Os primeiros passos de Gabriel “Feijão” foram dados novamente. Gabriel Nascimento, de 15 anos, que teve a perna amputada após sofrer um grave corte provocado por linha chilena em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, começou a usar, na manhã desta terça-feira, a prótese que recebeu de presente.
A prótese foi concedida pelo fisioterapeuta Fabrício Daniel de Lima, diretor do Instituto de Prótese e Órtese (IPO) Brasil, que foi tocado emocionalmente pela história do adolescente. E é o mesmo doutor que acompanha a evolução de “Feijão” no caminhar.
Durante a sessão de fisioterapia, Gabriel se emocionou no consultório ao brincar com uma bola. O adolescente jogava futebol em um time de Betim e agora confia em ser um atleta paralímpico. Com a camisa do Atlético – seu time do coração –, o menino comemorou a primeira sessão com a prótese. “Ocorreu tudo bem, graças a Deus. É muito bom voltar a fazer o que eu gosto”, disse, já agradecendo o apoio do fisioterapeuta, amigos e familiares. “Todo suporte e carinho são fundamentais pra mim”.
Gabriel teve o desempenho elogiado pelo profissional, que prevê dez dias para o adolescente poder andar com a prótese em casa. “É gratificante ver ele andando, uma vitória”, disse o fisioterapeuta. O doutor Fabrício explicou que nessa fase a maioria dos pacientes ainda são presos a perda. Muitos demoram a aceitar e choram. Na contramão, o atleticano sempre manteve a positividade. “Ele nunca se abateu. Com certeza vai servir de exemplo para muitos outros. Costumo dizer que a realidade mudou, mas o sonho continua o mesmo”.
O profissional acredita que a serenidade é fator determinante para a eficácia do tratamento. “O jeito que ele conduz influencia na recuperação. É importante que o paciente desenvolva essa vontade de querer andar. Assim que o Gabriel colocou a prótese já se adaptou. Normalmente o paciente tem medo. Ele nem percebeu que era o primeiro dia, achava que era do corpo dele”, contou o doutor Fabrício.
O encontro do fisioterapeuta com o Gabriel só foi possível graças ao incentivo de pacientes e amigos, como a modelo Paola Antonini, e Patric, lateral-direito do Atlético, que como um passe para gol, sugeriram ao doutor que ajudasse o garoto. E conseguiram. O experiente profissional não desperdiçou a oportunidade e resolveu doar uma prótese e o processo de reabilitação durante um ano ao menino, que tem o sonho de virar atleta. As sessões de fisioterapia ocorrem de segunda à sexta e devem continuar até completa adaptação do gartoto.
Entenda o caso
Gabriel teve que amputar a perna esquerda por causa da irresponsabilidade de pessoas que ainda insistem em soltar pipas e papagaios utilizando cerol ou linha chilena.
O acidente ocorreu em 20 de julho, quando ele foi atingido por uma linha chilena que se prendeu em um ônibus. O artefato cortante acertou o garoto quando ele caminhava na calçada. Gabriel avistou a linha e tentou retirá-la do local para evitar um acidente. “Tentei retirá-la do caminho para que não machucasse um motoqueiro”, contou o jovem. Porém, o coletivo passou e arrastou a linha, perfurando a perna dele.
O menino foi socorrido por uma enfermeira e dois motociclistas que passavam pelo local e chamaram o Samu. Ele chegou ao hospital em choque e sangrando muito, em risco iminente de morte. O ferimento ocorreu na parte traseira do joelho. Gabriel passou por uma cirurgia e foi para o Centro de Terapia Intensiva (CTI), mas no dia seguinte teve complicações e precisou entrar novamente no bloco cirúrgico. Devido à gravidade dos ferimentos, a equipe médica optou pela amputação. Gabriel ficou internado por oito dias no Hospital Regional de Betim e se recupera em casa.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Frederico Teixeira.