Josiane Pereira, Isabela Gentil Reis Costa da Silveira, Grazielle Serra Pereira Santana, Karine Cardoso do Prado, e, agora, Leydislaine Barbosa Campos. Essas mulheres representam a triste realidade de Belo Horizonte, onde o crime de feminicídio dispara. As cinco foram assassinadas nos últimos 22 dias, dentro do mês em que as ocorrências de assassinato por menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero se multiplicaram. Já são 14 casos em 2019, o dobro do registrado no ano passado, sendo que 35,7% foram em setembro. A última morte ocorreu no domingo. Leydislaine foi assassinada a facadas. O principal suspeito é o companheiro, que, segundo informações do irmão à Polícia Militar, desconfiava de traição. Ontem, a Polícia Civil prendeu um homem que confessou ter matado a companheira no fim de agosto no Bairro Betânia, na Região Oeste da capital.
Leia Mais
Madrugada violenta deixa três mortos e uma mulher ferida na Grande BHHomem mata companheira com golpes de pé de cabra em BHHomem mata companheira com 11 facadas em BHMulher é morta a marretadas pelo ex em Contagem após briga por terrenoHomem mata mulher depois toma chumbinho em BarbacenaPasseata pelo fim da violência contra mulheres marca "Dia Laranja" em BHAmérica Latina é pioneira no reconhecimento dos feminicídiosMulher é vítima de tentativa de feminicídio em Nova Serrana'Medida protetiva tem se mostrado um instrumento poderoso de proteção', diz promotora de JustiçaAdolescente de 15 anos é baleada em Nova Lima; suspeito é o ex-namoradoMulher é agredida por marido que não aceita fim do relacionamentoVítima de feminicídio, mineira é encontrada dentro de uma mala em PortugalHomem é condenado a 12 anos de prisão por tentar matar mulher que negou sexo em JanuáriaPolícia prende suspeitos de fabricar drogas para festas na Região Centro-Sul de BHOperação mira agentes públicos envolvidos com quadrilha em Minas e São PauloDurante os levantamentos sobre a autoria do crime, diversas denúncias anônimas foram recebidas, dando conta de que o suspeito seria o marido da mulher. Testemunhas informaram que ele teria fugido de moto. Segundo a PM, o irmão dele relatou aos policiais que o homem tinha ligado dizendo que tinha certeza de que estava sendo traído. Segundo o familiar, o irmão teria dito ainda que estava se sentindo humilhado e chegou a enviar uma foto do suposto amante da mulher.
Crimes como o feminicídio de Leydislaine desafiam as forças de segurança. Minas foi o estado campeão da matança de mulheres em 2018, com 156 vítimas – o maior número absoluto do Brasil entre as 27 unidades federativas. E a violência está em ascensão, já que 150 mulheres haviam morrido nessas circunstâncias em 2017.
Betânia
A expectativa de uma família que tinha a esperança de encontrar a jovem Emanoele Soares Rodrigues, de 19 anos, desaparecida desde 29 de agosto, terminou da pior maneira possível. O corpo dela foi encontrado carbonizado. O principal suspeito do feminicídio é o ex-companheiro dela, Agnaldo dos Santos Oliveira, de 36 anos, que foi preso ontem. Segundo a Polícia Civil, ele confessou o crime, que ocorreu em uma casa no Bairro Betânia, na Região Oeste de Belo Horizonte.
A família de Emanoele registrou o desaparecimento dela em 4 de setembro. Desde então, a Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida (DRPD) investigava o caso. A prisão foi realizada pela Polícia Civil em cumprimento de um mandado concedido na última sexta-feira, após a identificação da vítima. Desde então, a polícia fazia buscas pelo suspeito. De acordo com a Polícia Civil, Emanoele e Agnaldo mantiveram um relacionamento que durou dois anos e oito meses, entre idas e vindas. O estopim para o ex-companheiro, foi quando descobriu que Emanoele estava se envolvendo com outra pessoa. Em depoimento, ele disse que o relacionamento estava conturbado e que não aceitava um rompimento. “Ele foi localizado em Itabirito, após uma busca de inteligência da equipe quando o suspeito trabalhava em uma obra”, contou a delegada responsável pelo caso, Maria Alice Faria.
