Fabricado em 2007, o Cirrus SR 20 que caiu na segunda-feira em Belo Horizonte, tem capacidade para três passageiros e não tem caixa-preta. Segundo o professor Márcio Suzano, coordenador do curso de pós-graduação em engenharia de manutenção e gestão de ativos na Universidade Veiga de Almeida (UVA), no Rio de Janeiro, um acidente dessa natureza leva a crer em pane no motor ou nos comandos. O paraquedas, equipamento de segurança que vem de fábrica para ser acionado em caso de pane e diminuir os danos em estruturas próximo ao aeroporto tem efeito a partir de 500 pés.
Segundo o especialista, o procedimento é normal quando há vítimas. Agentes chegaram em uma viatura pela manhã, desceram, observaram o local e falaram rapidamente com alguns moradores. Eles não deram entrevistas. Extraoficialmente, a informação é de que os levantamentos visam identificar se há algum ato ilícito a ser apurado. Oficialmente, a assessoria da corporação informou que não iria se pronunciar.
Diante dos questionamentos de moradores sobre a segurança do Aeroporto Carlos Prates, o major brigadeiro do ar reformado Renato Costa Pereira afirma que o problema do terminal é o mesmo da Pampulha e de Congonhas (SP), por exemplo: estar localizado em área urbana. Ele lembra que por muitas vezes se tentou tirar o aeroporto dali – na década de 1980, a ideia era transformar o terreno, de propriedade da Prefeitura de BH cedido para União, num centro de treinamento olímpico.
“No Carlos Prates o problema é menor. Qual interesse econômico dele? Tem o aeroclube que funciona formando aviadores, recebe normalmente aviões de pequeno porte e aeronaves conhecidas. No dia que encontrarem uma solução e lugar para instalar o aeroclube, as empresas de manutenção e o posto de combustível, ele sai dali. Mas o risco é o mesmo dos outros”, afirma. “O que não está garantido é o risco permanente de avião voando em cima da cidade. Mas, como são aviões de pequeno porte, mesmo com desastre e sinistro, é mais limitado.”
A Agência Nacional de Avião (Anac) informou que não há irregularidade no âmbito das normas de aviação civil no Carlos Prates e que “a localidade do aeroporto não está de nenhuma maneira relacionada à segurança operacional da infraestrutura dele”.
De acordo com a Infraero, o Aeroporto Carlos Prates tem uma média de 10 mil ciclos (pousos/decolagens) por ano. O Aeroclube do Estado de Minas Gerais, instalado nas dependências terminal, defende as operações. “Se considerarmos essa média nos 74 anos de operação do aeroporto e duas pessoas por aeronave, temos quase 1,5 milhão de pessoas envolvidas diretamente nas operações feitas no Prates”, afirmou em nota. “Há um percentual de 0,0000006% de fatalidades por ciclo. Esse percentual nos leva a crer que estamos falando de uma operação extremamente segura, ainda mais se comparada aos números de vítimas que perdem a vida no trânsito de Belo Horizonte.”
Morte
Morreu ontem à tarde o piloto Allan Duarte de Jesus Silva, de 29 anos, que estava no comando do avião que caiu no Bairro Caiçara. Ele havia decolado do Aeroporto Carlos Prates em direção a Ilhéus (BA). Segundo a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), o paciente estava internado em estado gravíssimo, com praticamente 100% do corpo queimado. Tudo indica que Allan ia para a cidade baiana levando o dono da aeronave, Srrael Campras dos Santos, para vender o aparelho, que havia sido comprado no início de julho.
Os outros dois pacientes – Thiago Funghi Alberto Torres, de 30, e Srrael Campras dos Santos, que estavam no avião, seguem em estado grave. Um deles teve 55% da área corporal queimada e o outro com 32% do corpo atingido. Todos eles passaram por cirurgia e foram encaminhados para o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital João XXIII. Além de Allan, morreram no acidente os pedreiros Pedro Antônio Barbosa, de 54 anos, e Paulo Jorge Almeida, de 61, que estavam em um carro atingido pela aeronave, e Hugo Fonsenca da Silva, 38 anos, passageiro da aeronave.