Jornal Estado de Minas

Fonte da Pampulha será religada, mas poluição ameaça turvar espetáculo

Hoje desligado, o equipamento da fonte inclui quatro fortes jatos de água instalados sobre uma plataforma flutuante - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
Uma fonte de ornamentação em um lago que visto à distância merece o status de cartão-postal, mas cujas águas, observadas de perto, são o retrato da poluição e de um desafio que Belo Horizonte não consegue superar. As águas da represa da Pampulha, castigadas pela seca e pela sujeira que chega diariamente pela maioria de seus afluentes, terão de volta um equipamento que completava a paisagem e que há tempos estava inativo: a fonte ornamental instalada próximo à barragem passará por revitalização, e deve voltar a jorrar em três meses, a um custo estimado em R$ 162 mil.

Mas a ordem de serviço que vai possibilitar reativar a atração chega em um momento em que moradores e turistas voltam a se deparar com água densa e verde, a proliferação intensa de algas, o acúmulo de lixo e o mau cheiro, que se intensificam em época de escassez de chuvas. Mesmo com o processo de tratamento da água, o reservatório ainda se encontra em um nível de contaminação que possibilita apenas contatos indiretos e esporádicos, sob risco de prejudicar a saúde humana.


A fonte ornamental foi um presente dado à população em 2002, quando a capital mineira completou 105 anos. O equipamento está localizado a aproximadamente 100 metros do vertedouro, na confluência das avenidas Doutor Otacílio Negrão de Lima, e Pedro I. O projeto é dos arquitetos Gustavo Penna, Álvaro Hardy e Mariza Machado. O equipamento funciona com quatro fortes jatos de água instalados sobre uma plataforma flutuante. Os seus bicos aspersores são equipados com dispositivos de regulagem que permitem ajustes do ângulo de projeção de cada jato, assim como a direção e a altura. Porém, a beleza produzida no ponto turístico não é vista há algum tempo.
De acordo com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), uma pane no transformador fez com que o equipamento parasse de funcionar. A data da paralisação não foi informada pela pasta. A fonte terá que passar por manutenção geral. Para isso, uma licitação foi publicada no Diário Oficial do Município (DOM) neste mês. A ordem de serviço foi assinada nesta semana.

A empresa escolhida para os trabalhos deverá realizar os serviços de reparos dos motores ,do transformador, do quadro de proteção e comando elétrico, além dos bicos aspersores de jato d'água. "O prazo para prestação dos serviços é de 90 dias corridos contados a partir da data de emissão da primeira ordem de serviço e o custo estimado é de aproximadamente R$ 162 mil", informou a Sudecap.

Fonte foi inaugurada em 2002 - Foto: Euler Júnior/EM/D.A Press - 11/12/02
POLUIÇÃO Enquanto a fonte ornamental não volta a embelezar ainda mais a Lagoa da Pampulha, a paisagem no reservatório, patrimônio cultural da humanidade, não é das melhores. A poluição no espelho d'água está visível mesmo com os esforços da Prefeitura de Belo Horizonte para a limpeza.
Quem passa diariamente próximo à lagoa se depara com água esverdeada. Nas margens, a sujeira se acumula. O videomaker Gabriel Lucas, de 21 anos, ficou tão chocado com a sujeira da água que resolveu parar para perguntar o que estava acontecendo à empresa que realizava a limpeza. “Moro aqui na região, no Bairro Ouro Preto, e passo pela orla sempre. Há três meses não estava assim. Fico muito incomodado. Preocupo-me muito com a questão ambiental”, afirmou. Ele ressaltou que o tom esverdeado e mau cheiro são provenientes da proliferação das cianobactérias.
“Elas cobrem a água e o sol não consegue penetrar. Então, tudo que está embaixo morre”, disse.

