"Ela e o irmão não podiam ouvir a chave na porta que corriam para recebê-la. Gritavam felizes 'mamãe', 'mamãe". É o que contou a ex-cuidadora da criança de 5 anos assassinada a facadas na manhã desta quarta-feira, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A jovem Gabriella Victoria, de 21 anos, estava muito emocionada no enterro da menina na manhã desta quinta-feira no Cemitério Jardim Parque Cachoeira, também na Grande BH.
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Barbárie sob investigação: veja detalhes do assassinato de menina de 5 anos em Betim'Ele queria só crianças': testemunha fala sobre assassinato de menina de 5 anos em BetimCriança de 5 anos morre esfaqueada perto de escola em BetimPreso por matar menina de 5 anos em Betim vai para centro médico penitenciário Em restauração, joia do Cemitério do Bonfim recupera o brilhoA jovem contou que a mãe das crianças saía logo cedo e ela ficava com a garotinha e o irmão até o fim da tarde. Gabriella ficava com as crianças seis vezes por semana: "a mãe é muito trabalhadora. Fazia tudo pelos filhos", destaca.
A menina gostava muito da cor rosa e de brincar de boneca e assistir a desenhos na internet. Como toda criança, a garota era chegada em um doce. "Gostava era muito de açúcar", revela Gabriella.
Em fevereiro, Gabriella precisou de trocar de emprego, mas a saudade de cuidar das crianças fica. "Gostava muito delas. Ela gostava muito de mim. Não podia ver meu namorado que fechava a cara. Ciumenta ela", brincou. Gabriella pede por justiça.
“Uma situação assim que a gente só vê por televisão, a gente nunca imagina que vai acontecer com a gente”, comentou Fábio Júnior, de 33 anos, vizinho da família da menina. Ele e outras pessoas foram atraídos pelos gritos de socorro da cuidadora da menina na Rua Perdões e, chegando ao local, encontraram a criança morta.
Fábio reclamou do fato de o assassino estar fora da prisão e cobrou a presença de representantes de órgãos ligados aos direitos humanos para dar apoio aos familiares da criança. “A gente acredita que se a justiça fosse mesmo efetiva ele estaria preso ainda, cumprindo o que ele fez lá atrás. Nessa hora os direitos humanos não aparece para dar apoio a família da vítima, né? Só sempre o autor do crime que é o coitado. Desde meia-noite eu estou aqui com a mãe e eles não vem saber o que a mãe tá passando, o que a família tá passando, não mandou um psicólogo, não mandou ninguém”, afirmou.O rapaz também fez um apelo para que a população do Bairro Vila Cristina não ataque a família do criminoso.
O vizinho também falou sobre o abalo sofrido pela comunidade. “A família dela é boa, a mãe dela é trabalhadora, sai cedo de casa. Ela também tem um rapazinho de 8 anos que estava junto (no momento do crime). Como que tá a cabeça dessa criança agora? Não só dele, como dos familiares. E nós também os moradores estamos aí. O Bairro Vila Cristina não tem esses casos, é um bairro família, a gente sempre se comunicando com o outro. E a criança sempre muito alegre, então tá (sic) todo mundo abalado, não tem palavras não”, pontuou.
O sepultamento foi marcado por gritos por "justiça". Muito emocionados, amigos e familiares caminharam em silência. Todos rezaram uma oração e choraram pela morte da garotinha. "Ieda é uma rosa no jardim de Deus", disse um dos entes durante a cerimônia.
Entenda o caso
Segundo a Polícia Militar (PM), a atual cuidadora disse que estava levando as crianças à escola como fazia todos os dias, de mãos dadas. Quando passavam pela Rua Perdões, ela viu a menina cair. Ela havia acabado de levar uma facada. O agressor, de 25 anos, atacou a criança pelas costas e começou a desferir outros golpes.
Ainda segundo o registro, a cuidadora mandou a outra criança sair correndo enquanto ela tentava proteger a menina, a colocando no colo, mas não conseguiu. Ela chegou e se colocar entre o agressor e a vítima, mas ele dava a volta e continuava esfaqueando a criança.
De acordo com a polícia, ele correu para a Rua Pirapetinga, mas voltou com a faca nas mãos e foi contido por populares. A primeira viatura que chegou ao local encontrou uma multidão alvoroçada agredindo Moabe. Eles intervieram e recuperaram a arma do crime, que estava caída na rua. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Teresópolis, para onde o jovem foi levado, a equipe constatou lesões leves e um corte na boca que demandou uma sutura.
A morte da menina foi confirmada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Foram constatadas cinco perfurações na nuca, pescoço, tórax e traqueia. O corpo da criança foi levado ao Instituto Médico-Legal (IML) de Betim.
Ainda de acordo com a PM, consta no boletim de ocorrência que, ao ser questionado sobre o motivo do ataque em um primeiro contato, Moabe respondeu que teve um surto. Já dentro da viatura, disse que “estava fazendo um pacto com o diabo”. Na UPA, falou que havia fumado crack a noite toda.
O delegado Otávio de Carvalho, responsável pelas investigações do caso, disse, em coletiva de imprensa ontem, que o rapaz estava tranquilo durante o interrogatório, mas apresentava comportamento estranho, falando pausadamente e sem manter contato visual. "Ele disse ter ouvido vozes de 'patrões' mandando-o cometer o crime", contou o delegado. "Ele revelou que já tinha pensado em matar e, inclusive, tentou sair com faca de casa, mas a família não deixou", disse o delegado.
O delegado Otávio de Carvalho, responsável pelas investigações do caso, disse, em coletiva de imprensa ontem, que o rapaz estava tranquilo durante o interrogatório, mas apresentava comportamento estranho, falando pausadamente e sem manter contato visual. "Ele disse ter ouvido vozes de 'patrões' mandando-o cometer o crime", contou o delegado. "Ele revelou que já tinha pensado em matar e, inclusive, tentou sair com faca de casa, mas a família não deixou", disse o delegado.