As ocorrências de incêndios em áreas urbanas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, além de apavorar vizinhos das áreas em chamas representam um desafio a mais para militares do Corpo de Bombeiros. As labaredas que se alastram pela vegetação em lotes vagos ou em encostas localizadas em regiões habitadas representam exigências e dificuldades específicas para os combatentes.
“Nas áreas urbanas, os problemas são vários. Temos a questão do trânsito, que é um complicador para chegar rapidamente às ocorrências, temos muitos lotes vagos, onde o fogo é colocado de forma criminosa. Além disso, vários condomínios estão situados próximos a matas”, enumera o tenente Herman Ameno, assessor de comunicação da corporação.
“Nas áreas urbanas, os problemas são vários. Temos a questão do trânsito, que é um complicador para chegar rapidamente às ocorrências, temos muitos lotes vagos, onde o fogo é colocado de forma criminosa. Além disso, vários condomínios estão situados próximos a matas”, enumera o tenente Herman Ameno, assessor de comunicação da corporação.
A geografia de Belo Horizonte e das cidades do entorno também dificulta o trabalho, diante das áreas íngremes na área urbana, que exigem técnicas especiais. “A topografia também é um desafio. Temos vários locais de difícil acesso e ermos. Alguns são tão íngremes que fica difícil a chegada a pé. Por isso, em muitas ocasiões é necessário o uso de aeronaves para fazer o lançamento de água e para a inserção de militares no terreno”, afirmou.
Nos últimos dias, o aumento dos incêndios, aliado ao clima, deixou Belo Horizonte tomada pela fumaça. Os dados sobre o número de ocorrências deste tipo atendidas pelos bombeiros em setembro ainda não foram divulgados. Mas, nos primeiros oito meses do ano já foi computado aumento de 44,9% em Minas Gerais, de 35,09% na Grande BH e de 10,41% na capital mineira.
“A gente projeta algumas questões que podem ter motivado essses números. As temperaturas estão elevadas, a umidade relativa do ar está muito baixa e isso faz com que a vegetação fique mais ressecada. Além disso há a incidência de ventos, que dependendo da região favorecem a propagação das chamas”, explicou.
“A gente projeta algumas questões que podem ter motivado essses números. As temperaturas estão elevadas, a umidade relativa do ar está muito baixa e isso faz com que a vegetação fique mais ressecada. Além disso há a incidência de ventos, que dependendo da região favorecem a propagação das chamas”, explicou.
O tenente ressalta que a grande maioria dos incêndios é provocada por causas humanas. “Setembro é o mês mais crítico do ano, com incidência maior de queimadas, não apenas de grande extensão, como vários focos menores. Nosso apelo é para as pessoas, pois 99% dos incêndios são ocasionados por ação humana. Temos a fauna, a flora, as nascentes e os mananciais atingidos. Também há danos à saúde, como os problemas respiratórios”, enumera.
Parte da rotina
O pacote de efeitos nocivos para a saúde e a natureza é bem conhecido dos vizinhos do fogo em Belo Horizonte. Só na semana que passou, ocorrências nos bairros Belvedere (Centro-Sul), Estoril e Buritis (Oeste) provocaram corrida de moradores ao telefone, com uma chamada em comum: o número 193, do Corpo de Bombeiros.
Diante dos incêndios recorrentes, há quem, inclusive, se adiante e crie suas próprias defesas contra a propagação das chamas. São os chamados aceiros, áreas em que a vegetação é removida da superfície do solo, evitando o avanço das labaredas em direção às moradias e outras construções.
Moradores de um prédio ao lado da área da Copasa que pegou fogo na sexta-feira, no Bairro Buritis, Bernardo Duque, de 54 anos, e Gustavo Sardilli, de 41, viram da janela de seus apartamentos o fogo consumir a área verde vizinha.
Apesar de distantes, as chamas significavam alerta, justamente no dia que precede o descanso do fim de semana. “Moro aqui há quatro anos. A gente sempre acredita que vai chamar os bombeiros e eles vão aparecer, mas nem sempre isso acontece. Se tivessem vindo mais cedo, o fogo seria apagado com mais facilidade, agora (na noite de sexta), fugiu do controle”, reclamou o empresário Gustavo Sardilli, enquanto olhava para a cobertura tomada pelas cinzas, fumaça e sujeira trazidas pela ocorrência.
Vizinho de baixo de Sardilli no prédio da Rua Senador Lima Guimarães, Bernardo Duque mora no Buritis desde 2003. Ele conta que a situação é comum na região. “De 2003 para cá, é a segunda vez que o fogo chega aqui perto da gente. Da primeira vez de que me lembro, há uns quatro ou cinco anos, chegou ainda mais próximo.
Não é uma coisa tão recorrente, mas a Copasa já saiu cortando o mato a uma determinada distância do nosso muro (para fazer aceiros), desde lá de cima (no encontro da mata com a Avenida Raja Gabaglia) até aqui no prédio”, explicou o funcionário público.
Não é uma coisa tão recorrente, mas a Copasa já saiu cortando o mato a uma determinada distância do nosso muro (para fazer aceiros), desde lá de cima (no encontro da mata com a Avenida Raja Gabaglia) até aqui no prédio”, explicou o funcionário público.
Também morador do Buritis, Solismar Amorim, de 50, se preocupa com a saúde dos familiares nesta época do ano. “Para combater é complicado, porque os bombeiros demoram muito. Tenho uma garotinha de 3 anos que fica com dificuldade de respirar com tanta fumaça e com o clima seco”, afirmou o morador, justamente na semana em que a Defesa Civil registrou 12% de umidade relativa do ar em Belo Horizonte, a menor do ano.
Sofrimento até para motoristas
Os incêndios urbanos trazem, além de medo, transtornos para a rotina da cidade. Quem passou pela rodovia BR-356 na última quinta-feira enfrentou trânsito lento nas proximidades da chamada Curva do Ponteio. Geralmente causado pelo acúmulo de veículos, o engarrafamento da vez tinha outra razão: um incêndio que se espalhava pela mata do Parque das Nações, entre a estrada e a Avenida José Maria Alkimin, no Bairro Belvedere.
Um morador, que não quis se identificar, contou como foi a luta para evitar que as chamas invadissem sua casa. “Está muito seco e todo ano acontece isso: o fogo vem se alastrando, chega às copas das árvores e quase entra na minha casa. Hoje (quinta), os bombeiros não chegaram a tempo e a vizinhança toda ajudou com baldes e mangueiras”, relatou.
Convivendo com as queimadas, o morador fez um aceiro por conta própria. “Empurrei esse mato para mais longe, e foi isso o que impediu o fogo de entrar na casa. Ainda assim, está pura fumaça lá dentro. Vai demorar semanas para passar, e exigir muita limpeza”, lamentou.
Enquanto isso...
...E a chuva?
O tempo continua seco em Minas. Ontem, houve registro de 13% de umidade relativa do ar em Unaí e Paracatu, na Região Noroeste. Em Belo Horizonte o índice subiu para 26%, bem dife- rente da quarta-feira, que bateu recorde de secura, com taxa de 12%. Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), há previsão de chuva apenas para as regiões Sul de Minas, Campo das Vertentes e Zona da Mata. Para BH, a mudança deverá ocorrer a partir de quarta-feira, com previsão das primeiras chuvas para apagar a poeira, reduzir o calorão e, principalmente, afastar os incêndios.