Dona de um dos veículos atingidos, Dardanya Oliveira estava em academia na hora do acidente - Foto: PAulo Filgueiras/EM/D.A Press
Seis meses depois do susto pela
queda de um
avião de pequeno porte que interrompeu a tranquilidade da
Rua Minerva, no
Bairro Caiçara, na Região Noroeste de Belo Horizonte, o terror em forma de explosões, fogo e vidas perdidas voltou a assombrar os moradores da mesma rua, a apenas 100 metros do local do acidente de 13 de abril. Um avião com capacidade para quatro pessoas, incluindo o piloto, caiu em frente ao número 308 da via, na esquina com a
Rua Rosinha Sigaud. As duas tragédias estão separadas por
20 imóveis, sendo três prédios residenciais, 15 casas e dois imóveis comerciais. Dessa vez, diferentemente do primeiro caso, quando a única morte ficou restrita a quem estava dentro do avião, a tragédia causou três mortes, sendo uma na aeronave e outras duas de pessoas que estavam em terra. O desastre ainda deixou outros três ocupantes do avião em estado grave no Hospital João XXIII. Em ambos os casos, as aeronaves haviam acabado de decolar do
Aeroporto Carlos Prates, que fica no vizinho Bairro Padre Eustáquio e tira o sono da população local. Na rota de ontem, o plano de voo previa uma viagem até Ilhéus, na Bahia, mas o percurso foi interrompido menos de um minuto depois da decolagem.
Às 8h14min03 o
avião modelo SR 20, prefixo PR-ETJ, decolou da pista do Aeroporto Carlos Prates, cruzou a Avenida Dom Pedro II e alcançou os limites do Bairro Caiçara. Nesse momento, ele fez um retorno brusco na própria rota e caiu na Rua Minerva, em frente ao número 308, exatos 21 segundos depois de levantar voo.
Antes do choque no solo, abriu um paraquedas, que ficou esticado pela Rua Minerva e ainda atingiu três veículos. Um deles é o Renault Logan onde a manicure Luciana Mota, de 37 anos, tinha acabado de entrar. Ela saiu da academia Biofit Cross e escutou a explosão quando já estava dentro do veículo, chegando a pensar a morreria queimada.
Além do carro dela, a aeronave acertou um
Toyota Etios que estava vazio e pertencia à educadora física Dardanya Oliveira, de 32 anos. Ela estava na mesma academia de que Luciana tinha acabado de sair. “Eu estava dentro da academia e corri para o fundo dela. A gente não conseguiu sair, por causa do fogo e da fumaça na porta da academia”, diz ela. Dardanya conta que ficou em estado de choque e não conseguia nem responder o que tinha dentro de seu carro.
“Foi muito desesperador, porque o fogo foi muito alto, teve muita gritaria”, diz ela. O pior aconteceu no Corsa que também foi destruído pelas chamas. Dentro dele estavam dois vizinhos, moradores da Região de Venda Nova, em BH, que estavam indo trabalhar em uma obra. Pedro Antônio Barbosa, de 54, e Paulo Jorge de Almeida, de 61, morreram no local do acidente. O corpo de um dos dois foi resgatado do lado de fora, ao lado de um poste, o que indica que ele conseguiu sair do carro, mas acabou vitimado pelas queimaduras. Já o corpo do colega ficou preso dentro do carro. Além dos óbitos dos dois, também faleceu na hora Hugo Fonseca da Silva, de 38 anos. Ele era um dos quatro ocupantes do avião e seu corpo foi encontrado em meio aos destroços.
Ele só foi retirado depois da atuação dos técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão vinculado ao Comando da Aeronáutica.
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Os outros três ocupantes do avião foram socorridos com vida e encaminhados ao Hospital João XXIII. São eles Allan Duarte de Jesus Silva, de 29, que pilotava o avião, Thiago Funghi Alberto Torres, de 30, que também era piloto, mas estava como passageiro, e Srrael Campras dos Santos, que seria o dono do avião. “No momento em que a gente chegou ao local havia duas vítimas na rua. Uma no meio da rua e outra na calçada. Depois do atendimento dessas duas, retiramos as vítimas mais próximas aos veículos e conseguimos resgatar duas, porém uma veio a óbito. As outras duas já estavam em óbito em meio aos destroços”, diz o tenente Leandro Gomes, do Corpo de Bombeiros. Quem também ajudou como pôde foi o motorista Guilherme Henrique, de 32 anos, que trabalha em uma locadora que fica na Rua Minerva. Ele conta que viu uma das duas vítimas descritas pelos bombeiros em chamas. “Tirei a minha própria camisa para tentar abafar o fogo no corpo dele e pedi que ele rolasse no chão. Ele só pedia por ajuda”, conta Guilherme.
Dados do avião
De acordo com informações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave podia voar, mas não tinha autorização para faze serviço de táxi-aéreo.
Ainda está sendo apurado que tipo de uso ocorria no momento do acidente. No cadastro da Anac, a aeronave consta como de propriedade da Helicon Táxi Aéreo, empresa com sede na cidade de Colombo, no Paraná. No entanto, a operação estava em nome de Srrael Campras dos Santos, um dos feridos no acidente, que adquiriu a aeronave há três meses. O administrador da Helicon Táxi Aéreo, Jairo Cardoso, informou que a aeronave foi vendida em 25 de julho para Srrael. "A venda consta de três meses. A aeronave estava em bom estado", afirmou Jairo. A aeronave, que havia sido anunciada por R$ 500 mil num site de negociações, foi adquirida por R$ 450 mil, segundo o contrato de compra e venda. Em relação à documentação, a Inspeção Anual de Manutenção (IAM) e o Certificado de Aeronavegabilidade (CA) estão válidos, ou seja, a aeronave estava apta a voar. A investigação será realizada pelo Cenipa, que é o órgão responsável pela apuração e investigação de acidentes aeronáuticos.
Outro acidente
O que chama a atenção é que o local onde a aeronave bateu fica a cerca de 100 metros do ponto onde outro avião saindo do Aeroporto Carlos Prates caiu há seis meses, na mesma Rua Minerva, naquela oportunidade em frente ao número 405. Na ocasião, a aeronave, de modelo francês, Socata ST-10 Diplomate, que tinha capacidade para quatro passageiros, bateu em um poste e arrastou parte da fiação da Rua Minerva.
Segundo uma testemunha, o avião desviou de um prédio antes de cair. O acidente matou o piloto, que era instrutor de voo, e estava sozinho no avião.
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