Jornal Estado de Minas

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Explosão na Pampulha: nossa equipe entra em área isolada e mostra estrutura

Saída do vertedouro, na parte de baixo da barragem - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press

O canteiro de obras montado no vertedouro auxiliar da Lagoa da Pampulha passou por uma vistoria da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), nesta manhã (26). A reportagem do Estado de Minas entrou na estrutura até a área do Poço de Visita (PV), que é onde se acessa a galeria de extravasão da água do reservatório, onde três operários se feriram, ontem (25), após explosão no interior da construção de drenagem. O local foi isolado e as ferramentas e insumos ficaram largadas em meio a equipamentos de proteção individual e ferramentas abandonadas pelos trabalhadores.

O superintendente da Sudecap, Henrique Castilho, esteve na estrutura e falou com a reportagem que não ocorreram danos estruturais após a explosão. "Nada foi comprometido, em termos de estrutura. Vamos retomar em breve as obras de manutenção e o funcionamento do vertedouro não foi comprometido. Nossa preocupação principal, agora, é com o estado de saúde dos trabalhadores feridos no acidente", disse o superintendente.

O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais enviou uma equipe de três militares para apoiar os trabalhos da Sudecap. Será necessário remover uma peça que caiu durante o acidente dentro da galeria e que está impedindo as comportas que inundam a galeria de se abrir. A inundação será necessária para expulsar o gás que pode estar acumulado na lagoa.
"Nossa equipe especializada vai descer pela saída da drenagem (que leva a água da lagoa para o Ribeirão Pampulha) e vai desobstruir essas comportas. Será necessário a utilização de suporte para respiração artificial e proteção contra o ambiente contaminado", disse o Tenente Marcos Machado, do Batalhão de Emergências Ambientais do CBBMG. 



Três dos integrantes da equipe que acompanhou a vistoria da Sudecap informaram extra-oficialmente que tudo indica que a explosão foi causada pelo acúmulo de gases que se desprendem da água altamente contaminada por esgoto e que se acumulou no interior da galeria. A Sudecap não se posicionou oficialmente sobre o caso.



Os três trabalhadores estavam numa profundidade de oito a nove metros da galeria, que chega a ter 20 metros no ponto mais baixo. Eles operavam ferramentas e soldas. Tanto as fagulhas de choque de ferramentas quanto a chama da soldagem podem ter sido os causadores da ignição do gás.

No canteiro de obras, o cenário mostra um abandono realizado às pressas pela equipe de manutenção, enquanto os colegas feridos eram atendidos pelos bombeiros depois da explosão. Luvas, óculos e outros equipamentos de proteção individual foram deixados sobre ferragens e vigas de madeira usadas na obra. Ferramentas também estavam espalhadas no corredor de 30 metros que liga a margem da obreira esquerda da barragem ao vertedouro.

As duas muretas de concreto que guarnecem essa ponte serviram para esticar barris de óleo, insumos e quatro cilindros de gás usado em ferramentas como maçaricos e soldas.
Todos objetos inflamáveis e explosivos que por sorte não estavam na área da explosão, pois poderiam ter causado um estrago ainda maior.

Em volta do Poço de Visita do vertedouro foram erguidos andaimes para suportar as roldanas que içavam ou desciam materiais pesados para os operários que estavam no interior da estrutura. O único local protegido do sol forte é uma tenda de lona plástica. Ao seu lado funcionava um grande gerador de eletricidade movido a combustível.

Lagoa tem mais gás metano que Três Marias

As cargas de esgoto e lixo despejados diuturnamente na Lagoa da Pampulha fazem com que o reservatório seja um grande produtor de metano, gás que polui a atmosfera e é extremamente inflamável. De acordo com estudos para tese de doutorado desenvolvida no Laboratório de Limnologia, Ecotoxicologia e Ecologia Aquática (Limnea) da UFMG o reservatório chega a expelir uma média diária de 413 miligramas de metano (CH4) por metro quadrado, atingindo picos de 1.852 miligramas. Em comparação com lagos muito maiores, o índice de metano na Pampulha é 51% superior ao de Três Marias, o segundo com mais emissões de metano, que chega a 273 miligramas em média.

O gás metano (CH4) é incolor, inodoro e muito inflamável. Pode ser formado através da fermentação anaeróbica (ação de bactérias sem a presença de oxigênio). Vegetais em processo de deterioração e outros resíduos orgânicos constituem o chamado gás dos pântanos. Ocorre em depósitos de lixo e nos esgotos pela atividade de bactérias que se multiplicam nesses ambientes.

Os níveis de concentração de poluentes na Pampulha estão entre os mais altos do ano, uma vez que a época da estiagem (abril a setembro) se prolongou e a pequena concentração de água por conta da falta de chuvas tem menor poder de depuração dos esgotos – dissolve menos os componentes na água, deixando-a mais concentrada - que não cessam seu despejo no reservatório.
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