Apesar de o desaparecimento ter ocorrido em 29 de agosto, a família o notificou em 4 de setembro. Os parentes ficaram em dúvida sobre o que ocorrera porque os pais da vítima receberam mensagens enviadas de um número diferente, dizendo que Emanoele estava bem e havia decidido ir embora com uma pessoa que teria conhecido. De acordo com a delegada, essas mensagens despertaram a desconfiança em relação ao ex-companheiro. “Na investigação, pudemos verificar que o número de telefone que enviou as mensagem foi adquirido e cadastrado no nome o ex-companheiro no mesmo dia do desaparecimento de Emanoele”, explicou Maria Alice. O corpo da vítima estava carbonizado. Ele foi identificado pelo Instituto Médico-Legal (IML) por meio de reconhecimento de arcarda dentária.
Apesar de não ser alvo de relatos anteriores de ameaças ou outros tipos de violência, o ex-companheiro de Emanoele a teria matado friamente. De acordo os investigadores, Agnaldo confessou que no dia do crime, em 29 de agosto, esperou os pais da vítima saírem para trabalhar e foi até a casa dela. Por ter morado na mesma casa algum tempo, adquiriu confiança da família e ainda tinha a chave da residência. Ainda segundo o relato à polícia, chegando ao local, ele discutiu com a vítima, questionando o término do relacionamento. Durante a discussão, Emanoele preparava uma trouxa de roupas para devolver ao ex-companheiro. Segundo a confissão, o pedreiro foi à cozinha, pegou uma faca e desferiu contra a moça seis golpes no peito. Depois da morte, ele escondeu o corpo na trouxa de roupas, depois de colocá-lo em uma caixa amarrada com arame.
Testemunhas dizem ter visto o pedreiro descendo com uma trouxa de roupas, mas não sabiam do que se tratava. Ele foi até um estabelecimento comercial e ofereceu R$ 40 para um motorista levá-lo até o local onde trabalha, em uma obra em Itabirito, na Região Metropolitana de BH. De lá, levou a caixa até Brumadinho e ateou fogo. Agnaldo dos Santos Oliveira vai responder pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver. A Polícia Civil investiga ainda se o motorista que fez o transporte está envolvido nos crimes. *Estagiárias sob supervisão da subeditora Rachel Botelho
Cronologia do crime
Casos de feminicídio registrados em BH neste mês
4 de setembro – Josiane Pereira, de 35 anos, é assassinada no Bairro Santa Branca, na Pampulha. Ela estava na frente de uma escola, onde buscaria as filhas, quando foi abordada pelo ex-companheiro. O homem ameaçou a vítima e testemunhas acionaram a polícia. Ao avistar os militares do 49º Batalhão que chegavam ao local, o suspeito disparou contra a ex. Ele também deu dois tiros contra sua própria cabeça, mas sobreviveu.
6 de setembro – Isabela Gentil Reis Costa da Silveira, de 20 anos, foi assassinada a tiros, no Bairro Santa Amélia, na Pampulha. Rafael Nunes, de 26, é acusado de participar da execução da jovem. Eles namoraram juntos por três anos e têm um filho de 5 meses. Outros três homens teriam participado do crime.
7 de setembro – Grazielle Serra Pereira Santana, de 32 anos, morreu em sua casa, no Bairro Jardim Montanhês, na Região Noroeste de Belo Horizonte. O principal suspeito é o marido dela, Estevão Bruno Oliveira Silva, de 29. A perícia da Polícia Civil informou que a mulher foi enforcada até a morte em uma cama. Ela tinha também lesões na face.
21 de setembro – Karine Cardoso do Prado, de 34 anos, foi assassinada no Bairro Jardim Europa, na Região de Venda Nova. O corpo dela foi encontrado dentro de um tambor na Rua Antônio Porfírio Luiz, com ferimentos na cabeça. O marido dela utilizou um pé de cabra para agredir a mulher. Ele foi preso no Hospital Risoleta Tolentino Neves, onde visitava um idoso.
22 de setembro – Leydislaine Barbosa Campos, de 41 anos, foi assassinada a facadas no Bairro Trevo, na Região da Pampulha. A mulher recebeu 11 golpes do companheiro, Fernando Luiz Campos, de 43. Segundo a Polícia Militar, ele teria matado a vítima por suspeitar que estava sendo traído. O homem segue sendo procurado.