Centenas de pessoas ocuparam os bancos do Santuário de Adoração Perpétua Nossa Senhora da Boa Viagem na noite desta terça-feira (8) para se despedir de dom Serafim Fernandes de Araújo. Em cerimônia celebrada por dom Geovane Luís da Silva, os fiéis, familiares e amigos iniciaram o cronograma das homenagens, que vai até quinta-feira, às 17h, quando ele será sepultado.
Irmão de dom Serafim, o dentista e professor Eustáquio Araújo, de 73 anos, fez questão de ressaltar os ensinamentos deixados pelo líder religioso. “Para ele, exercitar o perdão era fundamental. Não falar de perdão, mas exercitá-lo. A segunda coisa é o amor pelos pobres e mais necessitados. A terceira coisa é o que ele deixa na Fundação José Fernandes, que já formou mais de 2 mil estudantes em curso superior”.
“Ele foi o dom generosidade, o dom amizade, o dom irmão, o dom pai. Um verdadeiro pai para mim”, completou Eustáquio. Segundo ele, dom Serafim era o mais velho de 16 irmãos, nove deles ainda vivos.
Quem também relembrou bons momentos vividos ao lado de dom Serafim Fernandes de Araújo foi o padre José Geraldo Sobreira. Ele recordou como conheceu o cardeal.
“Fui ordenado padre aqui (na capital mineira) em 1982, quando ele era bispo auxiliar da Arquidiocese de BH. Eu era mestre de cerimônia e passei a acompanhá-lo durante o tempo que ele celebrou cerimônias públicas. Foi uma relação muito amorosa”, disse, não escondendo o sorriso no rosto diante do legado deixado pelo amigo.
Encartes com cânticos católicos foram distribuídos para que os fiéis acompanhassem a cerimônia. Do lado de fora, inúmeras coroas de flores, encomendadas pelas mais diferentes organizações de diversos setores, compunham o cenário.
Na quarta-feira (9), missas serão celebradas às 7h, 10h, 15h, 18h e 20h. Na quinta, as celebrações serão às 10h, 12h, 15h, 17h.
O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, participava do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, em Roma. Ele volta para se despedir de dom Serafim e presidir a missa do sepultamento às 17h de quinta-feira.
Atlético
Quem torcia pelo Atlético se sentiu ainda mais em casa na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem.
Dom Serafim era conselheiro grande benemérito do clube e acompanhava Galo desde a década de 1930, o que motivou homenagens relacionadas ao clube mineiro.
“Eu vim com a camisa do Galo porque ele era um apaixonado. Sempre brincava com ele sobre uma viagem que fiz a Minas Novas (terra natal do cardeal, localizada no Vale do Jequitinhonha) e também sobre o Galo. Tomara que ele abençoe a gente lá do céu e o time ganhe do Flamengo”, disse Adília Costa e Silva, em referência à partida entre atleticanos e rubro-negros que vai acontecer no Rio de Janeiro na quinta-feira.
Dom Serafim participou de vários momentos importantes da história do Atlético.
No dia 25 de março de 2004, ele celebrou uma missa pelo aniversário de 96 anos do Atlético. Na ocasião, foi agraciado com o Galo de Prata, honraria do Atlético, concedida a pessoas e instituições que contribuíram de forma para o engrandecimento do clube.
Em 2006, ano da apresentação oficial da Cidade do Galo, o clérigo esteve presente por duas vezes no centro de treinamento, para abençoar o local.
No mesmo ano, Dom Serafim celebrou a missa de sétimo dia de Telê Santana, técnico campeão brasileiro com o Atlético em 1971 e ex-treinador da Seleção Brasileira.
História
Nascido em 13 de agosto de 1924, dom Serafim Fernandes Araújo é de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha.
O mineiro passou a infância em Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha, até que, aos 12 anos, mudou-se para Diamantina, na Região Central, para estudar no seminário da cidade, onde se formou em Humanidades (1942) e Filosofia (1944).
Após a conclusão do Ensino Superior, o clérigo foi convidado a estudar em Roma, onde fez mestrado em Teologia e Direito Canônico na Pontifícia Universidade Gregoniana.
Ordenou-se padre em 12 de março de 1949, na Catedral de São João Latrão, situada na capital italiana.
O retorno ao Brasil se deu em 1951, para assumir a paróquia de Gouveia, na Região Central de Minas, onde atuou por seis anos. No mesmo período, foi capelão a Companhia Industrial de São Roberto e do 3º Batalhão Militar da Polícia Militar de Minas Gerais.
Exerceu também os cargos de diretor de Ensino Religioso da Arquidiocese de Diamantina e professor de Direito Canônico no Seminário Provincial.
Em 1959, aos 34 anos, foi sagrado bispo – o mais novo a assumir o posto no Brasil. A partir de então, transferiu-se para Belo Horizonte, para ser auxiliar de dom João Resende Costa.
Paralelamente à função, assumiu o cargo de vigário-geral, além de professor de Cultura Religiosa da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas).
Em 1960, tornou-se reitor da universidade. Entre 1978 e 1981, foi membro do Conselho Federal de Educação.
A trajetória de dom Serafim na Arquidiocese da capital mineira teve início em 31 de março de 1983, quando o clérigo tomou posse como arcebispo coadjuntor.
Em 1986, tornou-se arcebispo metropolitano.
Em 18 de janeiro de 1998, foi nomeado cardeal – alto cargo dentro da hierarquia da Igreja Católica, cujas atribuições incluem assistência ao papa em suas diversas decisões e competências.
Com informações de Humberto Martins/Superesportes, Cecília Emiliana e Cristiane Silva