Se a infraestrutura de pistas exclusivas para bikes ainda é um desafio em Belo Horizonte pela falta de manutenção e pela expansão não ter avançado de acordo com as metas do Plano de Mobilidade por Bicicleta de Belo Horizonte (PlanBici), como mostrou nosso teste pelos 90km de ciclovias de BH, um quesito mais fácil de ser resolvido também está estagnado.
Das seis estações de integração de ônibus da capital, apenas três têm bicicletários, enquanto as restantes usam um sistema de paraciclo, no qual a bike só fica travada em uma área que não necessariamente está dentro das estações. Situações como esta prejudicam muito o uso do chamado sistema intermodal, aquele no qual há integração de bicicletas com transporte público, com o uso de cada tipo de meio de locomoção de acordo com o perfil do deslocamento.
Das seis estações de integração de ônibus da capital, apenas três têm bicicletários, enquanto as restantes usam um sistema de paraciclo, no qual a bike só fica travada em uma área que não necessariamente está dentro das estações. Situações como esta prejudicam muito o uso do chamado sistema intermodal, aquele no qual há integração de bicicletas com transporte público, com o uso de cada tipo de meio de locomoção de acordo com o perfil do deslocamento.
- Estações de ônibus de BH com bicicletário
- Vilarinho
- Venda Nova
- Barreiro
- Estações de ônibus de BH com paraciclo (local para fixar bikes)
- Diamante
- Pampulha
- São Gabriel
- Horários para entrar com bicicleta em ônibus de BH (somente Move)
- Segunda a sexta: após às 20h
- Sábado: A partir das 14h
- Domingo e feriado: o dia inteiro
Apesar do bom exemplo de um espaço adequado para as bikes, os ciclistas enfrentam uma situação curiosa nas passarelas de acesso à Estação Vilarinho e ao shopping. Apesar da estrutura adequada para estacionar bikes, na rampa de acesso ao estacionamento há placas indicando que é proibido entrar com uma bicicleta. Na área destinada aos pedestres com acesso pela esquina da Avenida Vilarinho com a Rua das Macieiras, outra placa também proíbe as magrelas, aumentando a confusão.
O estagiário Adilson Carlos de Oliveira Júnior, de 22 anos, morador do Bairro São João Batista, em Venda Nova, usa com frequência o bicicletário do shopping. Ele pedala de casa para a faculdade, no Bairro Rio Branco, também em Venda Nova, e mantém o mesmo transporte da faculdade para a Estação Vilarinho, onde estaciona a bicicleta. De lá, segue de metrô até a Estação Central, trabalha no período da tarde e volta para Venda Nova de metrô ao fim do dia, de onde segue para casa com a bicicleta. “Acho muito prático, porque economizo tempo e também economizo financeiramente. Em 10 minutos, chego aqui e gasto esse mesmo tempo para voltar para casa de noite”, afirmou.
- O que é transporte intermodal?
- A integração entre dois meios de transporte diferentes é chamada de intermodal. No caso das bicicletas, a conexão pode ser feita com o trajeto de casa até uma estação pedalando, e o restante do caminho usando um ônibus ou metrô. Para isso, o terminal precisa oferecer uma estrutura chamada bicicletário, onde o ciclista pode trancar sua bicicleta com segurança, para pegar de volta no retorno.
- O que é um bicicletário?
- É uma estrutura fechada específica para o estacionamento de bicicletas, com suportes onde as bikes são fixadas com cadeados, chamadas de paraciclos. Os bicicletários mais modernos podem contar com ferramentas de reparo, bebedouros, bombas para encher pneus, entre outras facilidades.
- O que é um paraciclo?
- É a estrutura onde a bicicleta é travada, que não necessariamente precisa estar dentro de um ambiente fechado
Na Estação Pampulha, inaugurada há pouco mais de cinco anos para a Copa do Mundo, não há um bicicletário estruturado, apenas paraciclos antes da catraca com acesso pela Avenida Portugal. Mesmo cenário da Estação Diamante, no Barreiro, onde a estrutura para bicicletas fica do lado de fora da estação. “O ideal é uma estrutura que fique protegida dentro da estação ou então com alguma pessoa por conta fazendo a segurança”, diz o garçom Vanderley Ferreira, de 41, que já teve bicicleta, mas acabou desistindo de usar e é passageiro da Estação Diamante.
Na Estação Barreiro, o espaço é bem maior, porém, o bicicletário também fica na entrada da estação, sem uma segurança. Os ciclistas encontram uma bomba para os pneus, mas as ferramentas disponibilizadas em uma pequena estação de reparo foram arrancadas por vândalos. Já na Estação São Gabriel, o bicicletário fica ao ar livre, ao lado do terminal metropolitano, o que dificulta o acesso para usuários do Move municipal ou do metrô. A reportagem encontrou bicicletas presas na passarela que liga os dois terminais do Move, o que indica que bastaria o mínimo de estrutura para atrair ciclistas.
Transporte intermodal tem grande demanda
Carlos Edward Campos, integrante da Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo), destaca que o potencial do investimento em estruturas para permitir o acondicionamento das bikes nas estações e, consequentemente, a prática intermodal, tem um potencial muito grande de atração de ciclistas. “O custo é muito baixo e o impacto vai ser enorme, porque existe uma demanda reprimida muito grande para essa utilização. Você vê que as vezes a pessoa deixa a bicicleta em local inseguro, amarrado na grade da estação, com risco de roubar a bicicleta, porque precisa”, afirmou.
Para o consultor em transporte e trânsito Silvestre de Andrade, do ponto de vista de transporte a bicicleta é complementar, ela precisa se integrar aos meios de transporte públicos de massa. “As viagens curtas podem ser feitas com bicicleta. Você sai da sua casa e vai ao terminal de ônibus ou metrô deixando a sua bicicleta. Essa é a grande função dela. Você amplia o raio de influência daquela estação.”
