Jornal Estado de Minas

Pampulha

Explosão em barragem na Pampulha: o que a investigação mostra até agora

- Foto: Leandro Couri/EM/D.a press

 

A poluição da Lagoa da Pampulha – resultante do lançamento diário de toneladas de lixo, da descarga clandestina de esgoto e de outras fontes de contaminação – pode estar também diretamente ligada à explosão ocorrida, no início da tarde de ontem, no vertedouro localizado no entroncamento das avenidas Otacílio Negrão de Lima e Antônio Carlos, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte. Peritos da Polícia Civil estiveram no local e investigam uma possível combustão por gás gerado a partir do acúmulo de resíduos, em procedimento que deve ser concluído em 10 dias. No acidente, três operários ficaram feridos: João Carlos Francisco, Cláudio dos Santos e Sebastião Ferreira Ramos, que foram levados para o Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, onde foram internados em estado grave.

 

Segundo o Corpo de Bombeiros, a explosão ocorreu em uma galeria onde estavam os três funcionários a serviço da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que foram conduzidos ao HPS em viaturas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No momento do acidente, os trabalhadores faziam manutenção do vertedouro, usando uma solda para estruturas metálicas, o que teria gerado faíscas causadoras da explosão. Após o acidente, bombeiros solicitaram que as comportas fosse abertas, para inundar a galeria evitar novas ocorrências.

 

Às 12h55, todas as vítimas já haviam sido retiradas da galeria. Os operários estavam conscientes e sofreram ferimentos – de acordo com testemunhas, apresentavam muitas queimaduras pelo corpo. A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informou ao Estado de Minas que apura o caso. O titular da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap)/PBH, Henrique Castilho, esteve no local e afirmou que a preocupação maior não era com a ocorrência, “mas com as pessoas que ficaram feridas”.

 

De acordo com o tenente Leandro Gomes, do Corpo de Bombeiros, os feridos estavam a cerca de 6 a 8 metros de profundidade no momento do acidente na estrutura, que tem 20 metros de profundidade.

O tenente informou que vários fatores podem ter causado a explosão, entre eles a combustão de gases resultantes da decomposição de matéria orgânica, motivos que serão analisados pela Polícia Civil.

RECUPERAÇÃO A PBH informou que ao todo 50 operários trabalham na intervenção que visa a recuperação estrutural do vertedouro, localizado no espelho d'água que faz parte do conjunto reconhecido como Patrimônio da Humanidade. Nenhum tipo de explosivo é usado na obra, segundo a prefeitura. Após a explosão de ontem, a polícia isolou a área, impedindo que curiosos parassem para ver a mobilização e socorro aos atingidos.

 

O acidente complicou o trânsito na região, com registro de engarrafamento na Avenida Otacílio Negrão de Lima, no trecho compreendido entre o Pampulha Iate Clube (PIC) e a Estação Move Pampulha. A retenção alcançou também a Avenida Pedro I, do Shopping Via Brasil até a barragem. Uma faixa no sentido Centro ficou bloqueada. O trânsito na Avenida Antônio Carlos e no entorno da lagoa também ficou comprometido. Na Avenida Portugal, o congestionamento se alongou do Clube Labareda à Rua dos Estados, nos arredores do PIC.

 

TRAJETÓRIA As obras no vertedouro, estrutura em forma de tulipa no encontro das avenidas, começaram em maio e têm custo estimado em R$ 8,1 milhões, com previsão de término para o início de 2020.

Como o EM mostrou na época, a intervenção contempla a recuperação do concreto e de galerias, construção de nova comporta e recuperação da existente, além de reforma da passarela de concreto para acesso ao vertedouro.

 

A Lagoa da Pampulha tem dois tipos de estruturas que servem para controlar a vazão das águas: um vertedouro do tipo tulipa, onde ocorreu o acidente de ontem, e outro em canal retangular. O primeiro tem formato de taça, se prolonga verticalmente e foi construído logo após a barragem, na década de 1940.

 

O outro vertedouro tem estrutura horizontal, com 41 metros de largura e 5,5 metros de altura, e foi feito em 2002 para aperfeiçoar o escoamento das águas de chuvas acumuladas na lagoa. Na mesma época foi feita a recuperação da comporta do vertedouro tulipa, que estava desativado.

 

Isso porque em 2000 foi definida a construção de um novo escoadouro tipo canal lateral, com fechamento dos feitos anteriormente. Porém, no período de 2002-2003, ocorreram chuvas intensas que provocaram inundações na orla da lagoa. Foi constatado, que a nova estrutura construída para escoamento tinha uma capacidade de operação insuficiente. Com isso, os técnicos decidiram pela reabertura do vertedor tulipa, de forma que os dois poderiam a funcionar simultaneamente.

 

* Estagiária sob supervisão do editor Roney Garcia 

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