Morador do Bairro Castelo, o vendedor Erik Brito, de 45 anos, passeava pela orla na tarde de ontem e lamentava que a sujeira tenha tomado conta do cartão-postal. “Tudo é muito lento. A máquina do Estado está sucateada. A associação de moradores faz o possível para defender a lagoa, mas o cronograma não é cumprido. Por ser um cartão-postal, local importante para o turismo, deveria ser mais ágil”, pontua.

METAS A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smobi) afirma que o objetivo das ações realizadas na Pampulha é manter o enquadramento da água como Classe 3, que permite contatos indiretos com a água. Os remediadores aplicados na lagoa aumentaram a capacidade de autodepuração da água, de forma que ela responde em curto prazo às agressões provocadas pelos poluentes.

Erik Brito, morador da região, reclama de lentidão na adoção de soluções para o manancial - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
O último levantamento feito na água da lagoa apontou que quatro dos cinco indicadores apresentaram valores inferiores aos limites estabelecidos para Classe 3. São eles: clorofila a, cianobactérias, coliformes termotolerantes e Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). “Já a concentração de fósforo total ficou um pouco acima da meta estabelecida, apesar de ter sido viabilizada uma redução aos níveis de 50% da condição inicial”, afirmou a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smobi). “Em virtude da concomitância com a execução dos serviços de desassoreamento da lagoa, que implicam o revolvimento do lodo depositado no fundo do reservatório ao longo de anos, estão sendo observadas concentrações de fósforo nas águas da Lagoa até seis vezes maiores do que aquelas observadas sem a execução da dragagem.
Ainda assim, a condição ambiental observada atualmente na Lagoa da Pampulha é bastante satisfatória, sem sinais de eutrofização”, completou a pasta.

O tratamento é feito por dois remediadores. Segundo a Smobi, um deles tem a função de degradar o excesso de matéria orgânica (Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO) e reduzir a presença de coliformes fecais (E. coli). O outro é capaz de promover a redução do fósforo e controlar a floração de algas. O investimento no serviço é de R$ 16 milhões. O contrato vigente foi iniciado em outubro do ano passado e tem duração de 12 meses. 

Os serviços do tratamento de água da lagoa foram iniciados em março de 2016. O contrato se encerrou no início de 2018. Por sete meses, os trabalhos deixaram de ser realizados no manancial, durante os trâmites para uma nova licitação. A retomada ocorreu em outubro de 2018.


LIMPEZA Em nota, a  Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que faz, diariamente, a limpeza do espelho d’água da Lagoa da Pampulha, com a utilização de dois barcos e uma balsa. Cerca de 30 homens trabalham todos os dias nessa manutenção.
O volume de lixo flutuante recolhido diariamente é, em média, de cinco toneladas durante o período de estiagem e 10 toneladas no período chuvoso. Desde setembro de 2018 também estão em execução os serviços de desassoreamento e de tratamento da qualidade das águas da Lagoa da Pampulha, para a remoção de áreas emersas, inibição do processo de eutrofização (excesso de algas e maus odores) e a promoção do reequilíbrio do ambiente aquático.

“O longo período de estiagem, associado às altas temperaturas e à baixa diluição dos poluentes e nutrientes, propicia uma piora no aspecto das águas. A tendência é que passadas as primeiras chuvas, rapidamente o espelho d'água volte a apresentar melhores condições, pois as ações de tratamento que vêm sendo realizadas pela Prefeitura tornaram a Lagoa da Pampulha muito mais resiliente, respondendo em curto prazo às agressões”, informou a Sudecap.


O PESO DO LIXO

Resíduos recolhidos na orla e na Lagoa da Pampulha

» Lixo fluente: cinco toneladas durante o período de estiagem e 10 toneladas em época de chuva

» Varrição: 2 toneladas recolhidas nas três varrições semanais

» Carcaça de coco: 1 tonelada por dia de segunda a domingo

» Coleta domiciliar: 3,5 toneladas/dia, três vezes por semana

» Capina: 20 toneladas de resíduos em toda a orla a cada 2 meses

» Deposições clandestinas: 6 toneladas por semana

Fonte: SLU e Sudecap

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