Em um intervalo de seis meses e com uma diferença de apenas 100 metros, a queda de dois aviões na Rua Minerva, no Bairro Caiçara, na Região Noroeste de Belo Horizonte, deixa um saldo de quatro mortes, três feridos e a população de uma região inteira apavorada. Embora os acidentes na mesma rua sejam considerados uma infeliz coincidência, a semelhança entre eles não foi mero acaso, mas faz parte de problema com nome e endereço: aeroporto em área urbana e adensada. Se quando o Aeroporto Carlos Prates, no Bairro Padre Eustáquio, começou a operar, na década de 1940, a capital tinha perto de 350 mil habitantes, de acordo com o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, agora o terminal está encravado na região mais populosa da cidade, área que, sozinha, tem 340 mil moradores e 87 mil domicílios, segundo a prefeitura, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O avião de pequeno porte modelo SR 20 Cirrus Design havia acabado de decolar do Aeroporto Carlos Prates com destino a Ilhéus, na Bahia, quando caiu sobre carros na Rua Minerva, entre as ruas Nadir e Rosinha Sigaud. Às 8h14min24, apenas 21 segundos depois da partida, a colisão e explosão da aeronave matou ontem três pessoas e deixou três feridos. Rodeado por casas e prédios, o local do acidente fica a 90 metros de uma escola infantil, a 501 metros de um centro de saúde e a 148 metros de um posto de gasolina. Moradores reagiram à queda e ainda ontem começaram a se organizar para cobrar ações. Há um grupo que defende o fechamento do aeroporto e reclama sobre escola de voo que opera no terminal.
“A maioria dos moradores solicita o fechamento do aeroporto. Montamos um comitê e, além da solicitação a ser feita ao Ministério Público, queremos uma audiência pública na Assembleia Legislativa”, afirma a designer Carolina Quelotti, de 48 anos, há 35 moradora do Caiçara. A reunião de ontem contou com mais de 50 moradores para discutir a situação do terminal.
“Já passou da hora de tirar esse campo de aviação. Estão esperando cair em cima de um prédio e morrer quantas pessoas? Ou morrer alguém importante? É só o que está faltando, porque morte a gente já tem aí sobrando. Uma vítima já deveria ser suficiente”, afirma a manicure Luciana Mota, de 37, que teve o carro atingido pela aeronave, mas escapou ilesa do acidente.
Moradora do bairro desde 1978, a empresária Marilene Paolinelli, de 68, levou a reportagem ao imóvel onde mora para mostrar a situação. “Vivo em sobressalto, porque tenho essa área e tenho medo de tentarem pousar para sobreviver e caírem em cima da gente. Naquela casa vermelha quase caiu um. Já caiu outro na Rua Lorena, e aqui na Rua Minerva é o segundo. É tenso, porque a gente não sabe o momento de acontecer”, desabafou.
Desde 13 de abril, quando ocorreu a queda da aeronave PT-DME, do modelo francês Socata ST-10 Diplomate, até a manhã de ontem, quando caiu a aeronave PR-ETJ, modelo SR 20, fabricada pela Cirrus Design em 2007, nada foi feito para trazer mais segurança aos moradores da Rua Minerva. A afirmação é do contador Nélio Godinho dos Santos, de 69, que teve a casa atingida pela queda de monomotor em abril. “Não recebemos contato de ninguém”, afirmou. Toda a família vive em estado constante de tensão. “Minha filha não consegue dormir mais. Levanta assustada quando um avião passa. Muitos fazem voo rasante. É muito barulho”, queixou-se. Na manhã de ontem, ele estava assustado ao testemunhar pela segunda vez um desastre aéreo na rua onde mora.
