Durante todo o mês de outubro, a técnica de segurança do trabalho Jussara Fátima da Silva, de 48 anos, recebe aplausos a cada voo de partida do Aeroporto Internacional de Confins em que entra para prestar testemunho de vida. Momentos antes da finalização do embarque e das aeronaves decolarem, ela conta como superou o câncer de mama e a importância de as mulheres estarem atentas ao diagnóstico precoce. Compartilha com os passageiros que, em dezembro de 2011, recebeu o diagnóstico da doença, o que mudou sua vida. Como descobriu a enfermidade logo no início, dedicou-se de maneira esperançosa ao tratamento, que incluiu cirurgia na mama, sessões de quimio e radioterapia.
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Por saber que o diagnóstico precoce foi fundamental para que se curasse da doença, Jussara resolveu se engajar em campanhas para alertar outras mulheres sobre a importância dos exames periódicos. Coordenadora de segurança do trabalho no hangar de manutenção da Azul na Pampulha, ela foi convidada, em outubro de 2013, para integrar as campanhas empreendidas pela empresa no Outubro Rosa e faz parte do grupo Vitoriosas. O grupo, inicialmente, tinha três funcionárias que superaram o câncer de mama. Atualmente, elas são oito.
Como Jussara, muitas que venceram a doença se dedicam à conscientização de outras mulheres, como é o caso da jornalista Kátia Soares, de 44, que criou o projeto Viver Bem até os 100 para mostrar como hábitos saudáveis podem ajudar a prevenir a doença e, no caso das mulheres em tratamento, contribuir para a cura. “A experiência com dois episódios de tratamento contra o câncer de mama me fortaleceu e me fez ver a vida de um jeito bem mais colorido que antes”, diz. O primeiro diagnóstico foi aos 36 anos, em 2011. Na época ela fez o tratamento completo, mas não precisou retirar a mama.
No segundo episódio, em 2017, a recidiva foi mais branda, apesar de ela ter de ter feito a mastectomia, com a retirada da mama esquerda – que, posteriormente, foi reconstruída. “Quando eu fiquei doente, perguntei aos médicos o que eu, como paciente, poderia fazer por mim além dos tratamentos sugeridos. Perguntei a cinco médicos. Nenhum me deu resposta. Diziam: 'Toque sua vida, algo meio mórbido, uma resposta pronta'”. Foi quando ela teve contato com o livro Anticâncer (2008), de David Servan-Schreiber. “O autor fez um compilado com dicas de estilo de vida anticâncer: alimentação saudável, atividade física e controle do estresse, com comprovação científica”.
A partir de 2011, Kátia passou a pesquisar sobre aspectos que poderiam ser modificados para ter uma vida mais saudável. Mas não ficou com essa informação só para si, começou a dividi-la com outras mulheres. “Passei a pesquisar, por exemplo, sobre alimentos que poderiam multiplicar aquelas células cancerígenas e o que poderia barrar esse crescimento, além da quimioterapia e radioterapia. Comecei a entender, tirar algumas coisas da minha vida e incrementar outras”.
O oncologista e diretor da Oncomed Leandro Ramos enfatiza a importância do diagnóstico precoce para a cura do câncer de mama. “A prevenção do câncer de mama não é fácil. No caso do câncer de colo de útero, tratamos do HPV para que não surja e não apareça, mas, no caso do câncer de mama, isso não é possível”, diz. Ele alerta para alguns fatores que costumam reduzir as chances de aparecimento da doença, como a mulher amamentar – quanto mais cedo ela o fizer mais caem as chances –, além de evitar o sedentarismo e a obesidade. Mas nenhuma medida previne a doença totalmente. “O mais importante é fazer a mamografia. Com o exame, é possível o diagnóstico na fase inicial da doença, quando são de 80% as chances de cura”, diz.
A maior incidência da doença é na faixa etária dos 50 anos, em geral, depois que a mulher passou pela menopausa. No entanto, o câncer tem acometido mulheres mais jovens, o que o especialista acredita ser em consequência da vida moderna. Uma série de fatores tem aumentado a incidência de câncer de mama em mulheres jovens, na faixa de 30 e 40 anos. “Na atualidade, a mulher tem filhos depois dos 30 anos. A gravidez e a amamentação protegem contra o câncer de mama. Há duas décadas, a mulher engravidava mais jovem. O estilo moderno é fator que aumentou a incidência.”
Tratamento
O tratamento inclui cirurgia para a retirada do nódulo. Em alguns casos, é necessário realizar a mastectomia total. Podem ser necessárias sessões de quimioterapia e radioterapia. “O tratamento depende do momento do diagnóstico. Na fase subclínica, o tumor ainda não é palpável, mas pode ser detectado na mamografia. Nessa fase, são grandes as chances de a mulher fazer somente a cirurgia”, informa Leandro. A quimioterapia pode ter como efeito colateral a queda de cabelos. “Por que cai o cabelo? A célula do cabelo cresce rápido, assim como a células cancerígenas. A quimio impede o crescimento tanto das células doentes quanto das sadias”, diz o médico.
