Dentro de salas de aula, em outras dependências da escola ou até mesmo na rua. A violência contra educadores ocorre de diferentes formas. Os autores também variam e vão de estudantes a familiares de alunos, engrossando a lista de infrações cometidas em ambiente escolar no estado. Dois casos de agressões, no mês em que é comemorado o Dia do Professor, o 15 de outubro, expõem a vulnerabilidade dos profissionais que zelam pela educação. Entre janeiro a agosto deste ano, foram 13.334 ocorrências de infrações em instituições de ensino público municipal, estadual, federal e particular, além de creches, que envolvem danos a pessoas, entre eles ataques a professores e ao patrimônio. Mesmo apresentando diminuição, os casos impressionam, com uma média de 55 por dia, ou seja, dois a cada hora. Em Belo Horizonte a violência aumentou 6,3%, nos primeiros oito meses de 2019, em relação ao mesmo período de 2018.
Em BH, um professor idoso foi agredido dentro de uma sala da Escola Municipal Marlene Pereira Rancante, no Bairro Alípio de Melo, Região da Pampulha. Um menino de 12 anos jogou uma caixa de plástico na cabeça do docente, que precisou ser levado a um hospital. Em entrevista, o educador contou como tudo ocorreu, na quarta-feira. “Faltavam 15 minutos para encerramento da aula. Eu estava explicando a matéria no quadro, e esse jovem estava sentado próximo à saída da sala. Ele colocou a mochila nas costas e começou a circular dentro de sala”, contou. “Pedi a ele que se sentasse. Em ato contínuo, quando me virei para o quadro, ele se valeu de uma caixa plástica e a arremessou, bateu com a caixa na minha cabeça. Segundo meus alunos, por duas vezes”, completou.
Por causa da violência, o educador precisou de atendimento médico. “É uma vida inteira tentando evitar que isso aconteça. Repudio a violência em qualquer sentido”, desabafou, com os olhos marejados. De acordo com a Polícia Civil, o adolescente, o professor e testemunhas foram ouvidos no Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA-BH) e, depois, encaminhadas para uma audiência com o Juiz. Como o caso corre em segredo de Justiça, mais detalhes não foram repassados.
Ontem, a agressão e outros episódios de violência foram tema de uma reunião. O encontro teve participação de professores e funcionários com uma equipe da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte e do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-REDE). Diretora do Sindicato, Cláudia Lopes da Costa disse que o encontro foi realizado para ouvir os professores e fazer propostas. Segundo ela, as principais são a contratação de mais um coordenador e repasse financeiro para que sejam realizadas reuniões pedagógicas. “Pelo que os professores relataram, já vem ocorrendo esse tipo de situação. Agressões verbais são frequentes e professores estão sob um clima de ameaça mesmo, ficam trabalhando sem saber se serão agredidos ou não”, disse Cláudia.
Vídeos
Em Franciscópolis, uma professora foi agredida com socos, chutes e puxões de cabelo, anteontem. A violência foi cometida pela mãe de uma aluna. Testemunhas flagraram as agressões e filmaram a cena. O vídeo circulou nas redes sociais e provocou revolta. A informação de testemunhas é que a mãe da aluna teria agredido a professora depois de a educadora ter chamado a atenção de sua filha por não ter feito o dever de casa. A mulher chegou a ser atendida pela direção da escola, onde a garota estuda, mas, inconformada, cercou a professora na saída da escola, a ofendeu com palavrões e a agrediu fisicamente.
O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais emitiu uma nota lamentando o ocorrido: “O Sind-UTE repudia toda ação contrária aos servidores da educação e conclama a todos que fazem parte da comunidade escolar a optar pela paz e a tranquilidade.” O Sind-UTE afirmou também que está disponibilizando todo o acompanhamento jurídico a servidora e a escola. A reportagem tentou conversar com a mãe da aluna, mas não conseguiu localizá-la.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho