O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) completou, ontem, 48 anos de fundação e ganhou de presente um “café com obras”: pela manhã, foi reiniciada a restauração da sua sede, o chamado “prédio verde” da Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Segundo a presidente do órgão vinculado à Secretaria de Estado da Cultura e Turismo, Michele Arroyo, a previsão é de que, no fim de dezembro ou início de janeiro, ocorra a mudança definitiva – atualmente o instituto ocupa as antigas instalações da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais, na Rua Aimorés, também na Centro-Sul.
O imóvel do Iepha, cercado de tapumes, fica na esquina da Rua Gonçalves Dias, data de 1897 e integra o conjunto dos tempos de início da construção da capital. Há mais de seis anos, direção e funcionários deixaram o endereço para que fossem realizadas obras na estrutura, mas se encontram paralisadas desde novembro do ano passado. Um dos destaques do prédio será a Casa do Patrimônio, prevista para ser inaugurada em agosto do ano que vem.
Michele explicou ontem que a Casa do Patrimônio terá auditório, sala para reuniões, espaço para exposições e áreas dedicadas aos bens de natureza material e imaterial. “Vamos reabrir a sede do Iepha com segurança, sistema elétrico, rotas de fuga e outros aspectos fundamentais ao bom funcionamento”, disse Michele.
História
A dois anos do cinquentenário, o Iepha foi criado em 30 de setembro de 1971 para que fosse evitada a demolição do Palácio da Liberdade. É que, conforme os especialistas, a sanha modernista dos anos 1960 quase levou ao chão uma das edificações mais emblemáticas, conhecidas e elegantes de BH. Faltou pouco para o Palácio da Liberdade desaparecer do mapa e dar lugar a uma torre de vidro de 80 metros de altura e 75 metros de profundidade, algo equivalente a um edifício de nove pavimentos, com assinatura do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012).
Tudo bem no estilo de Brasília (DF) e em choque com o conjunto arquitetônico eclético da Praça da Liberdade. Tempos polêmicos e difíceis para os defensores do patrimônio cultural da cidade, já que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) cuidava principalmente de construções e monumentos coloniais e modernistas, sem se ocupar das representantes do século 19. Com o instituto, nascido na gestão do governador Rondon Pacheco (de 1971 a 1975), a antiga sede do governo conseguiu escapar da queda e ganhou tombamento, tornando-se o primeiro em Minas a ter essa proteção. Dessa forma, tornou-se um ícone e herói dessa resistência.
Num documento datado de 1966, que acompanhava o projeto, Niemeyer explicou: “O atual palácio do governo de Minas Gerais apresenta tais deficiências, que nos surpreende não ter sido até hoje substituído. São deficiências de toda ordem, nas áreas úteis, na circulação mal distribuída, nos ambientes inadequados para as funções nele exercidas etc. Na verdade, esse prédio não constitui um verdadeiro palácio, mas uma casa sem maior importância”.
Minas tem um dos maiores e mais significativos acervos históricos e artísticos do país. No seu território, há cerca de 60% dos bens culturais brasileiros. Desde o período colonial, está no ar a necessidade de preservação. Já em 1773, no poema Vila Rica, Cláudio Manuel da Costa exaltava a beleza e o esplendor dos templos, chafarizes e pontes da antiga capital, chegando inclusive a compará-la a Roma, pela grandeza e riqueza dos monumentos então construídos ou em fase de construção.
O Iepha-MG e o tempo
» 1897 – Inaugurado o Palácio da Liberdade, que teve projeto do engenheiro-arquiteto pernambucano José de Magalhães
» 1920 – O Palácio da Liberdade passa por uma grande reforma para receber a visita dos reis da Bélgica
» 1966 – Oscar Niemeyer apresenta projeto para substituir o Palácio da Liberdade por uma torre com 80 metros de altura
» 1971 – Em 30 de setembro, é criado o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), para evitar a demolição do Palácio da Liberdade
» 1975 – Em 27 de janeiro, o Palácio da Liberdade é tombado, pelo estado, pelo decreto 16.956. É o primeiro a ser protegido em Minas
» 2004 – Sob supervisão do Iepha, começa o mais completo processo de restauração do Palácio da Liberdade. O trabalho dura dois anos