No entanto, ele alerta que há tratamentos mais modernos, que não resultam em queda de cabelo. “Temos uma touca que recria o couro cabeludo. Ela resfria o couro cabeludo a 17 graus, o que leva à redução do fluxo sanguíneo na região. Sendo assim, chega à área menos quimioterápico também, o que reduz de forma significativa a queda de cabelo”, informa.
A recomendação da Sociedade Brasileira Oncologia e Mastologia é a realização da mamografia todo ano a partir dos 40 anos de idade. “Também é importante fazer o autoexame. É como se a mulher se conhecesse melhor”, aconselha o médico. O melhor momento para fazer o exame é uma semana depois da menstruação. “Se algo diferente aparecer é sinal de alerta”.
Outubro Rosa
Desde 1990, o mês de outubro é dedicado aos cuidados femininos para prevenção de uma das doenças que mais mata mulheres. São inúmeras campanhas para alertar sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. A Oncomed promove o Casa Delas, no Shopping Boulevard, de 22 a 26 de outubro. No espaço, serão realizados workshops, palestras, oficinas, área para descanso, meditação e beleza dedicado a todas as mulheres, em tratamento do câncer ou não. Programação e inscrições gratuitas pelo site casadelas.com.br
A Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), lançou campanha nacional para colocar em pauta o acesso ao tratamento personalizado. O tema deste ano é #MeTrateDireito. Além disso, foram estabelecidas parcerias para dar visibilidade à causa. A Adidas criou camiseta rosa, exclusiva dos times São Paulo e Flamengo. Parte do valor obtido com as vendas será revertido para a Femama. O lançamento oficial das camisetas e da campanha Outubro Rosa Femama 2019 foi feito no fim de setembro, no Maracanã.
Parte do valor da venda de kits de escova para cabelos, escova de dentes feminina, vassoura e esponja será revertida à Femama pela Condor. Além disso, a marca realizará a ação Like do Bem, que associa curtidas no Facebook a um valor adicional a ser revertido à Federação. Quanto mais likes a ação receber, maior será o valor doado à Femana.
No dia 29, às 11h, na sala de cinema do Shopping Cidade, será proferida uma palestra aberta ao público com o tema “Prevenção e a Importância do Diagnóstico Precoce”, que terá abordagem esclarecedora e acessível. A entrada é franca, com ingressos disponíveis desde ontem para retirada na plataforma do Sympla.
A cor rosa ilumina a fachada de quatro prédios na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte como parte das ações preventivas contra o câncer de mama. Os edifícios do Espaço do Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os museus das Minas e do Metal, o Memorial Minas Gerais Vale e o Centro Cultural Banco do Brasil aderiram ontem à campanha. As atividades serão realizadas no shopping Boulevard, de 22 a 26 de outubro.
O melhor é prevenir
Conheça o câncer de mama e saiba o que fazer para preveni-lo ou detectá-lo precocemente
O que é
» O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células da mama, formando um tumor.
Tipos
» Há vários tipos de câncer de mama. Por isso, a doença pode evoluir de diferentes formas. Alguns tipos têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem mais lentamente. Esses comportamentos distintos se devem às características próprias de cada tumor.
Prevalência
» O câncer de mama é o tipo da doença mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, correspondendo a cerca de 25% dos casos novos a cada ano. No Brasil, esse percentual é de 29%.
Causas
» O câncer de mama não tem somente uma causa. A idade é um dos mais importantes fatores de risco para a doença. Aproximadamente quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos. Entre os outros fatores estão a obesidade e sobrepeso após a menopausa; sedentarismo e inatividade física; consumo de bebidas alcoólicas; primeira menstruação antes de 12 anos; não ter tido filhos; primeira gravidez após os 30 anos; menopausa após os 55 anos; uso de contraceptivos hormonais (estrogênio-progesterona); reposição hormonal pós-menopausa; história familiar de câncer de ovário; casos de câncer de mama na família e alteração genética, especialmente nos genes BRCA1 e BRCA2.
Prevenção
» Cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis como: praticar atividade física; alimentar-se de forma saudável; manter o peso corporal adequado; evitar o consumo de bebidas alcoólicas; amamentar; e evitar uso de hormônios sintéticos, como anticoncepcionais e terapias de reposição hormonal.
Detecção precoce
» O câncer de mama pode ser detectado em fases iniciais, em grande parte dos casos, aumentando a possibilidade de tratamentos menos agressivos e com taxas de sucesso satisfatórias. Todas as mulheres devem fazer o autoexame. Além disso, O Ministério da Saúde recomenda que a mamografia de rastreamento – realizada quando não há sinais nem sintomas suspeitos – seja ofertada para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos. A mamografia diagnóstica, para investigar lesões suspeitas da mama, pode ser solicitada em qualquer idade, a critério médico. O SUS oferece exame de mamografia para todas as idades, conforme indicação médica.
Sintomas
» Nódulo (caroço), fixo e geralmente indolor: é a principal manifestação da doença, estando presente em cerca de 90% dos casos quando o câncer é percebido pela própria mulher
» Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja
» Alterações no bico do peito (mamilo)
» Pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço
» Saída espontânea de líquido anormal pelos mamilos
Fonte: Instituto Nacional do Câncer (Inca)