Jornal Estado de Minas

Após queda de mais um avião, moradores querem fechamento do Aeroporto Carlos Prates



A queda de mais um avião no Bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte, provocou uma forte reação nos moradores e pessoas que frequentam a comunidade. A população está se mobilizando para pedir o fechamento do Aeroporto Carlos Prates, de onde a aeronave de pequeno porte decolou. Três pessoas morreram e outras três ficaram feridas depois que o avião caiu em um cruzamento, atingiu carros e pegou fogo. O último acidente do tipo ocorreu há poucos meses, em abril.



“Tem que fazer um abaixo-assinado na região toda do Caiçara pra desativar esse aeroporto! Esse aeroporto está desvalorizando a região, e também colocando a vida de todos em risco”, comentou um morador por meio de um aplicativo. Membros da comunidade já se organizam em grupos de mensagens para programar ações. Além da coleta de assinaturas, eles planejam abrir reclamações na Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e Prefeitura de Belo Horizonte. Na troca de mensagens, eles reclamam de uma escola de voo que opera no terminal. 

Vídeo do Clima ao Vivo mostra momento da queda do avião


Quando estava se deslocando pelas ruas do Caiçara, a reportagem do Estado de Minas se deparou com duas caminhonetes das Infraero, que é responsável pela operação do Aeroporto Carlos Prates. No momento em que elas passaram em frente a um supermercado na Rua Belmiro Braga, vários moradores que estavam na porta começaram a hostilizar os ocupantes dos veículos. “Esse aeroporto tem que fechar! Já passou da hora. Não é possível que vocês não vão fechar”, gritaram. 

(foto: Arte/Soraia Piva)


Moradora do bairro desde 1978, a empresária Marilene Paolinelli, de 68 anos, levou a reportagem ao imóvel onde mora para mostrar a situação. “Eu vivo em sobressalto porque tenho essa área e tenho medo de tentarem pousar para sobreviver e cair em cima da gente. Naquela casa vermelha já caiu um ali, conseguiu encaixar no lote. Já caiu outro na Rua Lorena, aqui na Minerva é o segundo. É tenso porque a gente não sabe o momento de acontecer”, desabafou. 





Marilene usou o espaço social da residência para montar um clube de jogos de tabuleiro. No momento da queda da aeronave, no início da manhã desta segunda-feira, ela pensou que a própria casa tivesse entrado em colapso. “Eu subi a escada aqui achando que era a minha casa que estava desmoronando, barulho de vidro e tudo quebrando. Quando abri o portão vi que era na minha rua e não a minha casa. A casa tremeu todinha”, contou. Ela também disse ser contra o aeroporto. “Eu acho que o melhor é o fechamento mesmo pra todo mundo ter mais sossego”, afirmou.



Morador da Rua Minerva há 45 anos, o aposentado Antônio Aderilton, de 75, viveu momentos de pânico dentro de casa. “Eu estava na mesa do café quando ouvi o barulho. Saímos correndo muito assustados, eu e minha esposa. Pensamos que fosse um posto de gasolina que tivesse estourado. Foi um barulho completamente diferente do que estamos acostumados a ouvir”, contou. 

O casal saiu da residência pra ver o que havia ocorrido, mas foi surpreendido pelas chamas, que os impediram de se aproximar mais. Ele lembrou dos outros acidentes ocorridos na região e falou da sorte que tiveram. “Tinha acabado de fazer uma oração pedindo a proteção divina e foi o que aconteceu, Ele me deu essa proteção. Jamais passei tamanho susto”, comentou.





“De manhã cedo, 6h, já tem avião rodando aí”, disse o padeiro Daniel Rodrigues, de 23 anos. Ele trabalhava no momento do acidente. A padaria ficas na Rua Firmino Costa, segundo ele, a apenas 600 metros do local da queda. “Eu estava fazendo pães e escutei um baque enorme. Pensei que a máquina tinha estragado. Aí chegou um colega meu e falou 'caiu um avião no bairro, quase no mesmo lugar do outro'. Aí eu terminei os pães e fui ver”, contou. Ele também engrossa o coro a favor do “fechamento do aeroporto para garantir a tranquilidade”. 



A advogada Maria Elisa Silva de 59 anos, que mora na Rua Francisco Bicalho, paralela à Minerva, vive angustiada com os pousos e decolagens das aeronaves, que segundo ela, sobrevoam sua casa a uma altura muito baixa. Ela que já vivenciou a queda do avião de pequeno porte em abril deste mesmo ano, conta que para os moradores do bairro, o drama é diário. “Isso aí é uma tragédia que vai acontecer todo dia, todos os dias esses aviões passam muito baixo, já fiz contato com a Infraero e não tomam providência e é desesperador porque a gente fica esperando quando e onde vai ser a próxima queda. Na minha casa todos estão com muito medo, o bairro é residencial e não comporta esses aviões, eu já liguei já conversei e eles pedem para filmar, vamos ter que filmar quando cai, é absurdo", relata.


Nesta manhã, o Estado de Minas relembrou outros acidentes aéreos em Belo Horizonte. Entre 2012 e 2015, quatro aviões caíram em diferentes regiões da capital mineira. Pelo menos duas das aeronaves tentavam pousar no Aeroporto Carlos Prates. 




 

 

Infraero se pronuncia


A Infraero, responsável pela operação do Aeroporto Carlos Pratos divulgou uma nota sobre o acidente. Segundo a empresa, o terminal obedece os requisitos de segurança. Leia na íntegra: 

“A Infraero lamenta o acidente, às 8h30 desta segunda-feira (21/10), com a aeronave Cirrus SR 20, prefixo PR-ETJ, que vitimou três pessoas e deixou outras três feridas, instantes após a decolagem do Aeroporto Carlos Prates (MG) para o Aeroporto de Ilhéus (BA). A empresa destaca que, ao ser acionada, mobilizou toda estrutura de emergência e socorro que atende ao aeroporto. Sobre as causas do acidente e demais detalhes sobre o operador da aeronave, sugerimos o contato com o Centro Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
 
A Infraero destaca ainda que o Aeroporto Carlos Prates opera dentro de requisitos de segurança estabelecidos nas normas da aviação civil brasileira.”

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