Jornal Estado de Minas

Nuvem de fumaça em BH, Exército em Montes Claros, militares de Minas na Amazônia: o fogo recorde de setembro

Experiência de bombeiros de Minas em diferentes biomas é fundamental em combate na floresta - Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

No mês historicamente crítico para a ocorrência de incêndios florestais, o fogo castiga a Grande BH,  Minas e o Brasil, tornando o enfrentamento às chamas uma batalha sem fronteiras, que envolve não só bombeiros, mas até militares do Exército e deslocamentos de reforços por diferentes áreas do estado e do país. Ontem, o território mineiro chegou à marca de 5.986 focos de calor detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), superando os 12 meses completos de 2018, quando foram 4.626. Com dados atualizados até a quinta-feira, setembro já registrava quase a metade do total de 2019, com 2.879 pontos de queimadas registrados, dado que só contempla as ocorrências de maiores proporções.

Cercada por chamas em áreas verdes, Belo Horizonte passou uma quinta-feira escaldante, envolta em uma nuvem acinzentada. A nuvem de fumaça, associada ao calor e à baixa umidade do ar, provocou um salto nos atendimentos de unidades como o Hospital Infantil João Paulo II, referência em pediatria na capital. A máxima na cidade chegou aos 35° graus, com umidade relativa do ar um pouco acima da crítica registrada na véspera: 16%, contra 12% de quarta-feira.

Desafio para os cidadãos e militares. Na tarde de ontem, o trânsito chegou a parar enquanto bombeiros combatiam um foco de incêndio próximo à Curva do Ponteio, na região em que se encontram a Avenida Nossa Senhora do Carmo e a BR-356, na Zona Sul da capital. Na véspera, o estado já havia registrado o recorde de focos de calor captados por satélite em um dia: 651, segundo o Inpe.

Operações especiais


Em outro extremo do país, na Amazônia, bombeiros e policiais de Minas começaram ontem a se preparar para levantar voo e voltar às bases após exaustivos dias de combate às chamas (leia abaixo). O país registrou até este mês 129.140 focos de calor, 47,4% deles na região amazônica.
O cerrado, bioma que ocupa grande parte de Minas Gerais, aparece em segundo lugar, com 35% das ocorrências registradas por satélite.

Enquanto bombeiros mineiros atuam na Amazônia, o estado conta também com militares do Exército para combater as chamas dentro de suas divisas. Ontem, um grupamento de 39 homens do 55º Batalhão de Infantaria de Montes Claros passou a integrar a força-tarefa que tenta debelar as chamas na Serra do Mel, situada perto da área urbana do município do Norte de Minas. A vegetação arde na unidade desde domingo, segundo o Corpo de Bombeiros, e até a tarde de ontem as chamas haviam devastado o equivalente a 80 campos de futebol.

Os militares do Exército se juntaram a 46 bombeiros, brigadistas do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e voluntários, que somam esforços na tentativa de controlar o incêndio. O trabalho de combate também é feito pelo ar, com o uso do helicóptero Guará, do IEF. As equipes se esforçam para impedir a chegada das chamas ao Parque Estadual da Lapa Grande (14 mil hectares), situado na mesma região e que abriga cavernas e sítios arqueológicos, além de nascentes.


Missão de Minas atua na Amazônia


Além de enfrentar os quase 3 mil focos de calor que castigaram Minas Gerais apenas neste mês, militares de Minas se empenharam em uma missão nacional de combate, no bioma que atrai as atenções de todo o mundo. Na Amazônia, se depararam com árvores com mais de 20 metros desabando em chamas no meio da selva e esmagando o que havia pela frente.

Segundo os envolvidos no combate, na região o fogo traiçoeiro se alastra por entre uma camada de meio metro de folhas secas sobre o solo, podendo aflorar sem aviso, em qualquer direção. Ventos imprevisíveis, calor equatorial e distâncias amazônicas entre focos longínquos compõe o cenário de riscos elevados em meio às chamas que consomem a floresta

É nesse chamado “inferno verde” que 27 militares mineiros batalham contra as chamas no estado do Pará, desde o dia 5, com efetivos do Corpo de Bombeiros Militar e da Polícia Militar, como parte de um esforço de 280 combatentes da Operação Verde Brasil, do governo federal.

Da selva que abriga a maior biodiversidade do planeta, os bombeiros mineiros contaram ao Estado de Minas sobre os desafios que enfrentam para preservar um dos maiores tesouros naturais do Brasil.
“É nosso dever colaborar com a preservação deste ecossistema, bem como uma forma de retribuição a todos os que apoiaram a Operação Brumadinho”, disse o major Ivan Santos Pereira Neto, de 40 anos.

Comandante dos militares do Corpo de Bombeiros de Minas na região, ele lembra que o rompimento das barragens de Brumadinho mobilizou resgatistas de todo o Brasil. “Meu último empenho foi no rompimento da barragem em Brumadinho. Lá, recebemos ajuda de diversas forças, que se juntaram à nossa causa e nos prestaram excelente apoio”, lembra o oficial.

Do 1º de setembro ao último dia 18, o bioma amazônico registrou 14.347 focos de incêndio, segundo o Inpe. O número de focos de queimadas de agosto foi de 30.901 pontos de queimada, o maior desde 2010. A situação gerou comoção internacional chamou a atenção para a necessidade de apoio no combate aos incêndios na região.

Os militares mineiros desembarcaram em Novo Progresso, no Sudoeste do Pará, onde combateram focos que se alastram por mais de oito quilômetros na Reserva Biológica Serra do Cachimbo, área de proteção que abriga grande biodiversidade e nascentes fundamentais para o Rio Amazonas, como a do rio Tapajós.

O Corpo de Bombeiros destacou 20 militares para a missão, de todas as regiões do estado e do Batalhão de Emergências Ambientais e Desastres (Bemad). Entre os selecionados há agentes que atuaram em grandes incêndios, na Serra da Canastra, em Araxá (Alto Paranaíba), no Parque Estadual Coxá e Gibão, em Januária (Norte), no Parque Estadual Serra do Rola Moça, em Belo Horizonte, e também nos desastres de Mariana e Brumadinho.

Experiência


Uma das vantagens da tropa mineira é a grande experiência em incêndios florestais no estado, um dos poucos do Brasil que abrigam vários biomas – mata atlântica, cerrado e mata seca. “Essa diversidade de biomas permite que nossos militares tenham expertise no combate a incêndios florestais, condição essencial para o sucesso das operações”, defende o oficial.

Baseados no Campo de Provas Brigadeiro Veloso, da Força Aérea Brasileira (FAB), os bombeiros precisam ser lançados de helicópteros nas áreas consumidas pelo fogo. Um dos mais experientes é o tenente Leonan Soares Pereira, de 30, comandante do Pelotão de Combate a Incêndios Florestais do Bemad. 

O militar destaca a necessidade de uma tropa que conheça os perigos envolvidos nesse tipo de combate.
“O tipo de terreno exige atenção especial, principalmente com a segurança nas operações, pois, qualquer mudança nas condições de tempo e vento pode colocar o bombeiro em situação de perigo, inclusive cercando a equipe. Outra situação complexa é a queda de árvores de grande porte que estão incandescentes e tem raízes atingidas pelo fogo”, conta.

A missão dos militares mineiros deve terminar hoje. Na operação atuam também integrantes do Exército, Aeronáutica, bombeiros do Rio de Janeiro e Paraná, Ibama, ICMBio, policiais do Paraná, além do apoio do governo do Chile, que disponibilizou quatro aeronaves tipo Air Tractor, que têm capacidade de armazenar 3 mil litros de água cada, para combater as chamas.
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