedras fere a dignidade dessa população, além de trazer para a cidade uma “arquitetura hostil". "Colocar as pedras é uma forma de violência, uma agressão. As pedras de Kalil são a retirada dos pertences, a negação do direito à água e ao banheiro público na cidade, a retirada de bebês das mães em situação de rua. As pedras do Kalil são as políticas de assistência social com vagas e atendimentos insuficientes diante da demanda das pessoas em situação de rua em Belo Horizonte", afirmou Samuel.
Ele ressaltou que os baixios dos viadutos não são locais apropriados de moradia, mas frisou que para resolver o problema é preciso criar políticas de moradia, como o aluguel social. A defensora Júnia Carvalho afirmou que a Prefeitura de Belo Horizonte não vem cumprindo determinações judiciais em favor da população em situação de rua. “Contamos com o Judiciário para ser firme com a prefeitura. Temos decisões muito importantes do Judiciário, como a que proíbe o recolhimento de pertences de pessoas em situação de rua, que têm sido ignoradas pela prefeitura”, afirma a defensora.
A pesquisadora Gabriela Bitencourt, do grupo de pesquisa Indisciplina, defendeu que a prefeitura precisa deixar claro qual a motivação e o quanto está sendo gasto para a colocação das pedras. A audiência foi convocada pelo vereador Pedro Patrus (PT), que lamentou a ausência de representantes da prefeitura. "Mais uma vez a prefeitura se faz ausente em audiência pública, que é fundamental para Belo Horizonte", afirmou. O vereador desaprovou a ação da prefeitura, caracterizando-a como "política desumana e higienista". "Serão pedras e mais espinhos? Essa vai ser a política de BH?", disse, reforçando que a implantação tem objetivo de inibir a permanência da população de rua naqueles locais.
O vereador petista questionou o argumento de Henrique Castilho, da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), de que se trata de uma medida de segurança. O superintendente afirmou à imprensa que as pedras têm objetivo de evitar danos às estruturas causadas pela queima de materiais, como fios de borracha para extração de cobre.
Também presente na reunião, a vereadora Bella Gonçalves (Psol) relembrou protesto realizado na quarta-feira em frente à prefeitura. "Ao colocar as pedras, a arquitetura da cidade passa a mensagem de violência e exclusão. Quais as marcas que essas pedras passam? Pedra não é a solução", afirmou a vereadora. Ela defendeu que a resolução do problema passa pela implementação de políticas públicas de moradia. Segundo a vereadora, as pedras colocam em risco cerca de 10 mil pessoas que estão em situação de rua.
Outro lado
Em nota, a prefeitura não respondeu diretamente sobre as alegações de que as pedras colocadas nos baixios representam uma ação higienista.
A nota ainda detalhou o tratamento urbanístico na área de abrangência do canal do Ribeirão Arrudas tamponado: realocação e/ou substituição de postes de iluminação pública em virtude de ajustes de algumas calçadas; implantação de canteiros permeáveis; readequação do mobiliário urbano; criação de percursos ajardinados e passeios confortáveis e acessíveis para circulação de pedestres, fornecendo estrutura para instalações de bancos; colocação de lixeiras e equipamentos de ginástica; plantio de árvores; implantação de sistema de irrigação; execução de pista de skate (área sob o viaduto da nova alça do viaduto); execução de quadras, arquibancadas e vestiário de apoio (área sob o viaduto Leste).
Por fim, a nota afirma que, no momento, não há programação de início de obras de tratamento urbanístico e paisagismo nos baixios de outros viadutos.
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