Desde 13 de abril, quando ocorreu a queda da aeronave PT-DME, do modelo francês Socata ST-10 Diplomate, até a manhã de ontem, quando caiu a aeronave PR-ETJ, modelo SR 20, fabricada pela Cirrus Design em 2007, nada foi feito para trazer mais segurança aos moradores da Rua Minerva. A afirmação é do contador Nélio Godinho dos Santos, de 69, que teve a casa atingida pela queda de monomotor em abril. “Não recebemos contato de ninguém”, afirmou. Toda a família vive em estado constante de tensão. “Minha filha não consegue dormir mais. Levanta assustada quando um avião passa. Muitos fazem voo rasante. É muito barulho”, queixou-se. Na manhã de ontem, ele estava assustado ao testemunhar pela segunda vez um desastre aéreo na rua onde mora.
No acidente de abril, parte do muro da casa de Nélio ficou destruída, bem como a parte elétrica da residência. O contador mora com a mulher, Maria Helena Gonçalves Godinho, de 76, dois filhos e uma funcionária. “Minha esposa estava caminhando na hora em que o acidente aconteceu, nesta segunda. Escutou o barulho, viu a fumaça e já pressentiu que a queda tinha sido em nossa rua novamente”, afirmou.
Histórico
O aeroporto de onde partiram as duas aeronaves abriga o Aeroclube do Estado de Minas Gerais, dedicado à formação de pilotos, aviação desportiva, manutenção, instrução, construção de aeronaves, ultraleves, aviação geral de pequeno porte e helicópteros. Na fundação da cidade, o Bairro Padre Eustáquio foi ocupado, a partir de 1920, por operários que formaram vilas afastadas de onde então ficava a área urbana da cidade. Assim como a chegada dos bondes, a abertura da Avenida Pedro II, iniciada em 1935, que ocorreu na época da construção do aeroporto, foi importante para a ocupação da região.
Com a repetição de acidentes, em um período de seis meses, os moradores reforçaram os pedidos para o fechamento do Aeroporto Carlos Prates. No entanto, conforme a reportagem apurou, não há nenhuma ação no sentido de desativar o terminal. Inclusive, logo depois do acidente de abril, o prefeito da capital, Alexandre Kalil, afirmou que não via motivos para fechar a estrutura. Diante do segundo acidente, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que a responsabilidade por analisar o pedido é da Infraero.
Em nota, por sua vez, a Infraero destacou que “o Aeroporto Carlos Prates opera dentro de requisitos de segurança estabelecidos nas normas da aviação civil brasileira”. Informou ainda que, ao ser acionada, “mobilizou toda a estrutura de emergência e socorro que atende ao aeroporto”.
Uma equipe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) iniciou a perícia na manhã de ontem. Nesta fase inicial é feita a coleta de dados: fotografia de cenas, retirada de partes da aeronave para análise, recolhimento de documentos e coleta de relatos de pessoas que possam ter observado a sequência de eventos. A investigação tem o objetivo de prevenir que novos acidentes com as mesmas características ocorram. Ainda não há conclusão sobre o acidente de abril com a aeronave de matrícula PT-DME.
As vítimas
Mortos
Do aparelho
Hugo Fonseca Silva, 38 anos
Era morador de Contagem, na Grande BH. Deixa a esposa e o filho Miguel, de 1 ano
Em terra
Pedro Antônio Barbosa, de 54
Estava em um dos três carros destruídos. Era de Venda Nova e estava indo trabalhar em uma obra
Estava em um dos três carros destruídos. Era de Venda Nova e estava indo trabalhar em uma obra
Paulo Jorge de Almeida, de 61
Estava no mesmo carro. Pedro e Paulo eram vizinhos e estavam a caminho do trabalho no mesmo local
Estava no mesmo carro. Pedro e Paulo eram vizinhos e estavam a caminho do trabalho no mesmo local
Socorridos com vida
Do aparelho
Allan Duarte Jesus Silva, de 29
Pilotava o avião e teve queimaduras. Estava com a habilitação em dia
Thiago Funghi A. Torres, de 30
Estava no avião e foi socorrido com queimaduras pelo corpo
Srrael Campras dos Santos
Estava no avião e também se queimou. Na Anac, aparece como operador do aparelho