A demolição de uma igreja construída há mais de meio século, e que estava em processo de tombamento, provocou revolta entre os moradores da pequena cidade de Dom Bosco, de 3,8 mil habitantes, no Noroeste do estado.
A argumentação não foi aceita pelos moradores. Indignados alguns chegaram a jogar pedra na casa paroquial, onde Roni da Silva mora, atrás da igreja demolida com o uso de uma máquina retroescavadeira.
A Polícia Militar teve que ser chamada para acalmar os ânimos. O protesto foi registrado em vídeo, feito pelos próprios moradores.
“Junto com a igreja foi destruída uma história”, afirma a diretora do departamento municipal de Cultura de Dom Bosco, Nely de Fátima Souza. Ela lembra que antigos moradores não resistiram e choraram ao assistirem à retroescavadeira jogar no chão a estrutura da construção que eles ajudaram a erguer.
Outros se emocionaram porque foram batizados na Igreja de São João Dom Bosco.
“A demolição da igreja feriu o sentimento de muitas pessoas na cidade”, reclama uma moradora de Dom Bosco, que preferiu não se identificar. Ela lembrou que o templo passou por uma reforma recente.
A diretora do departamento municipal de Cultura disse que o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico de Dom Bosco, reunido no dia 18 de outubro, listou os “bens com relevância para o patrimônio cultural do município”.
Conforme Nely Souza, na mesma reunião, os conselheiros definiram pelo início do processo de tombamento da Igreja de São João Bosco e de outros dois bens históricos situados na zona rural do município: uma capela na comunidade de Sapato e uma ponte de madeira (que não é mais usada), localizada numa antiga estrada, que liga Dom Bosco ao vizinho município de Brasilândia de Minas. A capela e a ponte forma construídas há mais de 60 anos.
Nely Souza informou que foi iniciado o processo de tombamento da Igreja de São João Bosco, com o levantamento do inventário. O tombamento pelo município seria agilizado nesta semana.
Porém, no último sábado (26), a prefeitura local foi “surpreendida” com a demolição do templo, a mando do sacerdote da cidade.
Questionada, a diretora de Cultura do município disse que não sabe se o padre agiu intencionalmente e ordenou a derrubada da igreja antes que o bem fosse tombado.
“Pessoalmente, acho que ele (o padre) deveria ter seguido as orientações do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, visando à preservação da igreja”, afirmou Nely. Lembrou ainda que, após a decisão do Conselho Municipal pelo tombamento, a Igreja seria notificada, tendo prazo para se manifestar a respeito do assunto.
Nely Souza disse que o Conselho do Patrimônio Cultural ainda vai se reunir para discutir sobre a demolição da igreja construída há mais de 50 anos e avaliará quais as providências deverão ser adotadas.
A reportagem tentou, mas não conseguiu contatos com a Diocese de Paracatu (responsável por Dom Bosco) e com o padre da cidade para ouvir suas versões.