A designer gráfica e artista plástica Bruna Caldeira, de 35 anos, tem uma bike dobrável elétrica e costuma usá-la no trajeto entre o Bairro Floresta e a Escola Guignard, no Magabeiras. Em vez de pegar dois ônibus, ela pedala até a Avenida Afonso Pena e entra em um coletivo até o alto da avenida, de onde segue para seu destino. “Com o uso da dobrável, economizo uma passagem, o tempo de espera, o deslocamento e paradas as do ônibus. Esse tempo é bem maior do que ir pedalando até o ponto do segundo ônibus. Além disso ganho em saúde, humor e qualidade de vida.”
A coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTrans, Eveline Trevisan, justifica a falta de melhorias nos bicicletários das estações pela falta de recursos. Mas, nesse ponto, ela diz que existe uma possibilidade de financiamento no valor de R$ 800 mil para implantar a estrutura necessária nas estações, que deveria estar pronta no ano passado, segundo as metas do Plano de Mobilidade por Bicicleta de Belo Horizonte (PlanBici). “Encaminhamos essa solução para avaliação da prefeitura, mas ainda não temos uma resposta definitiva. O ideal é que a gente tenha um bicicletário fechado, com bebedouro, um conforto na hora de deixar sua bicicleta, com sala fechada e controle de acesso”, diz ela."Se aparecer o recurso, a gente consegue implementar, porque temos um projeto que conseguimos avançar para todas as estações"
Eveline Trevisan, coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTrans
Diferentemente de outras ações mais complexas, como a construção de ciclovias, a meta dos bicicletários é mais fácil de ser implementada com a disponibilidade de recursos. “Se aparecer o recurso, a gente consegue implementar, porque a gente tem, ainda que não seja um projeto executivo, um projeto simples, que conseguimos avançar para todas as estações”, afirmou.
Integração pode atrair passageiros
A necessidade de investimentos para aumentar o número de ciclistas em BH é discutida em um momento que o sistema de ônibus da capital mineira busca ser mais atrativo para aumentar o número de passageiros. Dados do transporte público disponíveis no site da BHTrans mostram uma diminuição acentuada do número de pessoas transportadas nos últimos cinco anos.
Em 2014, foram 448,3 milhões de passageiros. O total caiu para 372,7 milhões em 2018, uma redução de 16,87%. Em agosto, quando o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra/BH) lançou um aplicativo de celular para os passageiros dos coletivos de BH, o presidente da entidade, Joel Paschoalin, disse que o sistema precisa de mais passageiros, já que nos últimos cinco anos a queda de pessoas transportadas é muito grande.
Para Carlos Edward Campos, da BH em Ciclo, esta é uma ótima oportunidade para as empresas aproveitarem o momento e colocarem em prática os investimentos necessários para trazer mais usuários ao sistema. “Se eles estão precisando de passageiros, está aqui uma boa demanda de passageiros reprimida, porque não tem onde deixar sua bicicleta. Com investimento baixo e uma possibilidade de retorno alta”, disse."O custo (do transporte intermodal) é muito baixo e o impacto é enorme, porque existe uma demanda reprimida muito grande para esse uso"
Carlos Edward Campos, integrante da BH em Ciclo
Também da BH em Ciclo, Marcos Gomes acrescenta que a BHTrans deveria fomentar essa mobilização, incentivando as empresas a implementarem as medidas. “Seria muito fácil e é muito barato. A gente enxerga como uma saída a integração de dois modais para resolver esse problema na cidade.”
Usuários cobram exemplo de incentivo
O ciclista Breno Bizinoto, que participou da elaboração do Plano de Mobilidade por Bicicleta de Belo Horizonte (PlanBici), diz que faz sentido que as empresas busquem esse investimento, mas o normal a se esperar de organizações que visam lucro é atuar apenas quando já existe alguma coisa em andamento e funcionando. “Quem tem que ter o pensamento ativo para a elaboração dessas ideias é o poder público. Parece arriscado propor a criação de uma estrutura para uma quantidade de ciclistas que ainda nem existe, mas a história já nos mostrou que quando se cria a oportunidade de um bom uso, os usuários aparecem.”
Consultor em transporte e trânsito, Silvestre de Andrade pontua que em um esquema de concessão de serviços, que é o caso do transporte público em BH, os custos das empresas são definidos com base em um contrato e a ampliação dos investimentos normalmente gera contrapartidas. “Se você impõe custos extras ao prestador do serviço, você precisa reequilibrar a questão de alguma forma. E no caso dos ônibus as empresas são remuneradas pela tarifa. Se for uma iniciativa própria deles, tudo bem, é iniciativa deles e ponto. Mas por questões legais quando o custo aumenta tem que haver um reequilíbrio.”
A avaliação da coordenadora de Sustentabilidade e Mobilidade da BHTrans, Eveline Trevisan, é que seria ótimo se as empresas se mobilizassem para assumir o investimento dos bicicletários. “É um jeito de chamar o ciclista para a integração com o ônibus”, afirma. Mas não há conversas nesse sentido entre a BHTrans e o Setra, segundo ela, porque as tratativas não são tão simples.
O Shopping Estação, responsável pelo bicicletário na Estação Vilarinho, informou que a estrutura segue os padrões estipulados em lei e que a quantidade de vagas atende à demanda do público. Porém, informou que está investindo para implantar nova sinalização e também está estudando o aumento de vagas. Já o Setra/BH informou que vem fazendo estudos não só para a melhoria do modal bicicleta, mas também para integrar todos os outros modais.