A madrugada estava escura, o relógio marcava 4h, quando Daniela Martins Guadalupe, de 44 anos, pôs o pé na estrada – com ela, mais 40 pessoas do distrito de Santo Antônio de Roça Grande, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Como reza a tradição de uma década, a meta era cumprir a caminhada de 16,5 quilômetros até o Santuário Arquidiocesano de São Judas Tadeu, no Bairro da Graça, na Região Nordeste da capital, por onde passaram, ontem, cerca de 120 mil pessoas, conforme o reitor Nivaldo dos Santos Ferreira. O aumento de 20 mil fiéis em relação ao ano anterior surpreendeu o padre à frente da programação com missas, bênçãos e homenagens ao santo padroeiro das causas impossíveis.
“Estou na minha sétima caminhada, mas, pela primeira vez, venho pedir uma graça a São Judas”, contou Daniela, que chegou ao santuário às 8h com o grupo composto por homens, mulheres, incluindo uma senhora de 70 anos, e adolescentes. Formada em pedagogia em 2016, ela tem como meta trabalhar na área escolhida. “Quero muito atuar na profissão, estar numa sala de aula”, disse Daniela, que, atualmente, está na prefeitura local em outra função. “Chorei demais diante da imagem”, revelou.
Com camisas azuis e o nome do santo estampado na frente, o grupo começou a Caminhada de São Judas Tadeu há 10 anos, numa iniciativa dos amigos Simon e Diego. “Depois foi crescendo e cada ano vem mais um”, contou Raquel Gonçalves dos Santos, que trabalha em escola. “Vamos rezando o terço pelo caminho, conversando”, acrescentou Raquel, que, ao lado dos amigos, caminhou em direção ao chamado trevo de Sabará, na divisa com a capital, seguindo depois pela Avenida José Cândido da Silveira, na Região Nordeste, até o santuário, que registrou ainda peregrinos da Região de Venda Nova, que também se deslocaram caminhando.
Satisfeito com o grande número de fiéis, padre Nivaldo destacou a emoção: “Recebemos grande número de devotos, de peregrinos que procuram o santuário para expressar a gratidão pelas graças que recebem, e, por isso, chegam com o enorme desejo de dizer 'obrigado'. Muitos também vêm fazer seus pedidos”, disse o reitor, lembrando que “celebramos esse dia com muita alegria, por ver a fé estampada no coração e no olhar das pessoas e também porque temos a oportunidade de crescer na fé”.
Emprego e saúde
“Há dois tipos de peregrinos: os que chegam por gratidão e os que vêm pedir graças”, contou o reitor do santuário, ressaltando que emprego e cura de doenças estão em primeiro lugar, seguindo-se problemas de relacionamento e desagregação familiar. “Geralmente, as pessoas pedem a intercessão de São Judas Tadeu para questões particulares e menos para o coletivo.”
Há mais de 10 anos, Guilherme Leonardo Gomes, de 33, faz suas preces com os olhos marcados pela emoção. “Vim pagar uma promessa, estava desempregado desde janeiro e, há 60 dias, pedi para que São Judas me abrisse as portas de emprego. Ele me atendeu. No início do mês, fui empregado. Agora estou distribuindo as orações de São Judas, para que todos possam receber as bênçãos, as graças e a luz do santo”.
Durante as celebrações da manhã – houve missa de duas em duas horas durante o dia –, Teresinha Gomes, de 79, contou que é devota de São Judas e acompanha as missas mensalmente. No dia do santo não seria diferente. “Venho todo dia 28 para agradecer a tudo que ele faz por nós, por todas as bênçãos recebidas ao longo do ano. Minha filha também é muito devota, ela precisou fazer um transplante e, com a graça de Deus e por intercessão de São Judas, deu tudo certo. Somos muito gratas. É mais importante agradecer do que pedir, inclusive acredito que agradecendo, a gente recebe”.
Apóstolo
O apóstolo São Judas Tadeu nasceu em Caná, na Galileia, onde iniciou as pregações. Perto do ano 50, participou do primeiro concílio, em Jerusalém. Depois evangelizou na Mesopotâmia, Síria, Armênia e Pérsia, encontrando Simão e passando a viajar juntos. Por causa da pregação e testemunho muito intensos, pagãos da cidade de Edersa mandaram assassinar os dois apóstolos, em 28 de outubro de 70, a golpes de bastões, lanças e machados. São Judas foi sepultado no Oriente Médio e depois na França. Hoje, os restos mortais de repousam na Basílica de São Pedro, em Roma, na Itália. *Estagiária sob supervisão do subeditor Frederico Teixeira