A combinação entre tempo seco e queimadas mergulhou a capital mineira numa nuvem de fumaça, que piorou a qualidade do ar de BH e elevou os índices ao limite do tolerável. Por causa da maior concentração de poluentes, as quatro estações de medição da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) na cidade apresentaram classificação regular, algumas chegando próximo ao inadequado. Com cheiro e cor, o problema tem assustado moradores de toda a cidade, que relatam respirar fumaça por todo o dia e que casas estão sendo tomadas pela fuligem. O risco maior da má condição é para crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas.
De acordo com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os focos ativos de incêndio no estado até quarta-feira já superavam em 68% todo o ano passado. Os satélites detectaram 7.812 pontos de queimada até 16 de outubro, contra 4.627 em 2018. As análises da Feam identificaram que a névoa cinza se concentra em Belo Horizonte, que ontem contou com focos de incêndio espalhados em várias regiões.
O Corpo de Bombeiros levou do início da manhã ao fim da tarde para combater um incêndio que atingiu vegetação próxima à mata da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cuja fumaça tomou a Avenida Antônio Carlos e o Anel Rodoviário, na Pampulha. Duas aeronaves da corporação foram usadas para combater fogo em mata próxima à Cidade Administrativa, na Região Norte.
“Isso é um problema local, de dentro e do entorno de BH. Há focos de incêndio em Caeté e Sabará que descem com a corrente de vento e estacionam na capital”, comenta. A maior concentração foi constatada na estação de medição da Avenida do Contorno, no Centro da cidade, que, ontem, atingiu índice de qualidade do ar de 83, o maior entre todas as estações monitoradas pela Feam.
O índice leva em conta a presença de partículas e gases como ozônio, gás carbônico, dióxido de nitrogênio e enxofre. Na Contorno, chamou a atenção a concentração das chamadas partículas inaláveis, que incluem a fuligem. Até 40, o índice aponta boa qualidade do ar. De 40 a 96, ela é considerada regular. Acima desse parâmetro, a condição do ar é classificada como inadequada, já representando risco para grupos sensíveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas, que podem apresentar sintomas como tosse seca e cansaço.
Fuligem
Morador do Bairro Cruzeiro, na Região Centro-Sul de BH, o dentista Edson Mariano Carvalho Leite está assustado com a quantidade de fuligem no apartamento, tomado pela sujeira fina, sinal de incêndio. “Todo dia está aparecendo fuligem no meu apartamento, mas não consigo identificar a queimada. Depois da chuva que teve há alguns dias amenizou. E agora voltou tudo de novo”, diz.No Bairro Santo André, na Região Noroeste, o relato é o mesmo. “É muita fuligem e muito cheiro de fumaça. É muito preocupante e até para respirar fica difícil. Não posso nem abrir a janela, porque entra fuligem. Só uma chuva para melhorar a situação”, comenta a recepcionista Adelaine Lage, de 46. Na Região Nordeste, não é diferente. “A garagem está cheia de fuligem, sentimos cheiro de fumaça o dia inteiro e até as roupas estão ficando sujas no varal”, afirma o autônomo Renato Soares, síndico de um prédio no Bairro Ipiranga.
O técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente Ronald Arreguy, químico e doutor em meio ambiente, explica que o processo de combustão das queimadas agrava a concentração de partículas poluentes, como a fuligem e outras invisíveis, e gases, como o monóxido de carbono. “Com a chuva, a tendência é que o particulado diminua. A chuva funciona como se lavasse a atmosfera e melhorasse a qualidade do ar”, afirma.
Mas, segundo a previsão do tempo, a massa de ar seco continua pelo menos por hoje na capital mineira, que deve contar com umidade relativa de 15% pela tarde, céu claro e temperatura mínima de 20° e máxima de 33°. “A massa de ar continental seca é o que está elevando as temperaturas e baixando a umidade, piorando a qualidade do ar”, afirma o meteorologista do 5º Distrito do Inmet, Cléber Souza.
Ele ainda alerta que a beleza do pôr do sol alaranjado, na verdade, evidencia a poluição. “Esse amarelão são os poluentes na atmosfera. É possível ver a névoa seca principalmente quando o sol se põe”, diz. Segundo o especialista, há possibilidade de pancadas de chuva no fim de semana. “A partir da semana que vem, vai ser totalmente diferente”, diz.