Amanhã é dia de visitar os cemitérios e prestar homenagem à memória dos familiares, amigos e de pessoas admiráveis falecidas. Mas, neste Dia de Finados, moradores e visitantes que forem ao Cemitério do Bonfim, na Região Noroeste de Belo Horizonte, poderão ver andaimes indicando a restauração de um monumento erguido na época da construção da capital: a Capela do Necrotério, de 1897, que chama a atenção principalmente pela cúpula fabricada na cidade de Bruges, na Bélgica. “Temos aqui um patrimônio importante da cidade, embora desconhecido de muita gente”, disse, na manhã de ontem, o restaurador Adriano Ramos, do grupo Oficina de Restauro, empresa encarregada da intervenção, prevista para terminar em 2 de fevereiro.
No lado de fora da construção, as prospecções feitas pela equipe de sete pessoas mostraram os tons amarelo e ocre também originais – no andaime colado à fachada, a restauradora Fernanda Alves Guerra revela que ainda há muito para fazer na Capela do Necrotério do Cemitério do Bonfim, administrado pela Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB), tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de BH. Para quem visitar esse e outros cemitérios de BH, a FPMZB divulgou o horário das missas em 2 de novembro (veja a programação).
O projeto, com previsão de durar cinco meses, tem recursos do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), fruto de medidas compensatórias ambientais. Conforme a Fundação Municipal de Cultura/Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que acompanha a intervenção, os serviços técnicos são os seguintes: raspagem da pintura externa, remoção das camadas de repintura, vedação das áreas danificadas, complementações, emassamento e nivelamento das paredes externas, emassamento e nivelamento de lacunas das superfícies no interior da capela, reintegração das cores e aplicação de pintura à base de cal nas paredes externas.
Ocupação
A destinação do espaço da época da construção de BH ainda não foi definida. “Vamos conversar sobre o uso com a direção da FPMZB, administradora do cemitério. Pode ser um receptivo, por exemplo, para turistas que vêm ao cemitério, pois existe visita guiada”, explica a diretora de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura, Françoise Jean. As visitas guiadas ocorrem de fevereiro a novembro e o interessado deve enviar e-mail para agenda.visitasbonfim@pbh.gov.br a fim de marcar.
A diretora lembra que a Capela do Necrotério não foi concebida como capela, já que o Cemitério do Bonfim foi construído para ser laico, dentro do ideal republicano – em 12 dezembro, BH vai completar 122 anos, tendo sido inaugurada oito anos após a Proclamação da República (15/11/1889).
O projeto do Cemitério do Bonfim, inaugurado poucos meses antes da inauguração da capital, dentro dos novos critérios de higienização, pôs fim ao costume de sepultamentos serem realizados no entorno das igrejas. “Assim (no fim do século 19), a comissão construtora de BH escolheu um local bem longe da cidade”, informa Françoise Jean. Muito tempo depois é que o espaço foi usado como capela, embora há décadas esteja sem uso. Nos anos 1920, quando serviços de sepultamento foram oferecidos, o necrotério foi desativado.
Cúpula
Na visita sábado aos entes queridos sepultados, as pessoas não devem perder a oportunidade de caminhar em torno da Capela do Necrotério, que, no interior, traz um pequeno altar. Na porta principal, estão os sete degraus da escada e a portada de granito, indicando, segundo Adriano Ramos, que a entrada do cemitério era por outro lado do terreno. Na década de 1930, com a construção do portal principal, a entrada foi mudada e se manteve até a atualidade.
Em 2017, na primeira fase de restauro da Capela do Necrotério, custeada pela PBH com gerenciamento do Instituto Cultural Flávio Gutierrez (ICFG), o foco esteve na cúpula. Foram executados: recolocação e refixação das telhas de flandres, solda das rachaduras, furos e frestas na pira central, remoção dos rebites e colocação de parafusos, aplicação de tinta na cúpula, aplicação do grafite nas peças em ferro, limpeza da pedra, e vedação das infiltrações no piso da laje.
Adriano não esconde o orgulho por ter trabalhado, com sua equipe, na cúpula, tanto que, nas pesquisas, encontrou uma fotografia, com legenda em francês, da estrutura de ferro com 12 metros de diâmetro vinda da Bélgica e revestida de folha de flandres (liga de zinco e chumbo). “A construção foi ocorrendo ao longo do tempo. O revestimento, por exemplo, veio no início do século 20. Fico aqui pensando na dificuldade para o material chegar a Belo Horizonte”, diz Adriano.
Não tenha dúvida, leitor, de que os olhos vão se encantar com os ornamentos, a exemplo da pira, pesando 2 toneladas e localizada bem no topo da cúpula ou domo prateado. Portanto, não deixe de ver, no alto, de ferro fundido pintado de zarcão, os quatro querubins chorando e as oito ampulhetas com asas, significando que “o tempo voa”. Nas laterais, na base, há ainda quatro “fogos eternos” maiores (com pedestais) e dois pequenos, que levam à contemplação e a momentos de reflexão. No total, foram empregados R$ 450 mil, sendo R$ 300 mil da PBH, na primeira etapa (cúpula), e agora R$ 150 mil do MPMG.