Jornal Estado de Minas

71 anos de medo: o longo histórico de desastres do Aeroporto Carlos Prates


Desde que foi inaugurado, em janeiro de 1944, o Aeroporto Carlos Prates tem sua história associada a uma série de acidentes e à preocupação das comunidades próximas. Em 1975, por exemplo, o então vereador da capital João Batista Cardoso, apresentou uma representação junto ao Ministério da Aeronáutica, alertando para os problemas do terminal – criado com a objetivo de ser um aeroclube, para formação de pilotos – e o perigo que ele já representava para a população.



“Aeroportos e lugares povoados são um problema no mundo inteiro. As construções próximas ao Aeroporto de Carlos Prates significam um risco. Venho salientar que o poder público municipal, embora tenha tentado atuar em benefício da população, não tem capacidade para tal”, dizia o documento, 44 anos atrás, que sequer obteve uma resposta do órgão então responsável pela aviação no Brasil.

O primeiro grave acidente no Carlos Prates acontece já quatro anos após a inauguração: dois aviões, um Bechara Bonança, que vinha de Itajubá, no Sul de Minas, e um Piper Super Cruiser, bem mais potente, que chegava de Passos, na mesma região se chocaram no ar, pouco antes da aterrissagem. Desse acidente resultaram dois mortos, ambos passageiros do segundo aparelho: o farmacêutico Lauro Garcia Pereira e sua sogra, Balbina Arruda Vieira. O aparelho explodiu ao se chocar com a pista. As vítimas usavam cinto de segurança e ficaram carbonizadas. O piloto, Domingos Rosalvo Junqueira, embora tivesse parte do corpo queimado, sobreviveu à queda. No outro avião, que era pilotado por Carlos França, os dois passageiros sobreviveram.

Em 1976, dois acidentes chamaram a atenção, pelo pequeno intervalo de tempo que aconteceram: 11 dias. Em 18 de junho, um Paulistinha prefixo PP-HOP, que pertencia à escola de aviação instalada no Carlos Prates, caiu na Avenida Pedro II, altura do número 4.900, pouco depois de decolar. Tinha dois ocupantes, o instrutor Hertz Pereira de Araújo, então com 25 anos, e o aluno Ricardo Chagas Marinho, com 26. Segundo relato de ambos, houve uma pane no motor e eles acabaram descendo na avenida. Hertz se feriu gravemente, mas acabou escapando da morte, assim como Ricardo, que teve uma fratura no maxilar.



No dia 29 do mesmo mês, um Cessna, da extinta Superintendência do Centro-Oeste da Sudea (Superintendência de Desenvolvimento Agropecuário), prefixo PT-FEA, se espatifou nos eucaliptos que ficam no final da pista, matando o piloto Francisco Albuquerque Milhomen, aos 22 anos, e o estudante Werner Miglio de Carvalho, com 26. O avião tinha vindo a Belo Horizonte para uma revisão.

Na época, havia um problema com a torre de comando do aeroporto e os aviões faziam a comunicação com uma manobra que indicava que pousariam. O piloto dava um rasante sobre a pista, para em seguida dar uma volta completa no aeroporto e finalmente pousar. Consta que Francisco não conseguiu arremeter o avião e bateu nas árvores.

Na época, o fiscal da Infraero Ronald Bertoni denunciou as péssimas condições técnicas do aeroporto, que não teria estrutura para funcionar. “Falta comunicação entre o avião e a torre. Isso força o piloto a uma manobra que não é recomendável.”





DC 3 Em 7 de agosto de 1978, o terminal registrou um acidente com um avião de grande porte. Um Douglas DC-3, considerado o mais seguro da época, prefixo PT-KVU, pertencente à empresa MS Consultoria Geral de Engenharia, pilotado por Daniel Nobre, não fez o pouso como recomendado. Segundo testemunhas, o comandante desceu quase na metade da pista e não teve os 300 metros necessários para frear o aparelho. Ao sair da pista, por puco não atingiu as poucas casas ali existentes. O saldo foi de apenas um ferido grave, o piloto, e 17 passageiros com ferimentos leves.

No mesmo ano houve outros três acidentes associados ao tamanho da pista, considerada curta e também malconservada e sem sinalização, todos com aviões pequenos. Morreram quatro pessoas. Na época, um relatório da administração do Carlos Pates considerou que todos os desastres naquele ano aconteceram em função erros de pilotagem. Mas o mesmo documento admitia a falta de condições do piso, por falta de manutenção, e também que não havia sinalização.

Mais de dez anos de risco


Entre acidentes registrados em área urbana de Belo Horizonte desde 2008, apenas um não envolveu aeronave que tenha decolado do Aeroporto Carlos Prates

2008
Setembro
» Um avião de pequeno porte cai no telhado de um depósito de materiais no Jardim Montanhês, em Belo Horizonte, instantes depois de decolar do Aeroporto Carlos Prates. O galpão pegou fogo após o impacto. Três pessoas ficaram feridas.





2012
Maio
» Uma aeronave de pequeno porte caiu em um barranco próximo à cabeceira da pista do Aeroporto Carlos Prates. A aeronave apresentou problemas mecânicos ao decolar e o piloto não conseguiu pará-la a tempo. Não houve feridos.

Agosto
» Um helicóptero AS 50 Esquilo caiu na cabeceira do Aeroporto Carlos Prates. O piloto e um aluno ficaram feridos. Por pouco não ocorreu uma tragédia, pois a queda aconteceu a cerca de 30 metros do Anel Rodoviário

2014
Outubro
» Um monomotor que havia partido do Aeroporto Carlos Prates precisou fazer pouso forçado entre Juatuba e Igarapé, na Grande BH. Três pessoas ficaram feridas

Outubro
» Um helicóptero, que também havia decolado do Carlos Prates, caiu nas imediações de Juatuba, na Região Metropolitana de BH. As duas pessoas a bordo da aeronave foram socorridas.

Novembro
» Outro avião de pequeno porte caiu sobre uma casa nas imediações do Aeroporto Carlos Prates. Duas pessoas ficaram feridas.

Dezembro
» Um avião de pequeno porte caiu sobre a pista do Anel Rodoviário. O piloto não sofreu ferimentos graves e conseguiu sair da aeronave depois de receber socorro de uma Unidade do Samu

2015
Junho
» Em 7 de junho, no penúltimo acidente aéreo com mortes na capital, o bimotor King Air prefixo PR-ABG caiu pouco depois de decolar, às 15h20, do aeroporto da Pampulha. Não houve vítimas em terra, mas os três ocupantes da aeronave morreram na hora.

2019
Abril
(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press - 13/4/19)

» Em 13 de abril, uma aeronave de modelo francês Socata ST-10 Diplomate colidiu com um poste em frente ao número 405 da Rua Minerva, no Bairro Caiçara, a mesma em que ocorreu o desastre de ontem, em meio a dezenas de moradias. O aparelho e arrastou parte da fiação. Segundo uma testemunha, o avião desviou de um prédio antes de cair, em frente às casas e diante de um lote vago, que poderia ser o alvo do piloto.




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