Jornal Estado de Minas

DENÚNCIA DE ABUSO

Depoimento de ex-estagiário é crucial para apuração de denúncia de abuso no Magnum



Depois de ouvir 40 pessoas dentro da investigação que apura denúncias de abuso sexual praticado dentro das dependências do Colégio Magnum, unidade Cidade Nova, no Bairro Nova Floresta, Região Nordeste de Belo Horizonte, a Polícia Civil concluiu o depoimento do principal investigado apontado pelas denúncias para checar as informações obtidas nas demais oitivas. O depoimento de Hudson Nunes de Freitas, de 22 anos, é considerado crucial para a montagem do quebra-cabeças que pretende esclarecer as suspeitas levantadas por pelo menos duas famílias de crianças que tiveram contato com o auxiliar de educação física. Ontem, ele ficou por cerca de duas horas na sede da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) e, apesar de ter o direito de permanecer em silêncio, contou que respondeu todas as perguntas feitas pela polícia e reafirmou que é inocente. Hudson disse confiar que sua inocência será comprovada e afirmou que não tem dormido devido ao trauma gerado a partir das denúncias envolvendo seu nome.

O jovem alega que apoiava o professor responsável nas aulas de educação física e nunca abusou de nenhuma criança. Como o inquérito corre em segredo de Justiça, a delegada Thais Degani, responsável pelo procedimento, não divulga os detalhes. O que já se sabe até então é que pelo menos duas famílias procuraram a polícia relatando casos de abuso sexual. Hudson disse que negou todas elas e não tem ideia do que pode ter motivado os relatos, que ele classifica como falsos. Uma das desconfianças do jovem é preconceito.
"Existem várias coisas, a gente vive em um país em que a desigualdade social é muito grande. Às vezes, a gente sofre alguma discriminação, não sei", afirmou.

O advogado que o representa, Fabiano Lopes, acrescenta que a situação social do ex-auxiliar pode ter contribuído para essa situação. "O Hudson acredita que o fato de ele ser negro, pobre, humilde, teria de alguma forma refletido nele como a parte mais fraca dentro do procedimento", diz o advogado. Lopes pontuou ainda que a defesa reitera a inocência do investigado apoiando-se em provas que já foram arrecadadas, como imagens das dependências internas do Colégio Magnum.

“Hudson, desde suas primeiras declarações, tem negado a acusação e afirma ser inocente. Juridicamente, a defesa tem alegado que seria impossível esse crime ter ocorrido, com base nas questões de segurança da escola e nas imagens que foram arrecadadas, previamente conferidas, nas quais não se encontra nenhum tipo de situação que deixaria a autoridade policial com suspeição sobre Hudson”, acrescenta. O advogado destacou que outra linha usada pela defesa é a da indução das crianças a apontarem uma situação que não aconteceu, a partir de falsas memórias. "Tem a questão também das mães estarem apoiando Hudson e conhecerem a índole dele.
Existem também as falsas memórias, que são questões psiquiátricas e psicológicas. A defesa acredita que no fim tudo vai dar certo", afirma.

Ainda segundo Fabiano Lopes, a investigação já está próxima da elaboração do relatório, mas ele disse que ainda podem ocorrer novos depoimentos. Enquanto a Polícia Civil não conclui o inquérito, o jovem diz que espera que isso tudo termine para tentar reconstruir sua vida. "Minha vida está parada. Não durmo, não faço nada. Quero dizer que antes de fazer qualquer julgamento prévio, a gente tem que ter cautela. Não ficar acusando os outros sem prova. Eu me considero inocente, minha consciência está tranquila", afirma.
 
Um ponto que pode ajudar o ex-auxiliar da escola é a manifestação feita por pais e alunos da instituição na semana passada para homenagear professores, funcionários e demonstrar apoio à escola diante das denúncias.
Hudson esteve na manifestação e foi recebido no ato com aplausos de pais e alunos. Entre os ouvidos até agora estão pais, crianças, professores e demais membros da comunidade escolar do Magnum.
 
Na quinta-feira, a investigação cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do investigado e arrecadou o celular de Hudson, que está sendo analisado. As denúncias vieram à tona quando uma mãe notou mudança no comportamento do filho. Interpelada por ela, a criança disse ser vítima de abusos, que teriam ocorrido no banheiro da escola. Porém, durante uma reunião de pais para discutir o caso, foi relatado que o suposto envolvido não levava alunos aos sanitários. A tarefa seria exclusiva de estagiárias de pedagogia. As imagens das câmeras de segurança, já incorporadas ao inquérito, também poderão elucidar os detalhes.

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