“Ninguém solta a mão de ninguém” e “parar não é a opção”. É nessas frases que os familiares das vítimas da tragédia de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, se apoiam. Depois de mais de oito meses do rompimento da barragem da Mina Córrego de Feijão, da Vale, 20 famílias ainda vivem a angústia da espera pela localização de parente desaparecido no desastre. Mas a esperança não acabou. Pelo contrário, todos confiam na ação do Corpo de Bombeiros. A professora Andresa Rodrigues, de 41 anos, mostrou o apoio do grupo aos militares que continuam as buscas em um vídeo que viralizou na internet, ontem. Ela entrou em um ônibus onde estavam os bombeiros, agradeceu e prestou continência, um gesto de respeito que é usado por militares como saudação aos superiores.
A comissão dos familiares de vítimas seguiu até o ônibus onde estavam os militares. Andesa pediu a palavra e, por aproximadamente 40 segundos, conseguiu passar o sentimento de quem perdeu um ente querido e deseja um conforto. Ela fala olhando nos olhos dos militares. Os bombeiros, alguns sentados, outros de pé, a escutam atentamente. Enquanto ela agradece e diz palavras para demonstrar o respeito aos militares, alguns não conseguem segurar as lágrimas. “Então, viemos aqui agradecer e prestar continência, como vocês fazem ao encontrar um superior. Nós viemos prestar continência das famílias para vocês e dizer para continuarem com a gente, pois precisamos muito trazer esse acalento para as famílias. E nossa esperança está em vocês”, disse emocionada.
A atitude da professora mostra a união das famílias neste momento de dor. Ela é mãe de Bruno Rocha Rodrigues, de 26 anos, que era técnico em processamento. O corpo dele já foi encontrado. Mas Andresa continua na luta para as buscas não terem fim antes que todas as vítimas sejam localizadas. “O corpo de meu filho foi encontrado depois de 105 dias de buscas. Mas temos um compromisso de encontrar todas as joias”, disse. “Acompanhamos duas frases: a primeira é 'ninguém solta a mão de ninguém'. Vamos encontrar as joias todos juntos. A segunda é 'parar não é a opção'. É uma frase usada pelos bombeiros, da qual nos apoderamos também. Não aceitamos que fique nem sequer um corpo embaixo da lama”, completou.
Buscas mantidas
O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorreu em 25 de janeiro. Os corpos de 250 que pessoas que morreram na tragédia já foram resgatados. Outras 20 vítimas ainda são procuradas. As buscas seguem ininterruptas, mesmo oito meses depois do desastre. Ontem, 252º dia de trabalhos, 148 bombeiros estavam envolvidos no serviço. Eles contam com a ajuda de máquinas pesadas e cães farejadores.
Os trabalhos, que são complexos e demandam ajuda do setor de inteligência, vêm dando resultado. No domingo, os militares conseguiram encontrar mais um corpo. Os restos mortais foram localizados pela equipe em um local chamado de Remanso 4, por volta das 10h15. A vítima foi identificada como Luciano de Almeida Rocha, de tinha 39 anos e trabalhava em diversas minas na área de geologia. O cunhado dele, André Luiz Santos, também morreu no rompimento da barragem de rejeitos.
Dados da Polícia Civil mostram que, em setembro, a média foi de 1,3 caso por dia entregue ao Instituto de Criminalística, sendo que 1,06 solucionado diariamente. Porém, a maioria das vítimas já tinha sido identificada anteriormente. Os trabalhos envolvem a identificação de corpos ou segmentos encontrados na área do desastre.