Jornal Estado de Minas

DESAFIO NA COMPUTAÇÃO

Nasa analisa projetos escolhidos em desafio que reuniu 300 estudantes na PUC Minas



Nas salas lotadas, nenhum burburinho. Jovens concentrados com seus fones de ouvidos, vidrados nos computadores. Em contraste com o aparato tecnológico, colchonetes, malas e lençóis espalhados pelo chão eram a prova de que ninguém arredou pé. Os semblantes de esgotamento e de sono contrapunham a garra de quem passa por uma experiência única. Por 48 horas, 300 jovens participaram neste fim de semana na PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste de Belo Horizonte, do Hackathon Nasa Space Apps Challenge, o maior desafio de tecnologia do planeta, considerado um carimbo importante para o currículo acadêmico e passaporte para o mercado de trabalho. E a corrida ainda não acabou. Trabalhos selecionados mundo afora vão passar pelo crivo da Nasa, que será visitada pelos vencedores.





O evento ocorreu simultaneamente em mais de 200 cidades ao redor do mundo e a universidade foi escolhida como sede do desafio na capital mineira. Foram mais de 1 mil inscritos, entre os quais selecionados 300. O Hackathon é uma maratona de programação em que os competidores terão 48 horas para criar soluções para 25 desafios reais propostos pela Nasa, relacionados a problemas que ainda estão distantes da nossa realidade, mas que nos afetarão no futuro. Ou nem tão longe assim. Entre os desafios, está a busca de soluções para questões bem atuais, como o aquecimento global, o que fazer para despoluir os oceanos ou evitar incêndios.

A competição propõe ainda criar aplicativos e jogos para ensinar as pessoas sobre o espaço e os planetas, trabalhando a tecnologia para permitir à sociedade em geral acessar dados importantes da Terra. “A desinformação faz hoje as pessoas acreditarem em coisas que chegam a ser absurdas”, afirmou o professor de ciência da computação da PUC Minas, Felipe Domingos da Cunha.

Quatro equipes entre todos as competidoras do mundo serão premiadas com uma viagem à Nasa Kennedy Space Center, na Flórida, Estados Unidos. Mas, nessa disputa, não há perdedores, como ressaltou Felipe Domingos. “Não é só a sala de aula. O Hackathon agrega muito mais na formação. O aluno que passa por essa competição mostra que está preparado para o mercado de trabalho”, afirmou.





Para a maratona, foram criadas equipes compostas por cinco pessoas, a maioria da graduação e da pós. E não somente da área de tecnologia. “Tudo hoje envolve a tenologia e todos podem dar sua contribuição, por isso, é importante a participação de pessoas de outras áreas também. Temos gente da biologia, da medicina, da comunicação, jogos, engenharia e letras. É bem diverso”, disse.

Os universitários chegaram na sexta-feira às 19h e ficam no complexo esportivo do câmpus até as 19h de ontem. Uma tenda de café ajudava a manter a galera acordada. Alongamentos e ginásticas forçavam pequenos intervalos para dar suporte ao corpo. Profissionais da matemática, física, fisioterapia, educação física e comunicação foram convocados para dar apoio e mostrar como a universidade abraçou o hackathon. O ginásio poliesportivo foi escolhido por causa da estrutura, que permitia dormir e tomar banho. Devido ao calor, os estudantes saíram do ginásio e foram para as salas do complexo.

Ontem à tarde foi a hora H, momento de defender ideias e estratégias. Os grupos passaram pelo crivo das bancas, compostas por professores da universidade e convidados. Dez times foram para a final e quatro passaram por uma banca ainda mais restrita, composta pela cônsul dos Estados Unidos e importantes pesquisadores.





Todas os trabalhos serão submetidos a uma plataforma específica da Nasa. As duas equipes vencedoras de cada cidade serão avaliadas para concorrer como um dos quatro equipes de todo o mundo que visitarão o Nasa Kennedy Space Center. Uma equipe brasileira foi selecionada em 2017. “A proposta é mostrar ao aluno que quiser acelerar a ideia nos nossos programas de aceleração de negócios que ele tem capacidade, habilidade e criatividade para desenvolver isso, seja para ganhar dinheiro, seja para uma ONG”, ressaltou Felipe Domingos, responsável pelo evento na universidade.

Formada em ciências atuariais, Amanda Lara, de 29 anos, quer mudar de área e viu na maratona oportunidade para se integrar à ciência de dados. O desafio escolhido pelo grupo dela, composto por estudantes de design, tecnologia da informação e sistema de informação, foi criar uma narrativa com o objetivo de motivar as pessoas a continuar as expedições para a Lua. “Tentamos puxar o emotivo, usando gravações da Apollo 11. A partir desse momento, usamos licença poética para ir a um cenário futuro”, contou.

Estudante do 4º período de ciência da computação, Matheus Luiz Oliveira, de 21, participa pela segunda vez. De olho no mercado educacional, ele e os amigos dormiram, em média, quatro horas por dia desde sexta-feira, para projetar um jogo que permite às crianças criarem seu próprio planeta, observando o que é preciso ter para sobreviver, a vida terrestre, entre outros elementos. “Criamos possibilidades de as pessoas mexerem com elementos químicos e aprenderem sobre diversos aspectos, como os outros planetas do sistema solar”, disse.

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